Filósofos Modernos
Berkeley, George (1685-1753)
George Berkeley
– (1685-1753) nasceu em Kilkenny, Irlanda do Sul. Foi o primogênito de
seis filhos. Estudou em Dysert Castle. Aos onze anos estudou no colégio
da cidade natal, onde há poucos anos fora aluno Jonathan Swift, autor
do célebre livro As viagens de Gulliver. Aos quinze anos entrou no Trinity College de Dublin. Ali estudou matemática, filosofia e autores clássicos. Tornou-se fellow
do trinity College em 1707, e passou a lecionar hebraico, grego e
teologia. Nessa época escreveu anotações de observações que receberam o
título de Comentários Filosóficos, uma obra já importante, pois
estava delineado seu estilo. Berkeley é dono de um estilo engenhoso,
com grandes argumentações e coerente.
O texto contrapõe ingenuidade e esperteza, desprendimento e ganância, caridade e egoísmo, delicadeza e violência, amor e ódio. Tudo isso mesclado com discussões filosóficas sobre causas e efeitos, razão suficiente, ética.
Como sempre Voltaire expõe suas concepções com fina ironia, sem abandonar o sarcasmo de quando em vez. O romance, em todos e cada um dos seus parágrafos, caracteriza-se como uma sátira às idéias de Leibnitz.
Leibnitz afirmara, pelo menos assim entendeu Voltaire, que o mundo é o melhor possível, que Deus não poderia ter construído outro e que tudo corria às mil maravilhas.
Voltaire não podia partilhar dessa mesma visão otimista, suas idéias tinham resultado em prisões e perseguições a tal ponto que, por volta de 1753, já não podia fixar-se, sem risco, em lugar algum da Europa.
Cândido foi expulso de onde morava, foi preso e torturado, perdeu sua amada, seus melhores amigos; em todos os casos com requintes de crueldade. Mas a cada um desses fatos, meditava sobre como explicar o melhor dos mundos possíveis, sempre com deboche mais ou menos sutil.
Como é peculiar a todos os seus trabalhos,o filósofo também criticou acidamente os costumes, a cultura, as artes.
Sobre as relações entre sexos, uma passagem merece ser mencionada:
Em 1709 publicou em Dublin o Ensaio por uma nova teoria da visão, e no ano seguinte Tratado sobre os princípios do conhecimento. Ele começou a teorizar sua visão espiritualista do mundo cedo.
Em 1710, virou pastor anglicano. Em 1713 chega o livro Três diálogos entre Hylas e Philonous.Trata-se de diálogos entre um imaterialista e um materialista.
Conheceu
Jonathan Swift em Londres. Em 1714 foi à Paris e depois Itália. Realiza
outras viagens pela Europa. Publica uma obra contra Newton.
Como
achava a Europa já um tanto decadente, viajou para a América tentando
realizar um projeto seu: o de criar uma escola para evangelizar os
povos selvagens. Fica três anos à espera de recursos e volta para a
Inglaterra.
O Alcifrone é publicado em 1732. Em 1734 foi nomeado bispo. em 1752 , vai para Oxford, onde morre no ano seguinte.
Berkeley
se encontrava insatisfeito com o rumo que a filosofia moderna tomara.
Tratava-se de uma visão racionalista e materialista demais. Então ele
fez a crítica aos modernos e aos livre pensadores, defendendo o
imaterial da realidade. Ele partiu da filosofia de Locke, que comenta e
critica. É um empirista. Achava que não podemos conceber uma coisa do
nada.
Ser
é ser percebido, diz Berkeley. As únicas coisas com existência efetiva
são Deus e os espíritos humanos. Ele dizia que não devemos discutir
coisas das quais não temos idéias. As idéias são palavras com
significado. O conhecimento gira em torno das idéias. “Todas as idéias
vem de fora ou de dentro, as de dentro são pensamentos” . A percepção é
uma recepção passiva.
Berkeley no livro Sobre os princípios do conhecimento humano,
argumenta contra a existência das idéias abstratas (conceito de Locke).
Para ele, todas as idéias são simples, podemos compára-las e pegar o
que há de comum. Por exemplo, temos na mente a idéia de um determinado
triângulo, que pode se adequar a qualquer triângulo. Todas as idéias
derivam da percepção. Berkeley identifica a linguagem e o uso das
palavras como fonte desse erro, as idéias abstratas. A comunicação de
idéias não é o objetivo principal das idéias, mas as sensações o são,
como “exaltar uma paixão, dar ao espírito uma disposição particular.”
A
linguagem é fonte de muitas controvérsias. A comunicação sempre foi um
problema, para transpor impressões e pensamentos cuja fonte é a
percepção subjetiva do mundo objetivo, precisamos saltar sobre o abismo
que separa cada consciência.
Um
espírito é um ser simples e ativo que percebe idéias, criando o
entendimento e operando com elas através da vontade. Berkeley fala de
uma questão crucial da existência. As coisas estão em repouso, ou como
ele diz, excitadas. Podemos animar idéias no espírito e variá-las
conforme a vontade.
Mas,
independente da vontade, percebemos coisas. Elas dependem de um
espírito com força maior. Os dados dos sentidos tem mais força que os
dados da imaginação. “As regras segundo as quais o espírito excita
idéias em nós são as leis da natureza.”
O
Autor da natureza produziu nelas objetos. O homem pode fazer
representações , ter idéias. O homem nunca pode estar certo de ser seu
conhecimento real, pois como saber que é como ele percebe, fora do
espírito?
Só podemos conhecer os outros espíritos pelas idéia que eles excitam em nós.
Deus
é o mundo. Podemos sentir sua presença, a de um espírito que modela,
regula e conserva o mundo e os seres. Conhece a todos , vendo o bem e o
mal, lendo os pensamentos. O temor que se tem dele leva à virtude e
afasta o vício.
O Livro Tratado sobre o conhecimento humano tem
os seguintes pontos principais: crítica da idéia abstrata e de algumas
coisas que vão contra o senso comum. Defesa da imaterialidade, contra
substância. Análise da filosofia e matemática. existência de Deus.
Porque certas ciências caíram no erro. Ele argumenta contra vários
pontos que discorda, e ao mesmo tempo responde contra possíveis
objeções à sua doutrina.
A
percepção é um conjunto de sensações. Como só há idéias simples,
devemos nos concentrar nas sensações. As idéias secundárias só existem
na mente, bem como tempo e extensão. Não tem existência objetiva. Para
o homem, não há nada fora da mente. as coisas são modos de existência
das pessoas. O mundo está ligado ao pensamento. Nós temos idéias dentro
das quais vemos as coisas. O homem não percebe a coisa em si, a
essência, aquilo que ele percebe são apenas as idéias.
Berkeley
nega o significado filosófico de substância, pois diz que ele não
existe. Berkeley associa à substância a solidez e a massa. Portanto a
essência não é a substância, como em outros autores modernos.
A
matéria é uma ilusão, como as abstrações. Usamos as idéias, mas elas
também não são a essência. Berkeley fala que percebemos de forma
intuitiva. O mundo é uma representação, conteúdo da nossa consciência
subjetiva. as pessoas existem, mas são imateriais e ativas. Portanto
uma forma psíquica pode ser aplicada à substância. Berkeley não nega a
existência do mundo objetivo, diz que as percepções não são produzidas
por nós. Ele questiona o nosso conceito de realidade. Só podemos ter a
percepção, como o mundo parece para nós percebido pelos sentidos.
Portanto a percepção é para si, não em si.
É
tudo uma questão de ponto de vista. Berkeley questiona a visão de
distância da ótica geométrica e recorda que a distância não parece
igual para todos. O que torna as coisas sólidas, fixas, materiais é o
hábito, o exercício da percepção no mundo. E a percepção constrói as
coisas, pois associa as sugestões dos dados do mundo. Berkeley fala que
a noção de substância material (tão cara à física newtoniana) é
contraditória, desprovida de sentido. Diz Berkeley que toda as
impressões dos sentidos não podem existir sem uma mente que a perceba.
Quando fecho o olho, a coisa desaparece, quando reabro ela se constróe
de novo. A aparente falha desse argumento não leva em conta sua
afirmação na dinâmica do mundo, que existe e é factual conforme cada um
pode confirmar. Deus recria o mundo a cada instante, diz Berkeley,
citando uma noção teológica comum à sua época, que Spinoza
desenvolvera. E para ter criado as idéias que existem no mundo, Deus
tem de ser benevolente. Pois a coerência do mundo garante a preservação
do mundo, e para isso acontecer, a bondade tem que existir. Nós nos
movemos e existimos em Deus.
A
ciência natural deverá descrever somente os fenômenos intuitivos. As
conclusões e concepções em que chegaram a ciência racionalista não
devem levar a uma concepção unilateral do mundo e da cultura.
Giovanni
Reale e Dario Antiseri dizem que Berkeley é nominalista e
fenomenalista. No nominalismo, a concepção de idéias abstratas são
miragens e as idéias gerais são apenas nomes. No fenomelogismo, os
objetos físicos são feixes de qualidade fenomênicas. Ele também dizem
que a filosofia de Berkeley é precursora das conclusões do físico Ernst
Mach.
Karl
Popper diz que Berkeley e instrumentalista. Isso quer dizer que ele
considera as teorias científicas como hipóteses matemáticas que só
devem ser vistas para especular sobre as aparências. Diz Popper sobre a
filosofia de Berkeley : Não há nada de físico que esteja atrás dos
corpos físicos. Tudo é superfície. O modo no qual aparecem é sua
realidade.
Descartes, René (1596-1650)
René Descartes (La Haye en Touraine, 31 de março de 1596 — Estocolmo, 11 de fevereiro de 1650[1]) foi um filósofo, físico ematemático francês[1]. Durante a Idade Moderna também era conhecido por seu nome latino Renatus Cartesius.
Notabilizou-se sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimentomatemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadasque hoje leva o seu nome. Por fim, ele foi uma das figuras-chave na Revolução Científica.
Descartes,
por vezes chamado de "o fundador da filosofia moderna" e o "pai da
matemática moderna", é considerado um dos pensadores mais importantes e
influentes da História do Pensamento Ocidental. Inspirou contemporâneos
e várias gerações de filósofos posteriores; boa parte da filosofia
escrita a partir de então foi uma reação às suas obras ou a autores
supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas afirmam que a
partir de Descartes inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna.
Décadas mais tarde, surgiria nas Ilhas Britânicas um movimento
filosófico que, de certa forma, seria o seu oposto - oempirismo, com
John Locke e David Hume.
Vida
René Descartes nasceu no ano de 1596 em La Haye[2], a cerca de 300 quilómetros de Paris[1] (hoje Descartes), nodepartamento francês de Indre-et-Loire. A sua mãe, Jeanne Brochard, morreu quando ele tinha um ano[1]. Com oito anos, ingressou no colégio jesuíta[2] Royal Henry-Le-Grand,
em La Flèche. O curso em La Flèche durava três anos, tendo Descartes
sido aluno do Padre Estevão de Noel, que lia Pedro da Fonseca nas aulas
de Lógica, a par dos Commentarii. Descartes reconheceu que lá havia certa liberdade, no entanto no seu Discurso sobre o método
declara a sua decepção não com o ensino da escola em si mas com a
tradição Escolástica, cujos conteúdos considerava confusos, obscuros e
nada práticos. Em carta a Mersenne, diz que "os Conimbres são
longos, sendo bom que fossem mais breves. Crítica, aliás, já então
corrente, mesmo nas escolas da Companhia de Jesus". Descartes esteve em
La Flèche por cerca de nove anos (1606-1615).[3] "Descartes não mereceu, como se sabe, a plena admiração dos escolares jesuítas, que o consideravam deficiente filósofo".[4] Prosseguiu depois seus estudos graduando-se em Direito, em 1616, pela Universidade de Poitiers.
No entanto, Descartes nunca exerceu Direito, e em 1618 foi para a Holanda alistou-se no exército do Príncipe Maurício de Nassau[1], com a intenção de seguir carreira militar[1].
Mas se achava menos um ator do que um espectador: antes ouvinte numa
escola de guerra do que verdadeiro militar. Conheceu então Isaac
Beeckman, que o influenciou fortemente e compôs um pequeno tratado
sobre música intitulado Compendium Musicae (Compêndio de Música).
Também é dessa época (1619-1620) o Larvatus prodeo (Ut
comœdi, moniti ne in fronte appareat pudor, personam induunt, sic ego
hoc mundi teatrum conscensurus, in quo hactenus spectator exstiti,
larvatus prodeo.[5] Esta declaração do jovem Descartes no preâmbulo das Cogitationes Privatae
(1619) é interpretada como uma confissão que introduz o tema da
dissimulação, e, segundo alguns, marca uma estratégia de separação
entre filosofia e teologia. Jean-Luc Marion, em seu artigo Larvatus pro Deo : Phénoménologie et théologie refere-se à abordagem dionisíaca do homem escondido diante de deus (larvatus pro Deo) como justificativa teológica do filósofo que avança mascarado (larvatus prodeo).
Em 1619, viaja até a Alemanha[1], onde, segundo a tradição, no dia 10 de Novembro, teve uma visão em sonho de um novo sistema matemático e científico[1]. No mesmo ano ele viaja para a Dinamarca e à Polónia[1]. Em 1622, ele retorna à França passando os anos seguintes em Paris[1].
Em 1628 compõe as Regulae ad directionem ingenii (Regras para a Direção do Espírito)[1] e parte para os Países Baixos, onde viverá até 1649[1]. Em 1629, começa a redigir oTratado do Mundo, uma obra de Física na qual aborda a sua tese sobre o heliocentrismo[1]. Porém, em 1633, quando Galileu é condenado pela Inquisição, Descartes abandona seus planos de publicá-lo[1]. Em 1635 nasce Francine[1], filha de uma serviçal. A criança é batizada no dia 7 de Agosto de 1635 mas morre precocemente em 1640[1], o que foi um grande baque para Descartes.
Em 1637, publica três pequenos tratados científicos: A Dióptrica, Os Meteoros e A Geometria[1], mas o prefácio dessas obras é que faz seu futuro reconhecimento: o Discurso sobre o método.
Em 1641, aparece sua obra filosófica e metafísica mais imponente: as Meditações Sobre a Filosofia Primeira, com os primeiros seis conjuntos de Objeções e Respostas.
Os autores das objeções são: do primeiro conjunto, o teólogo holandês
Johan de Kater; do segundo, Mersenne; do terceiro, Thomas Hobbes; do
quarto, Arnauld; do quinto, Gassendi; e do sexto conjunto, Mersenne.
Em 1642, a segunda edição das Meditações incluía uma sétima objeção, feita pelo jesuíta Pierre Bourdin, seguida de uma Carta a Dinet.
Em 1643, o cartesianismo é condenado pela Universidade de Utrecht[1].
Descartes inicia a sua longa correspondência com a Princesa Isabel
(1618 – 1680), filha mais velha deFrederico V e de Isabel da Boémia. A
correspondência deverá durar sete anos, até a morte do filósofo, em 1650[1].
Também no ano de 1643, Descartes publica Os Princípios da Filosofia[1],
onde resume seus princípios filosóficos que formariam "ciência". Em
1644, faz uma visita rápida a Françaonde encontra Chanut, o embaixador
francês junto à corte sueca, que o põe em contato com a rainha Cristina
da Suécia. Nesta ocasião, Descartes teria declarado que o Universo é
totalmente preenchido por um "éter" onipresente. Assim, a rotação do
Sol, através do éter, criaria ondas ou redemoinhos, explicando o
movimento dos planetas, tal qual uma batedeira. O éter também seria o
meio pelo qual a luz se propaga, atravessando-o pelo espaço, desde o
Sol até nós.
Em 1647 Descartes é premiado pelo Rei da França com uma pensão e começa a trabalhar na Descrição do Corpo Humano. Entrevista Frans Burman em Egmond-Binnen (1648), resultando na Conversa com Burman. Em 1649, vai à Suécia, a convite da Rainha Cristina[1]. Seu Tratado das Paixões, que ele dedicou a sua amiga Isabel da Boêmia, fora publicado.
René Descartes morreu de pneumonia no dia 11 de Fevereiro de 1650, em Estocolmo, depois de dez dias doentes[1],
onde estava trabalhando como professor a convite da Rainha. Acostumado
a trabalhar na cama até meio-dia, há de ter sofrido com as demandas da
Rainha Christina, cujos estudos começavam às 5 da manhã. Como um
católico num paísprotestante, ele foi enterrado num cemitério de
crianças não batizadas, na Adolf Fredrikskyrkan, em Estocolmo.
Em
1667, os restos de Descartes foram repatriados para a França e
enterrados na Abadia de Sainte-Geneviève de Paris. Um memorial
construído no século XVIII permanece na igreja sueca.
No mesmo ano a Igreja Católica coloca os seus livros na lista proibida[1].
Embora
a Convenção, em 1792, tenha projetado a transferência do seu túmulo
para o Panthéon, ao lado de outras grandes figuras da França, desde
1819, seu túmulo está na Igreja de Saint-Germain-des-Prés, em Paris.[6]
A vila no vale do Loire onde ele nasceu foi renomeada La Haye-Descartes e, posteriormente, já no final do século XX, Descartes.
Pensamento
O
pensamento de Descartes é revolucionário para uma sociedade feudalista
em que ele nasceu, onde a influência da Igreja ainda era muito forte e
quando ainda não existia uma tradição de "produção de conhecimento".
Aristóteles tinha deixado um legado intelectual que o clero se
encarregava de disseminar.
Foi
um dos precursores do movimento, considerado o pai do racionalismo, e
defendeu a tese de que a dúvida era o primeiro passo para se chegar ao
conhecimento.
Descartes
viveu numa época marcada pelas guerras religiosas entre Protestantes e
Católicos na Europa - a Guerra dos Trinta Anos. Viajou muito e viu que
sociedades diferentes têm crenças diferentes, mesmo contraditórias.
Aquilo que numa região é tido por verdadeiro, é considerado ridículo,
disparatado e falso em outros lugares.
Descartes
viu que os "costumes", a história de um povo, sua tradição "cultural"
influenciam a forma como as pessoas pensam naquilo em que acreditam.
O primeiro pensador moderno
Descartes é considerado o primeiro filósofo moderno [7],
. A sua contribuição à epistemologia é essencial, assim como às
ciências naturais por ter estabelecido um método que ajudou no seu
desenvolvimento. Descartes criou, em suas obras Discurso sobre o método e Meditações
- a primeira escrita em francês, a segunda escrita em latim, língua
tradicionalmente utilizada nos textos eruditos de sua época - as bases
da ciência contemporânea.
O
método cartesiano consiste no Ceticismo Metodológico - que nada tem a
ver com a atitude cética: duvida-se de cada ideia que não seja clara e
distinta. Ao contrário dos gregos antigos e dos escolásticos, que
acreditavam que as coisas existem simplesmente porque precisam
existir, ou porque assim deve ser etc., Descartes instituiu a dúvida:
só se pode dizer que existe aquilo que puder ser provado, sendo o ato
de duvidar indubitável. Baseado nisso, Descartes busca provar a
existência do próprio eu (que duvida, portanto, é sujeito de algo - ego cogito ergo sum- eu que penso, logo existo) e de Deus.
Também consiste o método de quatro regras básicas:
§ verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada;
§ analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas, em suas unidades mais simples e estudar essas coisas mais simples;
§ sintetizar, ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro;
§ enumerar todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento.
Em
relação à Ciência, Descartes desenvolveu uma filosofia que influenciou
muitos, até ser superada pela metodologia de Newton. Ele sustentava,
por exemplo, que o universo era pleno e não poderia haver vácuo.
Acreditava que a matéria não possuía qualidades secundárias inerentes,
mas apenas qualidades primarias de extensão e movimento.
Ele dividia a realidade em res cogitans (consciência, mente) e res extensa
(matéria). Acreditava também que Deus criou o universo como um perfeito
mecanismo de moção vertical e que funcionava deterministicamente sem
intervenção desde então.
Matemáticos
consideram Descartes muito importante por sua descoberta da geometria
analítica. Até Descartes, a geometria e a álgebra apareciam como ramos
completamente separados da Matemática. Descartes mostrou como traduzir
problemas de geometria para a álgebra, abordando esses problemas
através de um sistema de coordenadas.
A
teoria de Descartes forneceu a base para o Cálculo de Newton e Leibniz,
e então, para muito da matemática moderna. Isso parece ainda mais
incrível tendo em mente que esse trabalho foi intencionado apenas como
um exemplo no seu Discurso Sobre o Método.
Geometria
O
interesse de Descartes pela matemática surgiu cedo, no “College de la
Flèche”, escola do mais alto padrão, dirigida por jesuítas, na qual
ingressara aos oito anos de idade. Mas por uma razão muito especial e
que já revelava seus pendores filosóficos: a certeza que as
demonstrações ou justificativas matemáticas proporcionam. Aos vinte e
um anos de idade, depois de frequentar rodas matemáticas em Paris (além
de outras), já graduado em Direito, ingressa voluntariamente na
carreira das armas, uma das poucas opções “dignas” que se ofereciam a
um jovem como ele, oriundo da nobreza menor da França. Durante os quase
nove anos que serviu em vários exércitos, não se sabe de nenhuma proeza
militar realizada por Descartes.
A geometria analítica de Descartes apareceu em 1637 no pequeno texto chamado Geometria,
como um dos três apêndices do Discurso do Método, obra considerada o
marco inicial da filosofia moderna. Nela, em resumo, Descartes defende
o método matemático como modelo para a aquisição de conhecimentos em
todos os campos.
Obras importantes
§ Regras para a direção do espírito (1628) - obra da juventude inacabada na qual o método aparece em forma de numerosas regras;
§ O Mundo ou Tratado da Luz
(1632-1633) - obra contém algumas das conquistas definitivas da física
clássica: a lei da inércia, a da refração da luz e, principalmente, as
bases epistemológicas contrárias ao que seria denominado de princípio
da ciência escolástica, radicada no aristotelismo;
§ Discurso sobre o método (1637);
§ Geometria (1637);
§ Meditações Metafísicas (1641).
Hobbes, Thomas (1588-1679)
-
Thomas Hobbes (Malmesbury, 5 de abril de 1588 — Hardwick Hall, 4 de dezembro de 1679) foi um matemático, teórico político, e filósofo inglês, autor de Leviatã (1651) e Do cidadão (1651).Na obra Leviatã, explanou os seus pontos de vista sobre a natureza humana e sobre a necessidade de governos e sociedades. No estado natural, enquanto que alguns homens possam ser mais fortes ou mais inteligentes do que outros, nenhum se ergue tão acima dos demais por forma a estar além do medo de que outro homem lhe possa fazer mal. Por isso, cada um de nós tem direito a tudo, e uma vez que todas as coisas são escassas, existe uma constante guerra de todos contra todos (Bellum omnia omnes). No entanto, os homens têm um desejo, que é também em interesse próprio, de acabar com a guerra, e por isso formam sociedades entrando num contrato social.De acordo com Hobbes, tal sociedade necessita de uma autoridade à qual todos os membros devem render o suficiente da sua liberdade natural, por forma a que a autoridade possa assegurar a paz interna e a defesa comum. Este soberano, quer seja um monarca ou uma assembleia (que pode até mesmo ser composta de todos, caso em que seria uma democracia), deveria ser oLeviatã, uma autoridade inquestionável. A teoria política do Leviatã mantém no essencial as ideias de suas duas obras anteriores, Os elementos da lei e Do cidadão (em que tratou a questão das relações entre Igreja e Estado).Thomas Hobbes defendia a ideia segundo a qual os homens só podem viver em paz se concordarem em submeter-se a um poder absoluto e centralizado. Para ele, a Igreja cristã e o Estado cristão formavam um mesmo corpo, encabeçado pelo monarca, que teria o direito de interpretar as Escrituras, decidir questões religiosas e presidir o culto. Neste sentido, critica a livre-interpretação da Bíblia na Reforma Protestante por, de certa forma, enfraquecer o moada pelo estudioso Richard Tuckcomo uma resposta para os problemas que o método cartesiano introduziu para a filosofia moral. Hobbes argumenta que só podemos conhecer algo do mundo exterior a partir das impressões sensoriais que temos dele("Só existe o que meus sentidos percebem") Esta filosofia é vista como uma tentativa para embasar uma teoria coerente de uma formação social puramente no fato das impressões por si, a partir da tese de que as impressões sensoriais são suficientes para o homem agir em sentido de preservar sua própria vida, e construir toda sua filosofia política a partir desse imperativo.Hobbes ainda escreveu muitos outros livros falando sobre filosofia política e outros assuntos, oferecendo uma descrição da natureza humana como cooperação em interesse próprio. Foi contemporâneo de Descartes e escreveu uma das respostas para a obra Meditações sobre filosofia primeira, deste último.
Contexto
Nascido em 1588 na Inglaterra dos Tudors, Thomas Hobbes foi influenciado pela reforma anglicana que ocorrera cinco décadas antes. A cisão com a Igreja Católica fez com que a Espanha interviesse nos assuntos ingleses enviando a Invencível Armada(“Grande y Felicíssima Armada”) fato que mais tarde seria relatado por Hobbes em sua autobiografia e terá grandes influências sobre sua obra. O século XVII foi de grande importância para a Inglaterra pois marca o começo do expansionismo colonialista ultramarino inglês, com a fundação de Jamestown, a primeira colônia inglesa nas Américas, em 1607. É também no século XVII que são lançadas as bases do capitalismo industrial na Inglaterra com a Revolução Gloriosa já na década de 80 do século XVII. É durante esse período que a Marinha Inglesa irá se consolidar como a maior e mais bem equipada marinha do mundo, só perdendo a posição para os EUA no pós-2ª Guerra Mundial. A poderosa marinha irá contribuir para o acúmulo de capitais que irá financiar o expansionismo colonial e, mais tarde, industrial inglês.O século XVII na Europa continental é o marco do absolutismo monárquico, tendo seu expoente máximo o Luis XIV, o Rei Sol que ficou famoso pela frase “L’État c’est moi", influência da Contra-reforma (representado na Inglaterra pela revolução anglicana). A filosofia do barroco se baseava no dualismo existente entre o hedonismo e o medo do pecado ou fervor religioso – enquanto que a busca pelo essencialmente humano já havia começado no Renascimento; havia o receio do divino sobrenatural que poderia punir o terreno e transitório.Quando Hobbes tinha 30 anos e já havia visitado a Europa continental pela primeira vez, uma revolta na Boêmia daria início à Guerra dos Trinta Anos, fato que irá reforçar para Hobbes a sua própria visão pessimista acerca da natureza humana destrutiva. Apenas 12 anos após o início da guerra no continente europeu, disputas políticas entre o Parlamento e o Rei inglês dão início a uma guerra civilna Inglaterra que perdurará por 10 anos.Biografia
Como Hobbes alegou em sua autobiografia, "ao nascer sua mãe teria dado a luz a gêmeos: Hobbes e o medo", já que a mãe de Hobbes havia entrado em trabalho de parto prematuro com medo da Armada Espanhola (a Invencível Armada) que estava prestes a atacar a Inglaterra. Embora o tema do medo e do seu poder avassalador fossem aparecer mais tarde em suas obras, os primeiros anos de vida de Hobbes foram em grande parte livres da ansiedade. Seu pai era o vigário de Charlton e Westport, cidades próximas de Malmesbury, mas uma disputa com outro vigário, o levou a se mudar para Londres. Como resultado, aos sete anos de idade, Thomas Hobbes, ficou sob a tutela de seu tio Francisco. Hobbes fez seus primeiros estudos em Malmesbury e mais tarde em Westport, onde exibiu seus dotes intelectuais em estudos clássicos. Aos quatorze anos, em 1603, seu tio Francisco financiou os seus estudos, entrando na Magdalen Hall, Oxford, onde predominava o ensino da escolástica de inspiração aristotélica, mas a que Hobbes não demonstrou grande interesse.Em 1610 ele empreendeu uma viagem à Europa, acompanhando William Cavendish, indo para França, Itália e Alemanha. Pode observar em primeira mão a pouca apreciação da escolástica na época - que já estava em claro declínio. As muitas tentativas de abrir portas para desenvolvimento de outros conhecimentos fez com que ele decidisse retornar à Inglaterra para aprofundar o estudo dos clássicos. Nesse período, já de volta à Inglaterra, suas relações com Francis Bacon irão reforçar a linha de seu próprio pensamento, bem fora do aristotelismo e da escolástica.Em 1631 a família de nobres ingleses Cavendish novamente pede seus serviços como guardião do terceiro Duque de Devonshire, e Hobbes irá ocupar este cargo até 1642. Durante este período, faz outra viagem ao continente, lá permanecendo de 1634 a 1637. Na França, entra em contato com o círculo intelectual do Padre Mersenne, mentor de Descartes - com quem estabeleceu uma forte amizade. Em geral, Hobbes era a favor da explicação mecanicista do universo (que predominava na época), em oposição à teleológica defendida por Aristóteles e a escolástica. Também teve a oportunidade de conhecer Galileu, durante uma viagem à Itália em 1636 (6 anos antes de Galileu morrer), sob cuja influência Hobbes desenvolveu a sua filosofia social, baseando-se nos princípios da geometria e ciências naturais.Em 1640, quando a possibilidade de uma guerra civil na Inglaterra já era clara, Hobbes, temendo por sua vida por ser um conhecido defensor da monarquia, viaja de volta para Paris, onde, mais uma vez, foi recebido pelo círculo de intelectuais francês.Em 1646, ainda em Paris, vira professor de matemática do Príncipe de Gales, o futuro Carlos II, que também se encontrava exilado em Paris devido a Guerra Civil Inglesa. Em 1651, dois anos após a decapitação do rei Carlos I, Hobbes decide voltar para a Inglaterra com o fim da Guerra Civil e o começo da “Ditadura de Cromwell”. Neste ano também publica“Leviatã”, que provoca o início de sua disputa com John Bramall, bispo de Derry, o principal acusador de Hobbes como sendo um “materialista ateu”.A publicação do “De Corpore”, em 1665, irá resultar em uma polêmica com os principais membros da Royal Society, que criticaram suas contribuições para a matemática bem como as posições ateístas defendidas por Hobbes. Na Inglaterra, o "anti-Hobbismo" atingiu um pico em 1666 quando seus livros foram queimados na sua alma mater, Oxford.Hobbes manteve-se um escritor extremamente produtivo na velhice, mesmo sendo prejudicado pela oposição generalizada de seu trabalho. Viveu até os 91 anos durante uma época em que a expectativa média de vida não era muito mais do que quarenta anos. Aos 80 anos Hobbes produziu novas traduções para o inglês, tanto da Ilíada e da Odisseia e escreveu, em 1672, uma autobiografia em latim. Apesar da polêmica que causou, ele foi uma espécie de símbolo na Inglaterra até o final de sua vida. Seu ponto de vista pode ser considerado abominável ou atraente; suas teorias brilhantemente articuladas são lidas por pessoas de todos os espectros políticos.Encontra-se sepultado na Igreja São João Batista, Ault Hucknall, Derbyshire na Inglaterra.Hume, David (1711-1776) -
David Hume (Edimburgo, 7 de Maio de 1711 — Edimburgo, 25 de Agosto de 1776) foi um filósofo, historiador e ensaístaescocês que se tornou célebre por seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico. Ao lado de John Locke e George Berkeley, Hume compõe a famosa tríade do empirismo britânico, sendo considerado um dos mais importantes pensadores do chamadoiluminismo escocês e da própria filosofia ocidental.Hume opôs-se particularmente a Descartes e às filosofias que consideravam o espírito humano desde um ponto de vistateológico-metafísico. Assim Hume abriu caminho à aplicação do método experimental aos fenômenos mentais.[2] Sua importância no desenvolvimento do pensamento contemporâneo é considerável. Teve profunda influência sobre Kant, sobre afilosofia analítica do início do século XX e sobre a fenomenologia.O estudo da sua obra tem oscilado entre aqueles que colocam ênfase no lado cepticista (tais como Reid, Greene, e ospositivistas lógicos) e aqueles que enfatizam o lado naturalista (como Kemp Smith, Stroud, e Galen Strawson). Por muito tempo apenas se destacou em seu pensamento o ceticismo destrutivo. Somente no fim do século XX os comentadores se empenharam em mostrar o caráter positivo e construtivo do seu projeto filosófico.[3]Hume foi um leitor voraz. Entre suas fontes, incluem-se tanto a Filosofia antiga como o pensamento científico de sua época, ilustrado pela física e pela filosofia empirista. Fortemente influenciado por Locke e Berkeley mas também por vários filósofos franceses, como Pierre Bayle e Nicolas Malebranche, e diversas figuras dos círculos intelectuais ingleses, como Samuel Clarke,Francis Hutcheson (seu professor) e Joseph Butler (a quem ele enviou seu primeiro trabalho para apreciação),[4] é entretanto a Newton que Hume deve seu método de análise, conforme assinalado no subtítulo do Tratado da Natureza Humana - Uma Tentativa de Introduzir o Método Experimental de Raciocínio nos Assuntos Morais.Seguindo atentamente os acontecimentos nas colónias americanas, tomou partido pela independência americana. Em 1775, ele disse a Benjamin Franklin: "eu sou um americano nos meus princípios".
Biografia
David Hume nasceu em Edimburgo, na Escócia. A data de seu nascimento às vezes gera certa confusão, pois a Grã-Bretanha só adotou o calendário gregoriano em 1752. Desse modo, segundo o calendário vigente à época do seu nascimento – o calendário juliano – David Hume nasceu em 26 de abril de 1711, mas, segundo o novo calendário (o gregoriano, vigente nos países ocidentais até os dias de hoje) a data era 7 de maio de 1711. David Hume foi filho de Joseph Home de Chirnside, advogado, e de Katherine Falconer. Quando contava apenas dois anos, seu pai faleceu, deixando o pequeno David Hume, seu irmão mais velho e sua irmã sob os cuidados exclusivos de sua mãe, “uma mulher de mérito singular, que, apesar de jovem e bonita, dedicou-se ao cuidado e à criação de seus filhos.”[5]Como revelava certa precocidade intelectual, Hume foi enviado para a Universidade de Edimburgo antes dos doze anos de idade.[6] A família de Hume tinha expectativas de que o jovem seguisse a carreira jurídica, mas, em suas próprias palavras, ele mesmo sentia "aversão intransponível a tudo, exceto ao caminho da filosofia e do conhecimento em geral; e enquanto [minha família] achava que eu estava a perscrutar Voet e Vinnius, Cícero e Virgílio eram os autores que secretamente devorava".[5] Seguindo seus próprios interesses, Hume dedicou-se à leitura de obras literárias, filosóficas e históricas, bem como ao estudo de matemática e ciências naturais. Aos dezoito anos, após um intenso programa de estudo autoimposto, pareceu-lhe que se descortinava um “Novo Cenário de Pensamento”.[7] Hume nunca explicou o que seria esse “Novo Cenário”, e os comentadores têm oferecido diversas interpretações.[8] De qualquer modo, essa inspiração fez com que o jovem estudante redobrasse sua dedicação aos estudos, e o excessivo esforço intelectual levou-o às raias de um colapso mental.Após esse episódio de fadiga nervosa, Hume decidiu procurar um estilo de vida mais ativo no mundo do comércio, e empregou-se numa companhia importadora de açúcar em Bristol. É por essa época que altera a grafia de seu nome, de "Home" para "Hume", devido à dificuldade dos ingleses de pronunciá-lo à maneira escocesa.[9] A experiência no ramo do comércio não durou muito, e, em 1734, buscando a tranquilidade e o isolamento que julgava necessários para prosseguir em suas investigações, parte para a França e se estabelece em La Flèche, uma pequena cidade francesa mais conhecida por abrigar um famoso colégio jesuíta. Aí Hume continua a desbravar o "Novo Cenário", apesar das limitações financeiras: "Resolvi compensar a carência de recursos com uma frugalidade bastante rígida, a fim de manter incólume a minha independência, e considerar todos os objetos desprezíveis, exceto os avanços de meus talentos na literatura."[5] Durante esse período na França, Hume aprofunda seus conhecimentos sobre a filosofia francesa, especialmente sobre a obra de Malebranche, Dubos e Bayle, e entre 1734 e 1737 escreve grande parte de sua obra-prima, o Tratado da Natureza Humana.[6]Em 1737, Hume retorna à Inglaterra e trabalha diligentemente para publicar o seu livro. Em 1739, consegue publicar os dois primeiros volumes de seu Tratado, e em 1740 é publicado o terceiro e último volume. Apesar de ser hoje considerado a sua principal obra e um dos livros mais importantes da história da filosofia, o Tratado não causou impressão à época de sua publicação. Hume tinha esperado um ataque às ideias apresentadas no livro e preparava uma defesa apaixonada. Para sua surpresa, a publicação do livro passou quase despercebida; e, recordando a indiferença do público, Hume escreveu que "nenhuma tentativa literária foi mais desafortunada que meuTratado da Natureza Humana", na verdade, "saiu da gráfica natimorto, sem alcançar sequer a distinção de estimular os murmúrios dos fanáticos".[5] Diante da reclamação de que o livro era "abstrato e ininteligível",[10] Hume recorreu ao artifício, ainda em 1740, de publicar uma sinopse anônima, na qual apresentava de forma mais clara e direta algumas das ideias fundamentais do Tratado. No entanto, embora já permitisse antever os elegantes argumentos da Investigação sobre o Entendimento Humano,[6] a sinopse de pouco serviu para mudar a consideração geral em relação ao Tratado.Em 1742, é publicada em Edimburgo a primeira parte de seus Ensaios, que mereceram considerável atenção do público e, segundo o próprio Hume, fizeram-no esquecer a decepção provocada pelo Tratado.[5] Em 1744, concorre à cátedra de Filosofia Pneumática e Moral[11] da Universidade de Edimburgo, mas sua candidatura enfrenta forte oposição devido à sua fama de ateísta e acaba por ser rejeitada.Depois dessa conturbada candidatura a um posto acadêmico e de uma experiência infeliz como tutor de um jovem inglês, de linhagem nobre e mente desajustada, Hume é convidado pelo general James St. Clair a ser seu secretário numa expedição militar. Inicialmente a expedição tinha como alvo o Canadá, mas terminou por realizar uma incursão à costa da França.[5] Hume também acompanhou o general St. Clair em missões diplomáticas a Viena e Turim. Tendo retornado da Itália, Hume muda-se para a propriedade rural de sua família em 1749, e aí permanece por dois anos. Em 1751, vai morar na cidade, "o verdadeiro cenário de um homem de letras",[5] e faz uma nova tentativa de obter um cargo acadêmico: a cátedra de Lógica da Universidade de Glasgow. Mas, novamente, sua candidatura é rejeitada.Convencido de que o problema do Tratado era mais uma questão de forma que de conteúdo, ele resumiu o Livro I do Tratado (“Sobre o Entendimento”), dando-lhe um estilo mais ágil e acessível. Desse trabalho surgiu a Investigação sobre o Entendimento Humano, que, embora tenha encontrado receptividade maior que a do livro que lhe deu origem, esteve longe de ser um sucesso de vendas. A mesma recepção fria teve uma nova edição dos Ensaios. A falta de reconhecimento, porém, não prejudicou o seu trabalho literário. Hume escreveu a segunda parte de seus Ensaios e, tal como havia feito anteriormente, reescreveu aquelas partes do Tratado relacionadas a questões morais. Esses novos textos sobre moral vieram a público com o título de Investigação sobre os Princípios da Moral – livro que na opinião do próprio Hume era, de todos os seus escritos, “históricos, filosóficos ou literários, incomparavelmente o melhor.”[5]Em 1752, Hume é convidado a dirigir a biblioteca da Faculdade dos Advogados de Edimburgo. Embora fosse escassamente remunerada, a função colocava à disposição de Hume as fontes bibliográficas para um novo projeto: a elaboração da História da Inglaterra. Essa obra historiográfica monumental foi publicada em seis volumes, nos anos de 1754, 1756, 1759 e1762. Esse esforço de uma década foi recompensado. Os volumes da História da Inglaterra valeram ao seu autor a tão almejada celebridade literária e, além disso, proporcionaram-lhe bons retornos pecuniários.[6]Mas Hume não ficou livre dos ataques de seus adversários. Em 1754, ele foi acusado de encomendar “livros indecentes” para a biblioteca, e houve uma movimentação para destituí-lo do cargo. Diante das pressões, os membros do conselho diretor cancelaram as encomendas dos livros considerados ofensivos – decisão que Hume tomou como uma ofensa pessoal. Como precisava do acervo da biblioteca para prosseguir as suas pesquisas para a História da Inglaterra, ele adiou seu pedido de demissão, mas reverteu os pagamentos de seu salário em benefício de Thomas Blacklock – poeta cego que decidira ajudar. Antes de pedir sua demissão em 1757, Hume ainda foi alvo de um processo malsucedido deexcomunhão em 1756.[6]Foi também durante o período em que exerceu a função de bibliotecário que Hume escreveu as suas duas grandes obras sobre religião: a História Natural da Religião e os Diálogos sobre Religião Natural. A primeira veio a público em 1757 como parte das Quatro Dissertações. O projeto original, no entanto, previa cinco dissertações: além da História Natural da Religião, o livro também incluiria os ensaios "Sobre as Paixões", "Sobre a Tragédia", "Sobre o Suicídio" e "Sobre a Imortalidade da Alma". Esses dois últimos ensaios eram investidas frontais contra os dogmas religiosos, pois criticavam a condenação ao suicídio e a crença na vida após a morte.[12] Antes que fossem publicados, o editor de Hume, Andrew Millar, recebeu ameaças de ser judicialmente processado caso os textos fossem distribuídos.[6] Diante disso, Hume fez alterações na História e substituiu os dois últimos textos pelo ensaio "Sobre o Padrão de Gosto". Os Diálogos, por sua vez, só foram publicados em 1779, três anos após a morte de Hume.[12]Em 1763, Hume aceita o convite feito pelo embaixador inglês na França, Lorde Hertford, para trabalhar como seu secretário em Paris. Por dois anos, além de auxiliar nos trabalhos diplomáticos, Hume trava conhecimento com grandes nomes da intelectualidade parisiense, como Diderot, D'Alembert, e d'Holbach. Ao retornar para a Inglaterra, Hume toma providências e estabelece contatos para ajudar Rousseau a se estabelecer em solo britânico, uma vez que esse último tornara-se vítima de uma nova perseguição por parte das autoridades suíças. No entanto, os laços de amizade entre os dois filósofos romperam-se dramaticamente pouco tempo depois. Levado pela paranoia e mania de perseguição, Rousseau acusou Hume de estar liderando uma conspiração para difamá-lo e arruiná-lo.[6]Em 1767, a convite do General Conway, irmão de Lord Hertford, Hume assumiu em Londres o cargo de subsecretário para o Departamento do Norte. Exerceu essa função por cerca de dois anos, e retornou para Edimburgo em 1769 – dessa vez definitivamente. Passou os últimos anos de sua vida revisando os seus escritos e desfrutando a convivência de amigos e intelectuais de Edimburgo.[12]Na primavera de 1775, foi acometido por uma doença intestinal que "a princípio", segundo seu testemunho, "não causou alarme, mas que se tornou (…) mortal e incurável."[5] Durante o período em que esteve doente, Hume recebeu a visita de James Boswell. Diante das atitudes e palavras de Hume sobre o fim que se aproximava, Boswell ficou convencido de que ele encarava a morte com absoluta serenidade. Hume faleceu em 25 de agosto de 1776.[13] Encontra-se sepultado em Edimburgo na Escócia.[14]Hume nunca se casou. Suas opiniões políticas eram tipicamente progressistas,[15] e era, assim como seu amigo Adam Smith, um fervoroso defensor do livre-comércio.[16] De maneira geral, a vida de Hume é condizente com as palavras que escreveu sobre si mesmo: "um homem de disposição branda, de têmpera equilibrada, de humor franco, sociável e alegre, capaz de manter laços de afeição e pouco propenso a inimizades, e de grande moderação em todas as minhas paixões".[5] Numa carta em que fala sobre o passamento de Hume, Adam Smith conclui sua exposição com as seguintes palavras: "No todo, sempre o considerei, tanto durante a sua vida como desde a sua morte, como alguém que se aproximava tanto da ideia de um homem perfeitamente sábio e virtuoso quanto permite a frágil natureza humana".[13]A "ciência do homem"
Por muito tempo os estudos sobre Hume destacaram apenas o lado céptico-destrutivo de sua filosofia. A grande realização do filósofo teria sido eminentemente negativa: teria ele explicitado a impossibilidade de se alcançar alguma certeza ou verdade absoluta nas ciências indutivas, além de ter mostrado a impossibilidade de se provar filosoficamente a existência do mundo exterior ou de se identificar uma substância constitutiva do ego. Mesmo em seus próprios dias, essa foi a leitura predominante da obra de Hume. Thomas Reid considerava-a uma espécie de redução ao absurdo da filosofia das ideias iniciada por Descartes e reorientada ao empirismo pelos britânicos John Locke e George Berkeley. Segundo Reid, Hume teria mostrado que os pressupostos assumidos pela teoria das ideias como meio representacional conduziam inevitavelmente ao cepticismo generalizado – e essa consequência indesejável revelaria que os pressupostos não poderiam estar corretos.[17] Os historiadores da filosofia, sobretudo os influenciados pelo idealismo alemão, viram a obra de Hume apenas como elaboração de uma antítese que, mais tarde, seria superada pela síntese kantiana.Embora as teses negativas mereçam atenção, elas não constituem toda a filosofia de Hume. No século XX, os comentadores voltaram a destacar o lado propositivo do pensamento humeano,[18] que já se anunciava no próprio subtítulo de sua obra-prima: "uma tentativa de introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais". Para Hume, os assuntos morais abrangiam todos aqueles temas que hoje consideramos como pertencentes às humanidades - como, p. ex., a política, o direito, a moral, a psicologia e a crítica das artes.À época de Hume, as ciências naturais já haviam conseguido grandes realizações, tendo sido a física newtoniana inquestionavelmente a mais notável. Mas, ao lado de explicações inteiramente quantificadas dos fenômenos naturais, convivia uma abordagem completamente diferente em relação às produções do espírito humano. Em parte inspirados pelo dualismo cartesiano, os filósofos tendiam a ver as questões especificamente humanas como pertencentes a um domínio separado do conjunto dos fenômenos naturais; para eles, enquanto esses últimos estavam sujeitos a leis e a rigorosos encadeamentos causais, as primeiras eram resultado da absoluta liberdade de escolha dos seres humanos. Em termos práticos, essa concepção de mundo excluía do âmbito da investigação científica os comportamentos, emoções, ações e realizações culturais da espécie humana. Ao propor que a natureza humana fosse investigada conforme os mesmos métodos já testados e aprovados em outros âmbitos de investigação, Hume não estava apenas inaugurando uma nova forma de tentar entendê-la; também está rompendo com uma concepção de natureza humana tradicional e influente. De certa forma, Hume pretende fazer no âmbito da ciência do homem, o mesmo que Newton realizou no âmbito da ciência natural: explicitar as leis e princípios básicos que inexoravelmente comandam os modos de pensar, de sentir e de conviver dos seres humanos.O problema da causalidade
Quando um evento provoca um outro evento, a maioria das pessoas pensa que estamos conscientes de uma conexão entre os dois que faz com que o segundo siga o primeiro.Hume questionou esta crença, notando que se é óbvio que nos apercebemos de dois eventos, não temos necessariamente de aperceber uma conexão entre os dois. E como havemos nós de nos aperceber desta misteriosa conexão senão através da nossa percepção?Hume negou que possamos fazer qualquer ideia de causalidade que não através do seguinte: Quando vemos que dois eventos sempre ocorrem conjuntamente, tendemos a criar uma expectativa de que quando o primeiro ocorre, o segundo seguirá.Esta conjunção constante e a expectativa dela são tudo o que podemos saber da causalidade, e tudo o que a nossa ideia de causalidade pode inferir. Uma tal conceptualização rouba à causalidade a sua força e alguns humeanos posteriores, como Bertrand Russell, desmentiram a noção de causalidade no geral como algo de parecido com a superstição.Mas isto é uma violação do senso comum. O problema da causalidade: O que justifica a nossa crença numa conexão causal? Que tipo de conexão podemos perceber? É um problema que não tem solução unânime. A perspectiva de Hume parece ser que nós temos uma crença na causalidade semelhante a um instinto, que se baseia no desenvolvimento dos hábitos na nossa mente. Uma crença que não pode ser eliminada mas que também não pode ser provada verdadeira por nenhum argumento, dedutivo ou indutivo, tal como na questão da nossa crença na realidade do mundo exterior.O problema da indução
Todos nós cremos que o passado é um guia confiável para o futuro. Por exemplo: as leis da física descrevem como as órbitas celestes funcionam para a descrição do comportamento planetário até aos dias de hoje. Desse modo presumimos que vão funcionar para a descrição no futuro também. Mas como podemos justificar esta presunção, o princípio da indução?Hume sugeriu duas justificações possíveis e rejeitou ambas. A primeira justificativa avaliada por Hume é que por razões de necessidade lógica, o futuro tem de ser semelhante ao passado. Porém, Hume nota que podemos conceber um mundo errático e caótico onde o futuro não tem nada que ver com o passado ou então um mundo tal como o nosso até ao presente, até que em certo ponto as coisas mudam completamente.A segunda justificação, mais modestamente, apela apenas para a segurança passada da indução: sempre funcionou assim, por isso é provável que continue a funcionar. No entanto, como Hume lembrou, esta justificação apenas usa um raciocínio circular, justificando a indução por um apelo que requer a indução para ter efeito.O problema da indução ainda permanece. A visão de Hume parece ser que nós (como outros animais) temos uma crença instintiva que o nosso futuro será semelhante ao passado, com base no desenvolvimento de hábitos do nosso sistema nervoso. Uma crença que não podemos eliminar mas que não podemos provar ser verdadeira por qualquer tipo de argumento, dedutivo ou indutivo, tal como é o caso com respeito à nossa crença na realidade do mundo exterior.Para trabalho contemporâneo relevante, ver a compilação de Richard Swinburne: "The Justification of Induction".A Teoria do Eu como feixe
(The Bundle Theory of the Self)Costumamos pensar que somos as mesmas pessoas que éramos há tempos atrás. Apesar de termos mudado em muitos aspectos, a mesma pessoa está essencialmente presente tal como estava no passado. Podemos começar a pensar sobre os aspectos que se podem alterar sem que o próprio (indivíduo) subjacente mude. Hume, no entanto, nega que exista uma distinção entre os vários aspectos de uma pessoa e o indivíduo misterioso que supostamente transporta todas estas características.Porque no fundo, como Hume afirma, quando se começa a introspecção, notamos grupos de pensamentos, sentimentos e percepções; mas nunca percebemos uma substância à qual possamos chamar de "o Eu". Por isso, tanto quanto podemos dizer, conclui Hume, não há nada relativamente ao Eu que esteja acima de um grande feixe de percepções transitórias. De notar que, na perspectiva de Hume, não há nada a que estas percepções pertençam. Pelo contrário, Hume compara a alma ao povo de uma nação (commonwealth), que retém a sua identidade não em virtude de uma substância básica permanente, mas que é composto de muitos elementos relacionados mas em permanente mutação. A questão da identidade pessoal torna-se assim uma questão de caracterizar a coesão frouxa da experiência pessoal vivida. (Notar que no Apêndice do Tratado, Hume diz misteriosamente que ele estava insatisfeito com o seu julgamento do Eu, sem no entanto ter regressado a esta questão).Para trabalho contemporâneo relevante, ver "Reasons and Persons", de Derek Parfit.A razão prática: Instrumentalismo e Niilismo
A maioria de nós pensa que certos comportamentos são mais razoáveis do que outros. Parece haver qualquer coisa de abstruso em, por exemplo, comer uma folha de alumínio. Mas Hume negou que a razão tivesse algum papel importante em motivar ou desencorajar o comportamento. No fundo, a razão é apenas uma espécie de calculador de conceitos e experiência. O que no fundo importa, diz Hume, é como nos sentimos em relação a esse comportamento. O seu trabalho gerou a doutrina do instrumentalismo, que declara que uma ação é razoável se e somente se ela serve os objetivos e desejos do agente, quaisquer que estes sejam. A razão pode entrar neste esquema apenas como um servo, informando o agente de fatos úteis relativos às ações que servem aos seus objetivos e desejos, mas nunca condescendendo a dizer ao agente quais objetivos e desejos ele deverá ter.Assim, se você quiser comer uma folha de alumínio, a razão lhe dirá onde encontrar uma folha de alumínio, e não haverá nada de irracional em a comer ou em o desejar. O instrumentalismo passará a ser uma visão ortodoxa da razão prática em economia, teoria das escolhas racionais e algumas outras ciências sociais. Mas alguns comentadores argumentam que Hume foi mais além do niilismo, e disse que não há nada de irracional em deliberadamente frustrar os seus próprios objetivos e desejos ("eu quero comer folha de alumínio, por isso deixa-me selar a minha boca"). Tal comportamento seria altamente irregular, tirando qualquer papel à razão, mas não seria contrário à razão, que é impotente em fazer julgamentos neste domínio.Para trabalho contemporâneo relevante, ver "The Authority of Reason" de Jean Hampton e "Rational Choice and Moral Agency" de David Schmidtz.Anti-realismo moral e motivação
No seu ataque ao papel da razão no julgamento do comportamento, Hume argumentou que o comportamento imoral não é imoral por ser contra a razão. Ele primeiro defendeu que as crenças morais estão intrinsecamente motivantes: se você acredita que matar é errado, você estará motivado "ipso facto" a não matar e em criticar a matança (internalismo moral). Ele lembra-nos em seguida que a razão por si só não motiva ninguém: a razão descobre os factos e a lógica, mas ela depende dos nossos desejos e preferências quanto à percepção daquelas verdades e se isso nos motiva. Consequentemente, a razão por si não produz crenças morais. Hume propôs que a moralidade depende ultimamente do sentimento, sendo o papel da razão apenas o de preparar o caminho para os nossos sensíveis julgamentos por análise da matéria moral em questão.Este argumento contra os fundamentos da moralidade na razão é hoje um dos argumentos pertencentes ao arsenal do anti-realismo moral; o filósofo Humeano John Mackieargumentou que para os factos morais serem factos reais sobre o mundo e ao mesmo tempo, intrinsecamente motivantes, eles teriam de ser factos muito estranhos. Temos pois todos os motivos para desacreditá-los.Para trabalho contemporâneo relevante, ver: "Inventing Right and Wrong", de J.L. Mackie; "Hume's Moral Theory", de Mackie; "Moral Realism and the Foundation of Ethics" de David Brink e "The Moral Problem" de Michael Smith.Livre-arbítrio vs. indeterminismo
(Free Will vs. Indeterminism)Todos nós já notamos o aparente conflito entre o livre-arbítrio e o determinismo: se as nossas acções foram determinadas há milhões de anos, como poderá ser que elas dependam de nós? Mas Hume notou um outro conflito, que torna o problema da livre vontade num denso dilema: a livre-vontade é incompatível com o indeterminismo. Imagine que as suas acções não são determinadas pelos eventos precedentes. Nesse caso, as suas acções serão completamente aleatórias. Em adição, e muito importante para Hume, as ações não são determinadas pelo seu carácter, as suas preferências, os seus valores, etc. Como é que alguém pode ser sido por responsável pelo seu carácter? A livre-vontade parece requerer o determinismo, porque senão o agente e a acção não estariam conectados do modo necessário por acções livremente escolhidas.Sendo assim, quase todos nós acreditamos no livre-arbítrio, a livre vontade parece inconsistente com o determinismo, mas a livre-vontade parece requerer o determinismo.Na visão de Hume, o comportamento humano, como tudo o mais, é causado (causal). Por isso mesmo, se tomamos as pessoas como responsáveis pelas seus atos, devemos focar a recompensa ou a punição de forma a que eles façam aquilo que é moralmente desejável e evitem aquilo que é moralmente repreensível.O problema do ser - dever ser
(The Is-Ought Problem)Hume notou que muitos escritores falam do que deve ser, na base de enunciados acerca do que é. Mas parece haver uma grande diferença entre enunciados descritivos (o que é) e enunciados prescritivos (o que deveria ser). Hume apela aos escritores que tomem muito cuidado na mudança do enunciado de um estado para o outro. Nunca sem se dar uma explicação de como o enunciado- "deve ser" é suposto seguir ao enunciado- "é". Mas como exactamente é que se pode derivar o "deve" de um "é" ? Essa questão, colocada num pequeno parágrafo de Hume, tornou-se uma das questões centrais da teoria da ética e costuma ser atribuída a Hume a opinião de que tal derivação é impossível. (Outros interpretam Hume como dizendo que não se pode ir de uma constatação factual a um enunciado ético, mas que se o pode fazer sem atender à natureza humana, isto é, sem prestar atenção aos sentimentos humanos).G.E: Moore defendeu uma posição similar com a seu "argumento da questão aberta", que pretendia refutar qualquer identificação de propriedades morais com propriedades naturais: a chamada "falácia naturalista". Qualquer teórico ético que pretender dar à moralidade um fundamento objectivo em aspectos mais mundanos da vida real está a lutar por uma causa controversa, no mínimo.Utilitarismo
Foi provavelmente Hume quem, juntamente com os seus colegas do Iluminismo escocês, avançou pela primeira vez a ideia de que a explicação dos princípios morais deverá ser procurada na utilidade que eles tendem a promover. O papel de Hume não deverá ser descrito com exagero, claro; foi o seu compatriota Francis Hutcheson que cunhou o sloganutilitarista "a maior felicidade para o maior número". Mas foi através da leitura do "Tratado" de Hume que Jeremy Bentham sentiu pela primeira vez a força do sistema utilitário: ele "sentiu como se escamas tivessem caído dos seus olhos". No entanto, o "proto-utilitarismo" de Hume é muito peculiar, da nossa perspectiva. Ele não pensa que a agregação de unidades cardinais de utilidade será a fórmula para atingir a verdade moral.Pelo contrário, Hume era um sentimentalista moral e, como tal, achava que princípios morais não podem ser justificados intelectualmente. Alguns princípios simplesmente são-nos apelativos e outros não o são. E a razão porque princípios utilitaristas da moral são apelativos é que eles promovem os nossos interesses e os dos nossos companheiros com os quais simpatizamos.Os humanos são pouco flexíveis a aprovar coisas que ajudam a sociedade-utilidade pública. Hume usou este dado para explicar como ele avaliava um vasto campo de fenómenos, desde instituições sociais e políticas governamentais até traços de carácter e talentos..O problema dos milagres
Uma forma de apoiar a religião é por apelo a milagres. Mas Hume argumentou que no mínimo, os milagres não poderiam conferir muito apoio à religião. Há vários argumentos sugeridos pelo ensaio de Hume, todos eles à volta do seu conceito de milagre: nomeadamente a violação por Deus das leis da Natureza. Um argumento é o de que é impossível violar as leis da Natureza. Outro argumento afirma que o testemunho humano nunca poderia ser suficientemente fiável para contra-ordenar a evidência que temos das leis da Natureza. Outro argumento, menos irredutível, mais defensável, é que devido à forte evidência que temos das leis da natureza, qualquer pretensão de milagre está sobre pressão desde o início e precisa de provas fortes para derrotar as nossas expectativas iniciais. Este ponto tem sido aplicado sobretudo na questão da ressurreição de Jesus, onde Hume sem dúvida perguntaria "o que é que é mais provável ? que um homem se erga dos mortos ou que este testemunho esteja incorrecto de uma forma ou de outra ?". Ou mais suavemente, "o que é mais provável? que o Uri Geller pode realmente fazer dobrar colheres com a sua mente ou que isso seja algum tipo de truque?". Este argumento é a base do movimento céptico e um assunto fundamental aos históricos da religião.Para uma análise crítica e técnica (Bayesiana) de Hume, ver "Hume's Abject Failure" de John Earman — o título é sugestivoO argumento teleológico
Um dos argumentos mais antigos e populares para a existência de Deus é o argumento teleológico - que toda a ordem e "objectivo" do mundo evidencia uma origem divina. Hume usou o criticismo clássico do argumento teleológico, e apesar do assunto estar longe de estar esgotado, muitos estão convencidos de que Hume resolveu a questão definitivamente. Aqui alguns dos seus pontos:1. Para o argumento teleológico funcionar, seria necessário que só nos pudéssemos aperceber de ordem quando essa ordem resulta do desígnio (criação). Mas nós vemos "ordem" constantemente, resultante de processos presumivelmente sem consciência, como a geração e a vegetação. O desígnio (criação) diz apenas respeito a uma pequena parte da nossa experiência de "ordem" e "objectivo".2. O argumento do desígnio, mesmo que funcionasse, não poderia suportar uma robusta fé em Deus. Tudo o que se pode esperar é a conclusão de que a configuração do universo é o resultado de algum agente (ou agentes) moralmente ambíguo, possivelmente não inteligente, cujos métodos possuam alguma semelhança com a criação humana.3. Pelos próprios princípios do argumento teleológico, a ordem mental de Deus e a funcionalidade necessitam de explicação. Senão, podemos considerar a ordem do universo, etc, inexplicada.4. Muitas vezes, o que parece ser objectivo, onde parece que o objecto X tem o aspecto A por forma a assegurar o fim F, é melhor explicado pelo processo da filtragem: ou seja, o objecto X não existiria se não possuísse o aspecto A, e o fim F é apenas interessante para nós. Uma projecção humana de objectivos na natureza. Esta explicação mecânica da teleologia antecipou a selecção natural, e é de se observar que um século antes de Darwin.Para trabalho contemporâneo relevante, ver "Hume's Philosophy of Religion" de J.C.A. Gaskin e "The Existence of God" de Richard Swinburne. Para uma perspectiva de um filósofo da biologia, ver "Philosophy of Biology" de Elliot Sober.Sociologia da Religião de Hume
David Hume ficou conhecido sobretudo pelas contribuições na filosofia. Mas não menos dignas de destaque são as observações na análise da religião. Pode falar-se de ideias pioneiras para a sociologia da religião, que ficam patentes na obra de 1757, The Natural History of Religion.Teoria da Oscilação
Hume rejeita a ideia de uma evolução linear desde o politeísmo para o monoteísmo como um sumário da evolução histórica dos últimos 2000 anos.Na verdade, Hume acredita que o que a história mostra é antes um oscilar irracional entre politeísmo e monoteísmo. Chama-lhe um "flux and reflux" (fluxo e refluxo, um oscilar) entre as duas opções. Nas palavras de Hume: "a mente humana mostra uma tendência maravilhosa para oscilar entre diferentes tipos de religião: eleva-se do politeísmo para o monoteísmo para voltar a afundar-se na idolatria"Como Gellner afirma, esta oscilação não é o resultado de qualquer racionalidade, mas sim dos "mecanismos do medo, incerteza, da superioridade e inferioridade".Do politeísmo para o monoteísmo
Os povos que adoram vários deuses com poderes limitados podem facilmente conceber um Deus com um poder mais extenso, ainda mais digno de veneração do que os outros. "Neste processo, os homens chegam ao estágio de um só Deus como ser infinito, a partir do qual nenhum progresso é possível".Do monoteísmo para o politeísmo
Esse Deus único, todo poderoso, é porém igualmente um Deus distante e de difícil acesso para o comum dos mortais (sobretudo se estes são analfabetos - e na Europa da Idade Média, a esmagadora maioria da população era analfabeta). O contacto directo com as escrituras sagradas na Idade Média permanecia um privilégio de uma casta limitada - o clero. A maioria do povo comum, analfabeto, sente-se impossibilitado de aceder a Deus por via "directa". Neste momento, torna-se visível um princípio psicológico que caminha numa direcção contrária.Esse princípio psicológico é a ideia de que os homens vivem em busca da protecção, do apoio. Torna-se necessária a figura de intermediários perante o comum dos mortais e o Deus todo poderoso. Uma função para os santos, relíquias, … "Estes semi-deuses e intermediários, que são vistos pelos homens como parentes e lhes parecem menos distantes, são objecto da adoração e assim, a idolatria está de volta…"Novamente de regresso ao monoteísmo
Mas mais uma vez, o pêndulo tem de retornar. Como Gellner afirma, em breve, "o Panteão torna a encher-se". Hume: "À medida que estas diferentes formas de idolatria dia por dia descem às formas cada vez mais baixas e ordinárias, acabam por se autodestruir e as horríveis formas de idolatria vão acabar por provocar um retorno e um desejo de regresso ao monoteísmo… Por isso (entre os judeus e os muçulmanos) há proibição de figuras humanas na pintura e mesmo na escultura, porque eles receiam que a carne seja fraca e que acabe por se deixar levar para a idolatria".Hume mostra exemplos desta evolução: é a luta de Jeová contra os Bealim de Canaã, da Reforma contra o Papado, e do Islão contra as tendências pluralistas (ver sufismo).A Importância do Filósofo na História
§ Em síntese, David Hume foi um filósofo empirista quanto ao problema da origem do conhecimento, cético em relação á metafísica e utilitário altruísta em assuntos morais e políticos. Concebeu a filosofia como ciência indutiva da natureza humana e chegou à conclusão de que o homem é muito mais um ser prático e sensitivo do que racional. Desempenhou papel relevante dentro da história do pensamento ao levar á ultima consequência a tradição intelectual originada e desenvolvida principalmente na Inglaterra, desde os nominalistas da escola de Oxford, no século XIII, passando por Francis Bacon (1561-1626), até sua formulação mais completa com John Locke.§ Como consequência, despertou Kant (1724-1804) de seu “sono dogmático” e o fez criar a filosofia crítica, a partir da devastadora análise do conceito de causalidade. Foi fator essencial na formulação do positivismo de Auguste Comte (1798-1873). No século XX, os positivistas lógicos devem muito aos fundamentos que Hume lançou para o desenvolvimento de um teoria da significação.Influência de Hume na constituição americana
Como Douglass Adair sugeriu, o livro de David Hume, "Essays, Moral, Political and Literary" terá influenciado directamente James Madison na formulação da Constituição Americana. No ensaio ali contido "Idea of a Perfect Commonwealth", Hume refuta a ideia de Montesquieu de que uma grande nação está condenada a ser corrupta e ingovernável. Pelo contrário, afirma Hume, uma nação extensa pode ser, devido à sua diversidade geográfica e socio-económica, bem mais estável do que nações pequenas. Hume escreve: "Apesar de as pessoas como um órgão serem incapazes de governar, caso elas se dispersarem em pequenas unidades (tais como colónias individuais ou estados) elas são mais susceptíveis de se submeter à razão e à ordem; a força das correntes populares (populismo) e marés é, em grande medida, quebrada". A elite conspiradora necessitará de passar mais tempo a coordenar os movimentos das várias partes do todo, do que a planear o derrube. "Ao mesmo tempo, as partes estão tão distantes e remotas que é muito difícil, seja por intriga ou paixão, levá-las a tomar medidas contra o interesse público." James Madison, que estudara em Princeton, e ali tinha tomado contacto com a obra de Hume, incorporou esta visão no seu "Notes on the Confederacy", publicado em Abril de 1787, 8 meses antes dele ter escrito o ensaio defendendo a Constituição, como parte dos "Federalist Papers".Obra
§ Tratado da Natureza Humana (1739-1740)§ Investigação sobre o Entendimento Humano (1748)Contém uma revisão dos pontos principais do tratado, livro 1, com a adição de material sobre a livre vontade, milagres e o argumento teleológico.§ Investigação sobre os Princípios da Moral (1751)Outra revisão do material do tratado para apelar mais ao gosto popular. Hume considerou esta como a melhor das suas obras filosóficas, quer quanto às ideias filosóficas como no seu estilo literário.§ Diálogos sobre a Religião Natural (póstumo)Uma discussão entre três personagens ficcionais - Cleantes, Fílon, e Demea - acerca do argumento teleológico, o argumento cosmológico, o problema do mal e as relações entre a religião e a moral.A obra é um forte ataque à tentativa de estabelecer a existência de Deus por processos racionais e tem servido de inspiração a muitos críticos modernos da religião. Apesar de haver alguma controvérsia, a maioria dos académicos acredita que Fílon é a personagem que melhor reflecte as ideias de Hume.§ Ensaios: Morais, Políticos e Literários (editados pela primeira vez em (1741-1742))Uma série de ensaios, revistos várias vezes ao longo da sua vida. A história relativa a que ensaios foram adicionados ou removidos parece menos relevante. "Sobre a estação média da vida", "Que a política possa ser reduzida a uma ciência", "Da origem do governo", "Da liberdade civil", "Do comércio", "Da densidade populacional de nações antigas", e "Sobre o suicídio", para nomear apenas alguns.§ A História da Grã-Bretanha (1754-1762)Esta é mais uma categoria de livros do que uma única obra. Uma história monumental, "desde a invasão de Júlio César até à Revolução Gloriosa de 1688".Foi também a obra melhor conhecida de Hume durante a sua vida, tendo tido mais de 100 edições. Foi considerada por muitos como a referência essencial da História da Inglaterra até à publicação da monumental "História de Inglaterra" de Thomas Macaulay.§ História Natural da Religião (1757)Este livro é considerado por alguns como a primeira obra científica a debruçar-se sobre a sociologia da religião. Ernest Gellner diz que este livro permanece um dos melhores tratados deste tipo, talvez mesmo o melhor.§ Da imortalidade da alma e outros textos póstumos.Leibniz, Gottfried (1646-1716)
Gottfried Wilhelm von Leibniz (Leipzig, 1 de julho de 1646 — Hanôver, 14 de novembro de 1716) foi um filósofo, cientista,matemático, diplomata e bibliotecário alemão.A ele é atribuída a criação do termo "função" (1694), que usou para descrever uma quantidade relacionada a uma curva, como, por exemplo, a inclinação ou um ponto qualquer situado nela. É creditado a Leibniz e a Newton o desenvolvimento do cálculomoderno, em particular o desenvolvimento da Integral e da Regra do Produto. Demonstrou genialidade também nos campos dalei, religião, política, história, literatura, lógica, metafísica e filosofia.Biografia
O pai era professor de filosofia moral em Leipzig e morreu em 1652, quando Leibniz tinha apenas seis anos. Em 1663 ingressa na Universidade de Leipzig, como estudante de Direito. Em 1666 obtém o grau de doutor em direito, em Nuremberg, pelo ensaio prenunciando uma das mais importantes doutrinas da posterior filosofia. Nessa época afilia-se à Sociedade Rosacruz, da qual seria secretário durante dois anos.
Foi o primeiro a perceber que a anatomia da lógica - “as leis do pensamento”- é assunto de análise combinatória. Em 1666escreveu De Arte Combinatória, no qual formulou um modelo que é o precursor teórico de computação moderna: todo raciocínio, toda descoberta, verbal ou não, é redutível a uma combinação ordenada de elementos tais como números, palavras, sons ou cores.Na visão que teve da existência de uma “característica universal”, Leibniz encontrava-se dois séculos à frente da época, no que concerne à matemática e à lógica.Aos 22 anos, foi-lhe recusado o grau de doutor, alegando-se juventude. Tinha vinte e seis anos, quando passou a ter aulas comChristiaan Huygens, cujos melhores trabalhos tratam da teoria ondulatória da luz. A maior parte dos papéis em que rascunhava suas ideias, nunca revisando, muito menos publicando, encontra-se na Biblioteca Real de Hanôver aguardando o paciente trabalho de estudantes. Leibniz criou uma máquina de calcular, superior à que fora criada por Pascal, fazendo as quatro operações.Em Londres, compareceu a encontros da Royal Society, em que exibiu a máquina de calcular, sendo eleito membro estrangeiro da Sociedade antes de sua volta a Paris em março de1673. Em 1676, já tinha desenvolvido algumas fórmulas elementares do cálculo e tinha descoberto o teorema fundamental do cálculo, que só foi publicado em 11 de julho de 1677, onze anos depois da descoberta não publicada de Newton. No período entre 1677 e 1704, o cálculo leibniziano foi desenvolvido como instrumento de real força e fácil aplicabilidade nocontinente, enquanto na Inglaterra, devido à relutância de Newton em dividir as descobertas matemáticas, o cálculo continuava uma curiosidade relativamente não procurada.Durante toda a vida, paralelamente à Matemática, Leibniz trabalhou para aristocratas, buscando nas genealogias provas legais do direito ao título, tendo passado os últimos quarenta anos trabalhando exclusivamente para a família Brunswick, chegando a confirmar para os empregadores o direito a metade de todos os tronos da Europa. As pesquisas levaram-no pela Alemanha, Áustria e Itália de 1687 a 1690. Em 1700, Leibniz organizou a Academia de Ciências da Prússia, da qual foi o primeiro presidente. Esta Academia permaneceu como uma das três ou quatro principais do mundo até que os nazistas a eliminaram.Morreu solitário e esquecido. O funeral foi acompanhado pelo secretário, única testemunha dos últimos dias.Filósofo
O pensamento filosófico de Leibniz parece fragmentado, porque seus escritos filosóficos consistem principalmente de uma infinidade de escritos curtos: artigos de periódicos, manuscritos publicados muito tempo depois de sua morte, e muitas cartas a muitos correspondentes. Ele escreveu apenas dois tratados filosóficos, dos quais apenas "Téodiceia" de 1710 foi publicado em sua vida.Leibniz data o seu começo na historia da filosofia com seu "Discurso sobre metafísica", que ele compôs em 1686 como um comentário sobre uma contínua disputa entre Malebranchee Antoine Arnauld. Isto levou a uma extensa e valiosa correspondência com Arnauld;o Discurso sobre metafisica não foi publicado até o século 19. Em 1695, Leibniz fez sua entrada pública na filosofia europeia, com um artigo de jornal intitulado "Novo Sistema da Natureza e da comunicação das substâncias".Entre 1695 e 1705, compôs o seu "Novos ensaios sobre o entendimento humano", um longo comentário sobre John Locke em seu "Ensaios sobre o entendimento humano", mas ao saber da morte de Locke, 1704, perdeu o desejo de publicá-lo, Isto aconteceu até que os novos ensaios foram publicados em 1765. "A Monadologia", composta em 1714 e publicado postumamente, é constituída por 90 aforismos.Leibniz conheceu Espinoza, em 1676, leu alguns de seus escritos inéditos, e desde então tem sido suspeito de apropriar-se de algumas das ideias de Espinosa. Embora Leibniz admirasse o poderoso intelecto de Espinosa, ele ficou francamente desanimado com as conclusões de Spinoza, especialmente por estas serem incompatíveis com a ortodoxia cristã.Ao contrário de Descartes e Espinoza, Leibniz tinha uma formação universitária completa na área de filosofia. Sua carreira começou, ao longo de uma influência escolar e aristotélica traindo a forte influência de um de seus professores de Leipzig, Jakob Thomasius, que também supervisionou a sua tese de Licenciatura em Filosofia. Leibniz leu ansiosamenteFrancisco Suárez, jesuíta espanhol respeitado, mesmo em universidades Luteranas. Leibniz estava profundamente interessado em novos métodos e nas conclusões de Descartes,Huygens, Newton e Boyle, mas viu estes trabalhos através de uma lente fortemente matizada por noções escolásticas. No entanto, a verdade é que os métodos de Leibniz e suas preocupações, muitas vezes anteciparam a lógica e a analítica, assim como a filosofia da linguagem do século 20.Princípios
Liberdade x determinação: Leibniz admitia uma série de causas eficientes a determinar o agir humano dentro da cadeia causal do mundo natural. Essa série de causas eficientes dizem respeito ao corpo e seus atos. Contudo, paralela a essa série de causas eficientes, há uma segunda série, a das causas finais. As causas finais poderiam ser consideradas como uma infinidade de pequenas inclinações e disposições da alma, presentes e passadas, que conduzem o agir presente. Há, como em Nietzsche, uma infinidade imensurável de motivos para explicar um desejo singular. Nesse sentido, todas as escolhas feitas tornam-se determinantes da ação. Cai por terra a noção de arbitrariedade ou de ação isolada do contexto. Parece também cair por terra a noção de ação livre, mas não é o que ocorre. Leibniz acredita na ação livre, se ela for ao mesmo tempo 'contingente, espontânea e refletida'.A Contingência: A contingência opõe-se à noção de necessidade, não à de determinação. A ação é sempre contingente, porque seu oposto é sempre possível.A Espontaneidade: A ação é espontânea, quando o princípio de determinação está no agente, não no exterior deste. Toda ação é espontânea e tudo o que o indivíduo faz depende, em última instância, dele próprio.A Reflexão: Qualquer animal pode agir de forma contingente e espontânea. O que diferencia o animal humano dos demais é a capacidade de reflexão que, quando operada, caracteriza uma ação como livre. Os homens têm a capacidade de pensar a ação e saber por que agem.As Mônadas: A contribuição mais importante de Leibniz para a metafísica é a sua teoria sobre as mônodas, expostas em sua obra Mônadologia.As mônadas equivalem para a realidade metafisica, o que os átomos equivalem para os fenômenos físicos.As mônadas são os elementos máximos do universo.As mônadas são "formas substancias do ser com as seguintes propriedades: elas são eternas, indecompostas, individuais, sujeita as suas próprias leis, sem interação mútua, e cada uma refletindo o próprio universo dentro de umaharmonia pré-estabelecida (historicamente um exemplo importante de panpsiquismo). Mônadas são centros de forças; substância é força, enquanto o espaço, extensão e movimento são meros fenômenos.A essência ontológica das mônadas é sua simplicidade irredutível.Assim como os átomos, as mônadas não possuem nenhuma matéria ou caráter espacial.Elas ainda se diferenciam dos átomos por sua completa mútua independência, assim as interações entre as mônadas são só aparentes.Em vez disso por força do principio da harmonia pré-estabelecida, cada mônada, segue uma instrução pré-programada, peculiar para si, assim uma mônada sabe o que fazer em cada situação. (Essas "instruções" podem ser análogas as leis cientificas que governam as partículas sub-atômicas).Pelo principio dessas instruções intrínsecas, cada monada é como um pequeno espelho do universo.Mônadas não são necessariamente "diminutas"; e.g., cada ser humano é constituído por uma mônada, na qual o tema do livre-arbítrio é problematizado.Deus, também, é uma Mônoda, e a existência de Deus pode ser inferida através da harmonia que se prevalece diante de todas as mônadas; Deus através de sua razão e vontade se afigura o universo através da harmonia pré-estabelecida.As mônadas são referidas e problematizadas por outras correntes filosóficas por:- Problematização das interações entre a mente e a extensão, como abordado no sistema de Descartes.- Falta de individualização inerente no sistema de Espinoza, da qual representa as criaturas individuais como meros acidentes.- A mônodalogia parece arbitraria, até mesmo excêntrica.Cientista e Engenheiro
Os escritos de Leibniz estão a ser discutidos até os dias de hoje, não apenas por suas antecipações e possíveis descobertas ainda não reconhecidas, mas como formas de avanço do conhecimento atual. Grande parte de seus escritos sobre a física está incluído na Escritos Matemáticos de Gerhardt.Física: Leibniz teve grandes contribuições para a estática e a dinâmica emergentes sobre ele, muitas vezes em desacordo com Descartes e Newton. Ele desenvolveu uma nova teoria do movimento (dinâmicas) com base na energia cinética e energia potencial, que postulava o espaço como relativo, enquanto Newton sentira fortemente o espaço como algo absoluto. Um exemplo importante do pensamento maduro de Leibniz na questão da física é seu Specimen Dynamicum de 1695.Até a descoberta das partículas subatômicas e da mecânica quântica que os regem, muitas das ideias especulativas de Leibniz sobre aspectos da natureza não redutível a estática e dinâmica faziam pouco sentido. Por exemplo, ele antecipou Albert Einstein, argumentando, contra Newton, que o espaço, tempo e movimento são relativos, não absolutos. As regras de Leibniz são importantes, se muitas vezes esquecidas, provas em diversos campos da física. O princípio da razão suficiente tem sido invocado na cosmologia recente, e sua identidade dos indiscerníveis na mecânica quântica, um campo de algum crédito, mesmo com ele tendo antecipado em algum sentido. Aqueles que defendem a filosofia digital, uma direcção recente em cosmologia, alegam Leibniz como precursor.
Locke, John (1632-1704)
John Locke (Wringtown, 29 de agosto de 1632 — Harlow, 28 de outubro de 1704) foi um filósofo inglês e ideólogo doliberalismo, sendo considerado o principal representante do empirismo britânico e um dos principais teóricos do contrato social.Locke rejeitava a doutrina das ideias inatas e afirmava que todas as nossas ideias tinham origem no que era percebido pelos sentidos. Escreveu o Ensaio acerca do Entendimento Humano, onde desenvolve sua teoria sobre a origem e a natureza de nossos conhecimentos. Suas ideias ajudaram a derrubar o absolutismo na Inglaterra. Locke dizia que todos os homens, ao nascer, tinham direitos naturais: direito à vida, à liberdade e à propriedade. Para garantir esses direitos naturais, os homens haviam criado governos. Se esses governos, contudo, não respeitassem a vida, a liberdade e a propriedade, o povo tinha o direito de se revoltar contra eles. As pessoas podiam contestar um governo injusto e não eram obrigadas a aceitar suas decisões.Dedicou-se também à filosofia política. No Primeiro tratado sobre o governo civil, critica a tradição que afirmava o direito divino dos reis, declarando que a vida política é uma invenção humana, completamente independente das questões divinas. NoSegundo tratado sobre o governo civil, expõe sua teoria do Estado liberal e a propriedade privada.BiografiaEstudou medicina, ciências naturais e filosofia em Oxford, principalmente as obras de Bacon e Descartes. Em 1683, John Locke fugiu para os Países Baixos. Voltou à Inglaterra quando Guilherme de Orange subiu ao trono, em 1688. Faleceu em 28 de outubro de 1704, com 72 anos. Locke nunca se casou ou teve filhos.ObraLocke é considerado o protagonista do empirismo. Nega as ideias inatas, afirmando que a mente é uma tabula rasa, expressão latina que tem o sentido de "folha em branco.[1] Esta teoria afirma que todas as pessoas nascem sem saber absolutamente nada e que aprendem pela experiência, pela tentativa e erro. Esta é considerada a fundação do "behaviorismo".A filosofia política de Locke fundamenta-se na noção de governo consentido dos governados diante da autoridade constituída e o respeito ao direito natural do ser humano, de vida, liberdade e propriedade. Influencia, portanto, as modernas revoluções liberais: Revolução Inglesa, Revolução Estadunidense e na fase inicial da Revolução Francesa, oferecendo-lhes uma justificação da revolução e a forma de um novo governo. Para fins didáticos, Locke costuma ser classificado entre os empiristas britânicos, ao lado de David Hume e George Berkeley, principalmente pela obra relativa a questões epistemológicas. Em ciência política, costuma ser classificado na escola do direito natural ou jusnaturalismo.Para Bernard Cottret, biógrafo de João Calvino, contrastando com a história trágica da brutal repressão aos protestantes em França noséculo XVI e a própria intolerância e zelo religioso radical de João Calvino em Genebra, o nome de John Locke está intimamente associado à tolerância. Uma tolerância que os franceses aprenderam a valorizar apenas na década de 80 do século XVII, quase às portas do Iluminismo. Como Voltaire afirmou, a tolerância é, para os franceses, um artigo de importação. Bernard Cottret afirma: a tolerância é o produto de um espaço geográfico específico, nomeadamente o noroeste da Europa. Ou seja: a Inglaterra e os Países Baixos. E ela é, no final, em especial, a obra de um homem - John Locke - a quem o século XVII dedica um culto permanente.[2]Dentre os escritos políticos, a obra mais influente foi o tratado em duas partes, Dois Tratados sobre o Governo (1689). A primeira descreve a condição corrente do governo civil; a segunda parte descreve a justificação para o governo e os ideais necessários à viabilização. Segundo Locke, todos são iguais e, a cada um, deverá ser permitido agir livremente desde que não prejudique nenhum outro. Com este fundamento, deu continuidade à justificação clássica da propriedade privada ao declarar que o mundo natural é a propriedade comum de todos, mas que qualquer indivíduo pode apropriar-se de uma parte dele ao misturar o trabalho com os recursos naturais. Este tratado também introduziu o "proviso de Locke", no qual afirmava que o direito de tomar bens da área pública é limitado pela consideração de que ainda havia suficientes e tão bons e mais dos ainda não fornecidos podem servir, por outras palavras, que o indivíduo não pode simplesmente tomar aquilo que pretende, também tem de tomar em consideração o bem comum.Em Ensaio acerca do Entendimento Humano (1690), Locke propõe que a experiência é a fonte do conhecimento, que depois se desenvolve por esforço da razão. Outra obra filosófica notável é Pensamentos sobre a Educação, publicado em 1693. As fontes principais do pensamento de Locke são: o nominalismo escolástico, cujo centro era a Oxford; o empirismo inglês da época; o racionalismodefendido por René Descartes e a filosofia de Malebranche.A tolerânciaComo filósofo político, Locke pode ser considerado um precursor da democracia liberal, dada a importância que atribui à liberdade e à tolerância. O que estava em jogo era, obviamente, a tolerância religiosa, contra os abusos do absolutismo.[3] De todo modo, suas ideias fundamentaram as concepções de democracia moderna e de direitos humanos tal como hoje é expressa nas cartas de direitos.[4].Entretanto, para John Locke, essa liberdade não seria aplicável ao "homem primitivo", pois que os povos ditos primitivos não estariam associados ao restante da humanidade no uso do dinheiro [5] e poderiam ser equiparados a bestas de caça ou bestas selvagens,[6] (o que forneceu a base ideológica para a tomada das terras e o extermínio de populações indígenas) nem aos papistas (católicos, na expressão dos protestantes), que seriam como "serpentes, dos quais nunca se conseguiria que abrissem mão de seu veneno com um tratamento gentil" [7].Reassalte-se que tal atitude em relação aos indígenas não era verificada em pensadores anteriores, como Bartolomé de las Casas e Montaigne, que, ao se referir às populações extra-européias, dizia "Acho que não há nessa nação nada de bárbaro e de selvagem, pelo que me contaram. A não ser porque cada qual chama de barbárie aquilo que não é de seu costume".[8]. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 307.A tolerância não se aplicava tampouco as camadas que detinham menos recursos econômicos, para às quais Locke defendia algumas medidas severas, tais como:§ Direcionar para o trabalho as crianças a partir de três anos, das famílias que não têm condições para alimentá-las [9].§ Supressão das vendas de bebidas não estritamente indispensáveis e das tabernas não necessárias[10].§ Obrigar os mendigos a carregar um distintivo obrigatório, para vigiá-los, por meio de um corpo de espantadores de mendigos, e impedir que possam exercer sua atividade fora das áreas e horários permitidos[11].§ Os que forem surpreendidos a pedir esmolas fora de sua própria paróquia e perto de um porto de mar devem ser embarcados coercitivamente na marinha militar, outros pedintes abusivos devem ser internados em uma casa de trabalhos forçados, na qual o diretor não terá outra remuneração além da renda decorrente do trabalho dos internados[12].§ Os que falsificarem um salvo-conduto para fugir de uma casa de trabalho, devem ser punidos com um corte de orelhas e, na hipótese de reincidência, com a deportação para as plantações, na condição de criminosos[13].A defesa da escravidãoLocke é considerado pelos seus críticos como sendo "o último grande filósofo que procura justificar a escravidão absoluta e perpétua"[14]. Ao mesmo tempo que dizia que todos os homens são iguais, Locke defendia a escravidão (sem distinguir que fosse a relativa aos negros).Locke somente sustenta a escravidão pelo contrato de servidão em proveito do vencido na guerra que poderia ser morto, mas assume o ônus de servir em troca de viver. Ou seja, a questão da escravidão não é relevante no seu pensamento. Locke não defende a escravidão fundada em raça, mas somente no contrato com o vencido na guerra. Locke contribuiu para a formalização jurídica da escravidão na Província da Carolina, cuja norma constitucional dizia: "(...) todo homem livre da Carolina deve ter absoluto poder e autoridade sobre os escravos negros seja qual for a opinião e religião."[15] Seus críticos ainda afirmam que ele investiu no tráfico de escravos negros[16], enquanto acionista da Royal African Company[17].Ao analisar essa questão, costuma-se ponderar a respeito do período histórico em que Locke viveu, assim como a época de outros grandes filósofos, a exemplo de Aristóteles, que foi o primeiro a fazer um tratado político defendendo a escravidão. Na época, a escravidão era uma prática comum, e isso classificaria Locke como um homem da época - o que não diminuiria a importância das suas ideias, revolucionárias em relação ao seu tempo.Por outro lado observa-se que Jean Bodin, pensador francês, defensor do absolutismo, já era crítico do escravismo. Logo, a defesa do escravismo não era o único pensamento em voga na época de Locke.Também é necessário lembrar que a defesa da escravidão decorre da defesa do direito de propriedade, um dos grandes ideais do liberalismo, e isso une Locke aos outros liberais clássicos - o direito de propriedade como um dos direitos naturais do ser humano.A longa trajetória do liberalismo teve o exato início com John Locke, e é notório que as ideologias sofrem adaptações com o tempo e com as gerações posteriores. É óbvio que a defesa da escravidão não é inerente ao liberalismo. Entretanto pode-se perceber uma correlação entre aqueles que no passado defendiam a liberdade de possuir escravos, contra a turbação do direito de propriedade decorrente da intervenção estatal por meio de leis abolicionistas, e aqueles que hoje defendem a plena liberdade no contrato de trabalho, contra o intervencionismo estatal das leis trabalhistas.
Malebranche, Nicolas (1638-1715)
Em 1660 entrou para a Congregação do Oratório e, quatro anos mais tarde, foi ordenado sacerdote. Ainda em 1664, a leitura de Descartes deixou-o tão entusiasmado que resolveu dedicar-se ao estudo da filosofia. No entanto, alguns comentaristas acreditam que esse interesse pela filosofia tenha derivado de seus estudos sobre a filosofia dominante no Oratório (a de Santo Agostinho).
Sua principal obra é De la recherche de la vérité (Da procura da verdade), onde trata da natureza do espírito humano e do que o homem deve fazer para evitar o erro nas ciências. Foi publicada em três volumes, o primeiro em 1674 e os outros dois em1675.Malebranche critica os filósofos que estudam as relações da alma com o corpo, sem considerar sua união com Deus. Segundo ele, o enfraquecimento das relações da alma com Deus foi conseqüência do pecado original, que fortaleceu a relação alma-corpo.Em Da procura da verdade ocorreria a dissolução dos erros provocados pela forte interação da alma com o corpo. Para o filósofo, o erro é a causa da miséria dos homens. Assim, afirmava ser necessário denunciar os erros e suas causas através de uma análise das percepções da alma, que se realizariam por três modos distintos: os sentidos, a imaginação e oentendimento. Pregava, portanto, o exame dos erros devidos a cada uma dessas formas de percepção. Mediante tal exame seria possível encontrar um critério geral para a descoberta da verdade.Por outro lado, todos os movimentos que se efetuam entre os corpos e entre a alma e o corpo, além dos movimentos internos da alma, teriam em Deus sua causa eficiente. Essas relações, sendo estabelecidas pela razão divina mediante uma ordem eterna e invariável, poderiam ser compreendidas pelo entendimento, da mesma forma que as leis científicas. Os seres particulares não seriam propriamente causas eficientes de nada que ocorre, mas apenas ocasiões para o exercício da causa única que é Deus, doutrina denominada ocasionalismo, porque causar é criar; e só Deus pode criar. Por isso, o movimento é um paralelismo (o que também sucede com os comportamentos humanos). Da alma não temos nenhuma ideia, mas apenas uma persuasão interior. Deus, além disso, conteria em si mesmo todas as idéias como arquétipo das coisas. O conhecimento da verdade, por parte do homem, consistiria, em última instância, em um visão de Deus.Obras§ Tratado da natureza e da graça, de 1680;§ Tratado de moral, de 1684;§ Meditações metafísicas e cristãs, de 1684;§ Tratado do amor de Deus, de 1687.
Montesquieu (1689-1755)
Charles-Louis de Secondatt, ou simplesmente Charles de Montesquieu, senhor de La Brède ou barão de Montesquieu(castelo de La Brède, próximo a Bordéus, 18 de Janeiro de 1689 — Paris, 10 de Fevereiro de 1755), foi um político, filósofo eescritor francês. Ficou famoso pela sua Teoria da Separação dos Poderes, atualmente consagrada em muitas das modernasconstituições internacionais.Aristocrata, filho de família nobre, nasceu no dia 18 de Janeiro de 1689 e cedo teve formação iluminista com padresoratorianos. Revelou-se um crítico severo e irônico da monarquia absolutista decadente, bem como do clero católico. Adquiriu sólidos conhecimentos humanísticos e jurídicos, mas também frequentou em Paris os círculos da boêmia literária. Em 1714, entrou para o tribunal provincial de Bordéus, que presidiu de 1716 a 1726. Fez longas viagens pela Europa e, de 1729 a 1731, esteve na Inglaterra.Proficiente escritor, concebeu livros importantes e influentes, como Cartas persas (1721), Considerações sobre as causas da grandeza dos romanos e de sua decadência (1734) e O Espírito das leis (1748), a sua mais famosa obra. Contribuiu também para a célebre Enciclopédia, juntamente com Diderot e D'Alembert..Morreu em Paris, no dia 10 de Fevereiro de 1755.Biografia
Montesquieu, nasceu em 18 de janeiro de 1689, em Bordeaux, na França, no Castelo de La Brède, propriedade da família. A mãe, Marie Françoise de Pesnel, tinha origem inglesa e de família com negócios na área de vinhos e o pai, Jacques Secondatde família nobre francesa.Seu aprendizado inicial foi em casa e somente aos onze anos entrou para o Colégio Juilly. Era um colégio que tinha como alunos os filhos da mais ricas famílias, comandado por padres oratorianos que ensinavam os alunos utilizando a doutrina iluminista da época. Aos 16 anos entrou para a faculdade de Direito da Universidade de Bordeaux. Em 1715 casou-se com a rica Jeanne de Lartigue. Um ano depois, com a morte de um tio, herdou uma fortuna, assumiu a presidência do parlamento de Bordeaux e foi nomeado Barão de Montesquieu.Iniciou, na Academia de Bordeaux, estudos na área do direito romano, biologia, física e geologia.Com estes estudos, Montesquieu pode se aprofundar no estudo iluminista que tinha iniciado no Colégio Juilly, aliando as ciências naturais e as questões humanas. Em pouco tempo o autor publicou textos sobre o assunto, como Les causes de l'écho, Les glandes rénales e La cause de la pesanteur des corps.Sua primeira obra de maior foi publicada em 1721, intitulada de "Cartas Persas", que é uma sátira aos costumes e filosofia francesa. O autor imprimiu uma alta dose de sarcasmo colocando dois viajantes persas em Paris, trocando correspondências sobre a França com amigos na Pérsia. Nesta obra a crítica às autoridades políticas e religiosas, bastante comum entre os iluministas, é constante em todo o livro. Por meio dos dois personagens Montesquieu aproveita para criticar tudo o que o incomodava na sociedade francesa da época.Depois do êxito alcançado com "Cartas Persas" foi admitido nos grandes círculos intelectuais de Paris. Aos 39 anos foi estudar na Academia Francesa e como parte dos estudos iniciou uma maratona de viagens pela Europa que proporcionaram a Montesquieu a oportunidade de conhecer obras importantes para sua formação como as do historiador Pietro Giannone (1676-1748) e do filósofo Vico (1668-1744). Depois de passar pela Itália, Holanda e Alemanha terminou sua peregrinação na Inglaterra lugar onde concluiu sua formação intelectual. Na ilha relacionou-se com os círculos políticos, entrou para a maçonaria e para a Academia Real. Neste período teve grande contato com a doutrina iluminista. Com a conclusão das viagens Montesquieu ficou recluso por dois anos, dedicando-se exclusivamente a escrever.Montesquieu fascinado pelo progresso das Ciências Físicas/Naturais e de suas descobertas a respeito das leis que regiam o mundo físico, tratadas diversas vezes em seus ensaios propôs a partir daí que a realidade social, semelhantemente, também devia reger-se por leis. E por conseguinte trocou sua Magistratura pelo estudo para desvendar as leis sociais. Tendo tomado conhecimento dos vários problemas sociais da Europa, além de ter sido um grande leitor e conhecedor dos impérios antigos, tais como: Roma, Grécia, Cartago, Egito, Pérsia, China, Macedônia, Japão e os povos Hebreu, Árabe, Turco, dentre outras etnias e países.Nesse período escreveu sua principal obra, "Do Espírito das Leis" que se tornou referência mundial para advogados, legisladores e outros cientistas sociais. A obra faz um vasto estudo nas áreas de direito, história, economia, geografia e teoria política que percorreu mais de dez anos até sua publicação em 1748.Ele sofreu ao mesmo tempo uma avalanche de elogios e de represálias de todos os lados. Chegou a publicar posteriormente um livro resposta chamado "Defesa do Espírito das Leis". O autor faleceu em fevereiro de 1755.Contexto Histórico: visão política e ideias principais
Um breve retrocesso histórico se faz necessário para compreender alguns acontecimentos gerais que levaram às características da corrente iluminista, da qual Montesquieu se destacou com um dos principais teóricos. O embasamento de um poder divino atribuído aos monarcas europeus enfraquece a partir do momento que Lutero, em 1518, lê a passagem “o justo viverá pela fé” da Epístola de São Paulo aos romanos. Sua interpretação de que os indivíduos não deveriam recorrer à Igreja para pagar indulgências gerou conflitos ao redor de toda a Europa até que, em tese, o Tratado de Vestfália (1648) colocasse fim às guerras, reconhecendo a soberania de cada Estado em termos de escolha de religião. Com isso, a explicação para as coisas passa a não mais estar no transcendental, mas no próprio homem e eis que surge o Iluminismo como tentativa de fazer das ciências naturais as ciências da razão e da experimentação. Tal indutivismo aparece como uma quebra de paradigmas com o que se tinha no século XVII, a construção de um racionalismo aplicado à geometria, à dedução, que Baruch Spinoza mostra bem em sua Ética de 1677. O foco agora são os ensinamentos históricos, factuais – o que propicia a Sociologia comparativa de Montesquieu – e a tentativa de aglomerar o conhecimento comum na ciência, nas artes e nos ofícios – a Encyclopédie de Diderot e de D'Alambert.A própria música do tempo destes homens detinha uma característica comum a dos estudiosos, de certa forma. Aparece o conceito de virtuosismo, no início do século XVII, atribuído àquele que explorava ao máximo o seu instrumento, desenvolvendo novas linguagens musicais a serem expressadas. Isso se manifestou na inovação barroca com um estilo quase que discursado – a ópera – e estilos estritamente instrumentais – a suíte e o concerto –, que possuem linhas agudas e graves definidas e que deixa aos instrumentos de frequência média a possibilidade de variar a melodia de acordo com a nuança de cada autor, demonstrando seu característico virtuosismo. Porém, a partir da segunda metade do século XVIII e com a morte do compositor Bach, uma transição musical para algo mais simplificado3 foi inevitável. Como tudo o mais, os trabalhos iluministas também proporcionaram uma transição à algo que, a priori, seria mais estável.Desde o fim da Idade Média, quando os reis começam a tomar o poder que os senhores feudais tinham sobre suas terras, a nobreza ociosa passa a franquear o trono e a almejar o poder. Os reis buscam então o apoio das massas, não confiando mais no pessoal de sua corte4 e, fazendo isso, concedem gradualmente mais benefícios àqueles, na forma de menos servidões, no fim das contas. O poder absolutista, cada vez mais cruel e centralizado, culmina drasticamente com o governo de Luís XIV (1643 - 1715). A insatisfação já era grande nesta época de altos gastos com o luxo na corte – como mostra bem a arte rococó, com seus quadros exaltando os prazeres do cotidiano aristocrático, suas festas, sua sensualidade – enquanto a população estava imersa na miséria. Com o nascente sistema capitalista em ação, uma nova esperança surge no imaginário das pessoas, a saber, a superação da escassez dos bens necessários à vida, a superação de um antigo e comum temor popular. Ademais, a emancipação do indivíduo enquanto sujeito de sua atividade econômica – dotado de propriedade privada, graças ao liberalismo precoce de Locke –, em oposição ao mercantilismo estatal, foram importantes fatores, existentes principalmente na Inglaterra, para o que se seguiria.A arquitetura rococó pomposa e cortesã era a mesma arquitetura repleta de janelas que deixavam adentrar a luz, e em 1789 eclode a Revolução Francesa e a junção entre burguesia e classes populares, embora momentânea, foi selada. A volta ao pensamento indutivo, à forma humana, ao equilíbrio do Neoclassicismo foi o legado que homens como Montesquieu deixaram para a arte do século posterior. A teoria política criada por ele e que se reflete na divisão dos poderes estatais, por exemplo, são aulas de vida para acadêmicos e políticos até os dias de hoje.§ Montesquieu defendia a divisão do poder em três:§ Poder Executivo (órgão responsável pela administração do território e concentrado nas mãos do monarca ou regente);§ Poder Legislativo (órgão responsável pela elaboração das leis e representado pelas câmaras de parlamentares);§ Poder Judiciário(órgão responsável pela fiscalização do cumprimento das leis e exercido por juízes e magistrados).§ Era a favor Monarquia Parlamentar.Outra importante teoria de Montesquieu trata das relações das formas de Governo e seus princípios, segundo o autor as formas seriam as seguintes:§ República - Democracia (Princípio–Patriotismo)*Formas de Governo§ Aristocracia(Princípio–Moderação)§ Monarquia (Princípio-Honra)§ Despotismo(Princípio – Terror)Montesquieu atribuiu mais algumas classificações a estas formas de governo, tais como:*Formas Puras:§ Monarquia: Governo de um só§ Aristocracia: Governo de vários§ Democracia: Governo do povo*Formas Impuras:§ Tirania: Corrupção da Monarquia§ Oligarquia: Corrupção da Aristocracia§ Demagogia: Corrupção da DemocraciaObras, crítica e filosofia de Montesquieu
Cartas Persas (Lettres persanes)
Em 1721, publicou as Cartas Persas (Lettres persanes), obra da sua juventude, e consistia num relato imaginário, sob a forma epistolar, sobre a visita de dois persas, Rica e Usbeck, a Paris, durante o reinado de Luís XIV. As duas personagens escrevem para seus amigos na Pérsia descrevendo tudo o que veem em Paris. Por meio desta narrativa, critica os costumes, as instituições políticas e os abusos da Igreja Católica e do Estado absolutista na França da época.O Espírito das Leis (L'Esprit des lois)
Montesquieu elaborou uma teoria política, que apareceu na sua obra mais famosa, o O Espírito das Leis (L'Esprit des lois, 1748), inspirada em John Locke e no seu estudo das instituições políticas inglesas. É uma obra volumosa, na qual se discute a respeito das instituições e das leis, e busca-se compreender as diversas legislações existentes em diferentes lugares e épocas. Esta obra inspirou os redatores da Constituição de 1791 e tornou-se na fonte das doutrinas constitucionais liberais, que repousam na separação dos poderes legislativo, executivo e judiciário."O Espírito das Leis" foi proibida em diversos círculos intelectuais e também incluída no Index Librorum Prohibitorum da Igreja Católica. Foi também duramente recriminado pelo clero francês, na Sorbonne e em diversos artigos, panfletos e outros escritos. Toda essa reacção negativa deu a obra uma maior abrangência e repercussão que a conseguida por "Cartas Persas"."O Espírito das Leis" analisa de maneira extensa e profunda os fatos humanos com um rigoroso esboço de interpretação do mundo histórico, social e político. A pertinência das observações e a preocupação com o método permitem encontrar no seu trabalho elementos que prenunciam uma análise sociológica. Eis algumas das principais ideias de Montesquieu expressas nesta obra tão importante:§ As leis escritas ou não, que governam os povos, não são fruto do capricho ou do arbítrio de quem legisla. Ao contrário, decorrem darealidade social e da História concreta própria ao povo considerado. Não existem leis justas ou injustas. O que existe são leis mais ou menos adequadas a um determinado povo e a uma determinada circunstância de época ou lugar. O autor procura estabelecer a relação das leis com as sociedades, ou ainda, com o espírito dessas.O que Montesquieu descreve como espírito geral de uma sociedade aparece como resultante de causas físicas (o clima), causas morais(costumes, religião…) e das máximas de um governo (ARON, R.). Modernamente, seria o que chamamos vulgarmente de uma identidade nacional que se constitui conforme os fatores citados acima.As máximas anteriormente descritas dizem respeito aos, segundo o próprio autor, tipos e conceitos que dariam conta daquilo que as causas não abrangem. Seriam por conseguinte o princípio (o que põe os governos em movimento, o princípio motor em linguagem filosófica, constituído pelas paixões e necessidades dos homens) e a natureza (aquilo que faz um governo ser o que é, determinado pela quantidade daqueles que detêm a soberania) de um governo.Segundo estas duas características fundamentais de um governo, Montesquieu distingue três formas de governo:§ Monarquia - soberania nas mãos de uma só pessoa (o monarca) segundo leis positivas e o seu princípio é a honra;§ Despotismo - soberania nas mãos de uma só pessoa (o déspota) segundo a vontade deste e o seu princípio é o medo;§ República - a soberania está nas mãos de muitos (de todos = democracia, ou de alguns = aristocracia) e o seu princípio motor é avirtude;Apesar de ser muito influenciado pelos clássicos (notadamente Aristóteles), o seu esquema de governos é diferente destes últimos. Montesquieu, ao considerar a democracia e a aristocracia um mesmo tipo (agrupados na república) e ao falar de despotismo como um tipo em si e não a corrupção de outro (neste caso, da monarquia), mostra-se mais preocupado com a forma com que será exercido o poder: se é exercido seguindo leis ou não.Ao procurar descobrir as relações que as leis têm com a natureza e o princípio de cada governo, Montesquieu desenvolve uma alentada teoria de governo que alimenta as ideias fecundas do constitucionalismo, pelo qual se busca distribuir a autoridade por meios legais, de modo a evitar a violência e o abuso de poder de alguns. Tais ideias se encaminham para uma melhor definição da separação dos poderes, ainda hoje uma das pedras angulares do exercício do poder democrático. Montesquieu admirava a constituição inglesa, mesmo sem compreendê-la completamente, e descreveu cuidadosamente a separação dos poderes em Executivo, Judiciário e Legislativo, trabalho que influenciou os elaboradores da Constituição dos Estados Unidos da América.O poder legislativo, convocado pelo executivo, deveria ser separado em duas casas: o corpo dos comuns, composto pelos representantes do povo, e o corpo dos nobres, formado por nobres, hereditário e com a faculdade de impedir (vetar) as decisões do corpo dos comuns. Essas duas casas teriam assembleias e deliberações separadas, assim como interesses e opiniões independentes. Refletindo sobre o abuso do poder real, Montesquieu conclui que "é preciso que o poder limite o poder" daí a necessidade de cada poder manter-se autônomo e constituído por pessoas e grupos diferentes.É bem verdade que a proposta da divisão dos poderes ainda não se encontra em Montesquieu com a força que costumou-se posteriormente a atribuir-lhe. Em outras passagens de sua obra, ele não defende uma separação tão rígida, pois o que ele pretendia de fato era realçar a relação de forças e a necessidade de equilíbrio e harmonia entre os três poderes.Montesquieu não era um revolucionário. Sua opção social ainda era por sua classe de origem, a nobreza. Ele sonhava apenas com a limitação do poder absoluto dos reis, pois era um conservador, que queria a restauração das monarquias medievais e o poder do Estadonas mãos da nobreza. As convicções de Montesquieu refletem-se à sua classe e portanto o aproximam dos ideais de uma aristocracia liberal. Ou seja, ele critica toda a forma dedespotismo, mas não aprecia a ideia de o povo assumir o poder. A sua crítica, no entanto, serviu para desencadear a Revolução Americana e instaurar a república burguesa.Das leis em suas relações com os diversos seres
A lei é natural dos seres, própria deles. A lei deriva da natureza das coisas e não do arbítrio (vontade) de um, qual seja a crítica ao sistema hobbesiano. É em virtude disso que devemos ter em mente que o barão de La Brède foi sem dúvida um dos pensadores mais renomados e um articulador de ideias ricas de esplendor e princípios éticos e moraisembasados no cotidiano de sua época, e com conhecimentos úteis para o tempo presente. Montesquieu foi o proclamador do Direito em virtude, e com a sua formação e inteligênciapropôs divisões para o Direito em sua essência principal, que nada mais é que prender-se à igualdade e liberdade de cada cidadão.O juiz não pode criar leis
Como já foi acima mencionado, "o Espírito das Leis" de Montesquieu defende a divisão do poder público em três poderes, inspirado no sistema político constitucional da Inglaterraquando de sua viagem. Essa separação, segundo o autor, é essencial para que haja a liberdade do cidadão em se sentir seguro perante o Estado e perante outro cidadão, pois se fosse dado a mais de um desses poderes o poder de legislar e ao mesmo tempo julgar essa medida seria extremamente autoritária e arbitrária perante o cidadão que estaria praticamente indefeso, ou seja, estaria a mercê de um juiz legislador.Montesquieu diz claramente que: "Não haverá também liberdade se o poder de julgar não estiver separado do poder legislativo e do executivo, não existe liberdade, pois pode-se temer que o mesmo monarca ou o mesmo senado apenas estabeleçam leis tirânicas para executá-las tiranicamente". Ainda completa: "O poder de julgar não deve ser outorgado a um senado permanente, mas exercido por pessoas extraídas do corpo do povo, num certo período do ano, de modo prescrito pela lei, para formar um tribunal que dure apenas o tempo necessário.".Citações
§ "A religião é menos um tema de santificação do que um tema de discussões que pertence a todos"§ "A subtileza do pensamento consiste em descobrir a semelhança das coisas diferentes e a diferença das coisas semelhantes"§ "Recebemos três educações diferentes: a dos nossos pais, a dos nossos mestres e a do mundo. O que aprendemos nesta última, destrói todas as ideias das duas primeiras"
Pascal, Blaise (1623-1662)
Blaise Pascal (Clermont-Ferrand, 19 de Junho de 1623 — Paris, 19 de Agosto de 1662) foi um físico, matemático, filósofomoralista e teólogo francês.VidaBlaise Pascal era filho de Étienne Pascal e Antoniette Bejon. Perdeu a sua mãe com três anos de idade. Seu Pai tratou da sua educação por ele ser o único filho do sexo masculino. A educação que lhe foi dada por seu pai tinha em vista o desenvolvimento correcto da sua razão e do seu juízo. O recurso aos jogos didácticos era parte integrante do seu ensino em disciplinas tão variadas como a História, a Geografia ou a Filosofia.Blaise Pascal contribuiu decisivamente para a criação de dois novos ramos da matemática: a Geometria Projetiva e a Teoria das probabilidades. Em Física, estudou a mecânica dos fluidos, e esclareceu os conceitos de pressão e vácuo ampliando o trabalho de Evangelista Torricelli. É ainda o autor da primeira máquina de calcular mecânica, a Pascaline, e de estudos sobre o método científico.Seguindo o programa de Galileu e Torricelli, refutou o conceito de "horror ao vazio". Os seus resultados geraram numerosas controvérsias entre os aristotélicos tradicionais.[1]Tinha um filho chamado Nycolas Guttemberg, também era filho de um professor de matemática, Etienne Pascal, teve uma educação muito religiosa tendo-se recolhido numa vida ascética após a crise de 1654, período em que escreve várias obras de teor religioso. O talento precoce para as ciências físicas levou a família para Paris, onde ele se consagra ao estudo damatemática.Acompanhou o pai quando este foi transferido para Rouen e lá realizou as primeiras pesquisas no campo da Física. Realizou experiências sobre sons que resultaram em um pequeno tratado (1634) e no ano seguinte chegou à dedução de 32 proposições de geometria estabelecidas por Euclides. Publicou Essay pour les coniques (1640), contendo o célebre teorema de Pascal.Como matemático, interessou-se pelo cálculo infinitesimal, pelas sequências, tendo enunciado o princípio da recorrência matemática. Criou um tipo de máquina de calcular que chamou de La pascaline (1642), a primeira calculadora mecânica que se conhece, conservada no Conservatório de Artes e Medidas de Paris.Em uma citação de Anders Hald:Para aliviar o trabalho do seu pai como um agente fiscal, Pascal inventou uma máquina de calcular para adição e subtração assegurando sua construção e venda. Em 1646 a família converte-se ao Jansenismo.De volta a Paris (1647), influenciado pelas experiências de Torricelli, enunciou os primeiros trabalhos sobre o vácuo e demonstrou as variações da pressão atmosférica. A partir de então, desenvolveu extensivas pesquisas utilizando sifões, seringas, foles e tubos de vários tamanhos e formas e com líquidos como água, mercúrio, óleo, vinho, ar, etc., no vácuo e sob pressão atmosférica.Seu pai morrera em 1651. Na sequência de uma experiência mística em finais 1654, ele fizera a sua "segunda conversão", abandonou o seu trabalho científico, e se dedicou à filosofiae teologia. Suas duas obras mais famosas datam dessa época: Les Provinciales e as Pensées, tempo este durante o conflito entre jansenistas e jesuítas. Neste ano, também escreveu um importante tratado sobre a aritmética dos triângulos.[2]Aperfeiçoou o barômetro de Torricelli e, na matemática, publicou o Traité du triangle arithmétique (1654). Juntamente com Pierre de Fermat, estabelecendo as bases da teoria das probabilidades e da análise combinatória (1654), que o holandês Huygens ampliou posteriormente (1657). Entre 1658 e 1659, escreveu sobre o ciclóide e a sua utilização no cálculo do volume de sólidos.[3]
Neste mesmo ano, após uma "visão divina", abandonou as ciências para se dedicar exclusivamente à teologia, e no ano seguinte recolheu-se à abadia de Port-Royal des Champs, centro do jansenismo, só voltando às ciências após "novo milagre" (1658). Neste período publicou seus principais livros filosófico-religiosos: Les Provinciales (1656-1657), conjunto de 18 cartas escritas para defender o jansenista Antoine Arnauld, oponente dos jesuítas, que estava em julgamento pelos teólogos de Paris, e Pensées (1670), um tratado sobre a espiritualidade, em que fez a defesa do cristianismo. É em sua obra "Pensées" (Pensamentos) que está a sua frase mais citada: "O coração tem suas razões, que a própria razão desconhece".Como teólogo e escritor destacou-se como um dos mestres do racionalismo e irracionalismo modernos e sua obra influenciou os inglesesCharles e John Wesley, fundadores da Igreja Metodista.Um dos seus tratados sobre hidrostática, Traité de l'équilibre des liqueurs, só foi publicado postumamente, um ano após sua morte (1663). Esclareceu finalmente os princípios barométricos, da prensa hidráulica e da transmissibilidade de pressões. Estabeleceu o princípio de Pascal que diz: em um líquido em repouso ou equilíbrio as variações de pressão transmitem-se igualmente e sem perdas para todos os pontos da massa líquida. É o princípio de funcionamento do macaco hidráulico. Na Mecânica é homenageado com a unidade de tensão mecânica (ou pressão) Pascal (1Pa = 1 N/m²; 105 N/m² = 1 bar).Pascal, que sempre teve uma saúde frágil, adoece gravemente em 1659, e morre em 19 de Agosto de 1662, dois meses após completar 39 anos. Encontra-se sepultado na Igreja de Saint-Étienne-du-Mont, Ilha de França, Paris na França.[4]Spinoza, Baruch de (1632-1677)
Bento de Espinoza[1] (também Benedito Espinoza; em hebraico: ברוך שפינוזה, transl. Baruch Spinoza) (24 de novembro de1632, Amsterdã — 21 de fevereiro de 1677, Haia) foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu em Amsterdã, nos Países Baixos, no seio de uma famíliajudaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.Vida
A sua família fugiu da Inquisição de Portugal. Foi um profundo estudioso da Bíblia, do Talmude e de obras de judeus comoMaimónides, Ben Gherson, Ibn Ezra, Hasdai Crescas, Ibn Gabirol, Moisés de Córdoba e outros. Também se dedicou ao estudo de Sócrates, Platão, Aristóteles, Demócrito, Epicuro, Lucrécio e também de Giordano Bruno;Ganhou fama pelas suas posições de panteísmo (Deus, natureza naturante) e do monismo neutro, e ainda devido ao fato da sua ética ter sido escrita sob a forma de postulado edefinições, como se fosse um tratado de geometria.Excomunhão (Chérem)
No verão de 1656, a Sinagoga Portuguesa de Amsterdão o puniu com o Chérem, equivalente à Excomunhão, pelos seus postulados a respeito de Deus em sua obra, defendendo que Deus é o mecanismo imanente da natureza e do universo, e a Bíblia uma obrametafórico-alegórica que não pede leitura racional e que não exprime a verdade sobre Deus.Conforme Will Durant, seu Chérem pelos judeus de Amsterdã, tal como ocorrera com as atitudes que levaram à retração e posterior suicídio de Uriel da Costa em 1647, fora como que um gesto de "gratidão" por parte dos judeus com o povo holandês.Embora os pensamentos de Spinoza e da Costa não fossem totalmente estranhos ao judaísmo, vinham contra os pilares da crença cristã. Os judeus, perseguidos por toda Europa na época, especialmente pelos governos ibéricos e luteranos alemães, haviam recebido abrigo, proteção e tolerância dos protestantes de inspiração calvinista dos Países Baixos e, assim, não poderiam permitir no seio de sua comunidade um pensador tido como herege.Pós Chérem
Após o Chérem adotou o primeiro nome Benedictus ("Bendito", a tradução do seu nome original - Baruch - para o latim).Para sua subsistência trabalhava com polimento de lentes, durante os períodos em que viveu em casas de famílias em Outerdek (próximo a Amsterdã) e em Rhynsburg, tendo recusado várias oportunidades e recompensas durante sua vida, incluindo prestigiosas posições de ensino. Nesta última localidade escreveu suas principais obras.Uma vez que as reações públicas ao seu Tratado Teológico-Político não lhe eram favoráveis, absteve-se de publicar seus trabalhos. A Ética foi publicada após sua morte, na Opera Postuma editada por seus amigos.Morte
Morreu num domingo, 21 de fevereiro de 1677, aos quarenta e quatro anos, vitimado pela tuberculose. Morava então com a família Van den Spyck, em Haia. A família havia ido à igreja e o deixara com o amigo Dr. Meyer. Ao voltarem, encontraram-no morto.Traços físicos
Conforme Colerus que o conheceu em Rhynsburg, Spinoza "era de mediana estatura, feições regulares, pele cor de oliva, cabelos pretos e crespos, sobrancelhas negras e bastas, denunciando claramente a descendência de judeus Sefardim ou sefarditas (originalmente naturais da Península Ibérica). No trajar muito descuidado, a ponto de quase se confundir com os cidadãos da mais baixa classe".Reconhecimento
Suas obras o fizeram reconhecido em vida, recebeu cartas de figuras proeminentes como Henry Oldenburg da Royal Society of England, do jovem nobre alemão, o inventor Von Tschirnhaus, do cientista holandês Huygens, de Leibnitz, do médico Louis Meyer de Haia, do rico mercador De Vries de Amsterdã.Luís XIV lhe ofereceu uma larga pensão para que Spinoza lhe dedicasse um livro. O filósofo recusou polidamente.O príncipe de Condé, na chefia do exército da França que invadira a Holanda novamente convidou-o a aceitar uma pensão do rei da França e ser apresentado a vários admiradores. Spinoza desta vez aceitou a honraria, mas se viu em dificuldades ao retornar a Haia, por causa dessa suposta "traição". Porém, logo o povo, ao perceber que se tratava de um filósofo, um inofensivo, se acalmou.O monumento feito em homenagem a Spinoza, em Haia foi assim comentado por Renan em 1882:"Maldição sobre o passante que insultar essa suave cabeça pensativa. Será punido como todas as almas vulgares são punidas – pela sua própria vulgaridade e pela incapacidade de conceber o que é divino. Este homem, do seu pedestal de granito, apontará a todos o caminho da bem-aventurança por ele encontrado; e por todos os tempos o homem culto que por aqui passar dirá em seu coração: Foi quem teve a mais profunda visão de Deus"O retrato de Spinoza foi impresso nas antigas notas de 1000 florins dos Países Baixos, até a introdução do euro, em 2002.Obra
Livros
a) Publicados "post mortem":Escritos em latim:§ Ética demonstrada à maneira dos geômetras (Ethica Ordine Geometrico Demonstrata) - escrito em Rhynsburg; Conteúdo:§ Primeira parte: Deus§ Segunda parte: A natureza e a Origem da Mente§ Terceira parte: A Origem e a Natureza dos Afetos§ Quarta parte: A Servidão Humana ou a Força dos Afetos§ Quinta parte: A Potência do Intelecto ou a Liberdade Humana§ Tratado Político (depois incluído na Ética);§ Tratado do Arco-írisEscritos em holandês:§ Um breve Tratado sobre Deus e o Homem (foi um esboço da Ética);b) Publicados§ Melhoramento do Intelecto (De Intellectus Emendatione) - Ensaio§ Príncípios da Cartesiana§ Tratado sobre a Religião e o Estado (Tractatus theologico politicus)Conteúdo filosófico
Spinoza defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, a saber, a única substância em que consiste o universo e do qual todas as entidades menores constituem modalidades ou modificações. Ele afirmou que Deus sive Natura ("Deus ou Natureza" em latim) era um ser de infinitos atributos, entre os quais a extensão (sob o conceito atual de matéria) e o pensamento eram apenas dois conhecidos por nós.A sua visão da natureza da realidade, então, fez tratar os mundos físicos e mentais como dois mundos diferentes ou submundos paralelos que nem se sobrepõem nem interagem mas coexistem em uma coisa só que é a substância. Esta formulação é uma solução muitas vezes considerada um tipo de panteísta e de monismo.Spinoza também propunha uma espécie de determinismo, segundo o qual absolutamente tudo o que acontece ocorre através da operação da necessidade, e nunca da teleologia. Para ele, até mesmo o comportamento humano seria totalmente determinado, sendo então a liberdade a nossa capacidade de saber que somos determinados e compreender por queagimos como agimos. Deste modo, a liberdade para Spinoza não é a possibilidade de dizer "não" àquilo que nos acontece, mas sim a possibilidade de dizer "sim" e compreender completamente por que as coisas deverão acontecer de determinada maneira. [2]A filosofia de Spinoza tem muito em comum com o estoicismo, mas difere muito dos estóicos num aspecto importante: ele rejeitou fortemente a afirmação de que a razão pode dominar a emoção. Pelo contrário, defendeu que uma emoção pode ser ultrapassada apenas por uma emoção maior. A distinção crucial era, para ele, entre as emoções activas e passivas, sendo as primeiras aquelas que são compreendidas racionalmente e as outras as que não o são.Substância
Para Spinoza, a substância não possui causa fora de si, ela é causa de si mesma, ou seja, uma causa sui. Ela é singular a ponto de não poder ser concebida por outra coisa que não ela mesma. Por ser causa de si, a substância é totalmente independente, livre de qualquer outra coisa, pois sua existência basta-se em si mesma. Ou seja, a substância, para que o entendimento possa formar seu conceito, não precisa do conceito de outra coisa. A substância é absolutamente infinita, pois se não o fosse, precisaria ser limitada por outra substância da mesma natureza.Pela proposição V da Parte I da Ética, ele afirma: "Uma substância não pode ser produzida por outra substância", portanto, não existe nada que limite a substância, sendo ela, então, infinita. Da mesma forma, a substância é indivisível, pois, do contrário, ao ser dividida ela, ou conservaria a natureza da substância primeira, ou não. Se conservasse, então uma substância formaria outra, o que é impossível de acordo com a proposição VI; se não conservasse, então a substância primeira perderia sua natureza, logo, deixaria de existir, o que é impossível pela proposição 7, a saber: "à natureza de uma substância pertence o existir". Assim, a substância é indivisível.Assim, sendo da natureza da substância absolutamente infinita existir e não podendo ser dividida, ela é única, ou seja, só há uma única substância absolutamente infinita ou Deus.Apesar de ser denominado Deus, a substância de Espinoza é radicalmente diferente do Deus judaico-cristão, pois não tem vontade ou finalidade já que a substância não pode ser sem existir (se pudesse ser sem existir, haveria uma divisão e a substância seria limitada por outra, o que, para Espinoza, é absurdo, como foi explicado no parágrafo anterior). Consequentemente, o Deus de Espinoza não é alvo de preces e menos ainda exigiria uma nova religião.Os afetos - o desejo, a alegria e a tristeza
Os corpos se individualizam em razão do movimento e do repouso, da velocidade e lentidão e não em função de alguma substância particular (escólio 1 da prop. 13 da parte 2 da Ética), e a identidade individual através do tempo e da mudança consiste na manutenção de uma determinada proporção de movimento e repouso das partes do corpo (prop. 13 da parte 2 da Ética). O corpo humano é um complexo de corpos individuais, e é capaz de manter suas proporções de movimento e de repouso ao passar por uma ampla variedade de modificações impostas pelo movimento e repouso de outros corpos. Essas modificações são o que Espinoza chama de afecções.Uma afecção que aumenta a capacidade do corpo de manter suas proporções características de movimento e repouso aumenta a potência de agir e tem, em paralelo, na mente, uma modificação que aumenta a potência de pensar. A passagem de uma potência menor para uma maior é o afeto de alegria (definição dos afetos, parte 2 da Ética). Uma afecção que diminui a potência do corpo de manter as proporções de movimento e repouso diminui a potência de agir e tem, em paralelo, na mente, uma diminuição da potência de pensar. A passagem de uma potência maior para uma menor é o afeto de tristeza. Já uma afecção que ultrapassa as proporções de movimento e repouso dos corpos que compõe o corpo humano destrói o corpo humano e a mente (morte).Os indivíduos (mentes e corpos) se esforçam em perseverar em sua existência tanto quanto podem (prop. 6 da parte 3 da Ética). Eles sempre se esforçam para ter alegria, isto é, um aumento de sua potência de agir e de pensar, e eles sempre se opõem ao que lhes causa tristeza, ou seja, aquilo que diminui sua capacidade de manter as proporções de movimento e repouso características de seu corpo. O esforço por manter e aumentar a potência de agir do corpo e de pensar da mente é o que Espinoza chama de desejo (conatus)."Não é por julgarmos uma coisa boa que nos esforçamos por ela, que a queremos, que a apetecemos, que a desejamos, mas, ao contrário, é por nos esforçarmos por ela, por querê-la, por apetecê-la, por desejá-la, que a julgamos boa". Espinoza, Ética, parte 3 prop. 9 esc.As afecções que são atribuídas à ação do corpo humano testemunham o aumento de sua potência de agir e de pensar e, por isso, o afeto de alegria sempre impulsiona à atividade. Em contraste, as afecções que diminuem a potência de agir e de pensar (provocando tristeza) testemunham sempre a passividade do corpo humano, são sempre passivas, são paixões (do grego pathos, sofrer uma ação).Para Espinoza, a ilusão dos homens de que suas ações resultam de uma livre decisão da mente é consequência de eles serem conscientes apenas de suas ações enquanto ignoram as causas pelas quais são determinados, o que faz com que suas ações sejam determinadas pelas paixões. Isso é o que ele chama de primeiro gênero de conhecimento,imaginação ou idéias inadequadas(a consciência de nossos afetos, e a inconsciência do que os determina). O segundo gênero de conhecimento são as noções comuns ouidéias adequadas, que se caraterizam pela consciência do que nos determina a agir. As idéias adequadas sempre são efeitos da alegria, acarretam alegria e impulsionam a atividade, enquanto a imaginação (idéias inadequadas) se caracteriza pela passividade e pelo acaso de causar ou ser efeito da alegria ou da tristeza."[...] uma criancinha acredita apetecer, livrementre, o leite; um menino furioso, a vingança; e o intimidado, a fuga. Um homem embriagado também acredita que é pela livre decisão de sua mente que fala aquilo sobre o qual, mais tarde, já sóbrio, preferiria ter calado. Igualmente, o homem que diz loucuras, a mulher que fala demais, a criança e muitos outros do mesmo gênero acreditam que assim se expressam por uma livre decisão da mente, quando, na verdade, não são capazes de conter o impulso que os leva a falar. Assim, a própria experiência ensina, não menos claramente que a razão, que os homens se julgam livres apenas porque são conscientes de suas ações, mas desconhecem as causas pelas quais são determinados. Ensina também que as decisões da mente nada mais são do que os próprios apetites: elas variam, portanto, de acordo com a variável disposição do corpo. Assim, cada um regula tudo de acordo com o seu próprio afeto e, além disso, aqueles que são afligidos por afetos opostos não sabem o que querem, enquanto aqueles que não têm nenhum afeto são, pelo menor impulso, arrastados de um lado para outro. Sem dúvida, tudo isso mostra claramente que tanto a decisão da mente, quanto o apetite e a determinação do corpo são, por natureza, coisas simultâneas, ou melhor, são uma só e mesma coisa, que chamamos decisão quando considerada sob o atributo do pensamento e explicada por si mesma, e determinação, quando considerada sob o atributo da extensão e deduzida das leis do movimento e do repouso [...]" Spinoza, Ética, parte 3, prop 2 esc.A grande inovação da ética de Espinoza foi que, nela, a razão não se opõe aos afetos, pelo contrário, a própria razão é um afeto, um desejo de encontrar ou criar as oportunidades de alegria na vida e de evitar ou desfazer ao máximo as circunstâncias que causam tristeza, mas o próprio desejo-razão (do mesmo modo que os outros tipos de afetos) não depende da vontade livre, mas de afecções que fogem ao controle do indivíduo porque são modos da substância única infinita que não tem finalidade nem providência. Em diversas obras[3][4], Espinoza diz que é nocivo (diminui nossa potência de agir e de pensar) ridicularizar ou reprovar alguém dominado pelas paixões, porque isso não depende da livre decisão da mente. O único modo do homem que se guia pela razão ajudar os outros é, nas palavras de Espinoza:"Não rir nem chorar, mas compreender". (Espinoza, Tratado Político)A ética de Espinoza é a ética da alegria. Para ele, só a alegria é boa, unicamente a alegria nos leva ao amor (que ele define como a idéia de alegria associada a uma causa exterior) no cotidiano e na convivência com os outros, enquanto a tristeza sempre é má, intrinsecamente relacionada ao ódio (que ele define como a idéia de tristeza associada a uma causa exterior), a tristeza sempre é destrutiva para nós e para os outros.O terceiro gênero de conhecimento - beatitude
Além dos dois gêneros citados anteriormente, Espinoza afirma ainda um terceiro, chamado beatitude. Esse conhecimento se caracteriza por compreender nas coisas singulares o aspecto da eternidade (sub specie eternitatis). Seria algo como ver as coisas singulares como inseparáveis dos modos da substância infinita e eterna (Deus), compreendendo que as coisas singulates são elas mesmas eternas, existindo fora do tempo. Esse é um dos conceitos de Espinoza mais controversos e discutidos.[5]A influência
Spinoza ficou considerado como maldito por muitos anos após sua morte. Quem recuperou sua reputação foi o crítico Lessing em seus diálogos com Jacobi em 1784. Na sequência, o filósofo foi citado, elogiado e inspirou pessoas como os teólogos liberais Herder e Schleiermacher, o poeta católico Novalis, o grande Goethe;Da combinação da epistemologia de Kant saíram os "panteísmos" de Fichte, Schelling e de Hegel. Influenciou os conceitos de Schopenhauer, Nietzsche e Bergson em seus "vontade de vencer", "vontade de poder" e "élan vital", respectivamente. Inspirou o pensador inglês Coleridge, ainda os conterrâneos, poeta Wordsworth e também Shelley.
Voltaire (1694-1778)
François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire (Paris, 21 de novembro de 1694 — Paris, 30 de maio de 1778), foi um escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês.
Conhecido
pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civis,
inclusive liberdade religiosa e livre comércio. É uma dentre muitas
figuras do Iluminismo cujas obras e ideias influenciaram pensadores
importantes tanto da Revolução Francesa quanto da Americana. Escritor
prolífico, Voltaire produziu cerca de 70 obras[1] em quase
todas as formas literárias, assinando peças de teatro, poemas, romances,
ensaios, obras científicas e históricas, mais de 20 mil cartas e mais
de 2 mil livros e panfletos. Foi um defensor aberto da reforma social
apesar das rígidas leis de censura e severas punições para quem as
quebrasse. Um polemista satírico, ele frequentemente usou suas obras
para criticar a Igreja Católica e as instituições francesas do seu
tempo. Voltaire é o patriarca de Ferney. Ficou conhecido por dirigir
duas críticas aos reis absolutistas e aos privilégios do clero e da
nobreza. Por dizer o que pensava, foi preso duas vezes e, para escapar a
uma nova prisão, refugiou-se na Inglaterra. Durante os três anos em que
permaneceu naquele país, conheceu e passou a admirar as ideias
políticas deJohn Locke.
Ideias
Voltaire
foi um pensador que se opôs à intolerância religiosa e à intolerância
de opinião existentes na Europa no período em que viveu. Suas ideias
revolucionárias acabaram por fazer com que fosse exilado de seu país de
origem, a França.
O
conjunto de ideias de Voltaire constitui uma tendência de pensamento
conhecida como Liberalismo, onde o indivíduo é capaz de elaborar as suas
próprias leis, em que a vontade da maioria prevalece (não deve ser
confundido com o sistema elaborado por Adam Smith, chamado de
Liberalismo Econômico).
Por
fim, destaca-se que Voltaire, em sua vida, também foi "conselheiro" de
alguns reis, como é o caso de Frederico II, o grande, da Prússia, um
déspota esclarecido.
Carreira
Filho
de abastada família burguesa, estudou com os jesuítas no colégio de
Clermont onde revelou-se um aluno brilhante. Frequentou a Societé du
Temple, de libertinos e livres pensadores. Por causa de versos
irreverentes contra os governantes foi preso na Bastilha (1717-1718),
onde iniciou a tragédia “Édipo” (1718) e o “Poema da Liga” (1723). Logo
tornou-se rico e célebre, mas uma altercação com o príncipe de
Rohan-Chabot valeu-lhe nova prisão e foi obrigado a exilar-se na
Inglaterra (1726-1728). Ali, orientou definitivamente sua obra e seu
pensamento para uma filosofia reformadora. Celebrou a liberdade em uma
tragédia (Brutus, 1730), criticou a guerra (História de Carlos XII,
1731), os dogmas cristãos (Epístola a Urânio, 1733), as falsas glórias
literárias (O templo do gosto, 1733) e escreveu um dos livros que mais o
projetaram, as “Cartas Filosóficas” ou “Cartas sobre os ingleses”, que
criticava o regime político francês, fazendo espirituosas comparações
entre a liberdade inglesa e o atraso da França absolutista, clerical e
obsoleta. Condenado esse livro pelas suas autoridades, refugiou-se no
castelo de Cirey, onde procurou rejuvenescer a tragédia (Zaire, 1732; A
morte de César, 1735; Mérope, 1743). Logrou obter um lugar na Academia
Francesa (1746) graças a algumas poesias (Poema de Fontenoy, 1745), e,
no mesmo ano, foi para a corte, na condição de historiógrafo real.
Convidado por Frederico II, o Grande, da Prússia, foi viver na corte de
Potsdam, onde publicou inicialmente um conto “Zadig” (1747) e
posteriormente “O século de Luís XIV” (1751) e “Micrômegas” (1752). Em
1753, depois de um conflito com o rei, retirou-se para uma casa perto de
Genebra. Ali, chocou ao mesmo tempo os católicos (A donzela de Orléans,
1755), os protestantes (Ensaio sobre os costumes, 1756) e criticou o
pensamento de Rousseau (Poema sobre os desastres de Lisboa, 1756).
Replicando seus opositores com um conto “Cândido” (1759), refugiou-se em
seguida em Fernay. Prossegui sua obra escrevendo tragédias (Tancredo,
1760), contos filosóficos dirigidos contra os aproveitadores (Jeannot e
Colin, 1764), os abusos políticos (O ingênuo, 1767), a corrupção e a
desigualdade das riquezas (O homem de quarenta escudos, 1768), denunciou
o fanatismo clerical e as deficiências da justiça, celebrou o triunfo
da razão (Tratado sobre a tolerância, 1763; Dicionário filosófico,
1764). Iniciado maçom no dia 7 de março de 1778, mesmo ano de sua morte,
numa das cerimônias mais brilhantes da história da maçonaria mundial, a
Loja Les Neuf Sœurs, Paris, inicia ao octogenário Voltaire, que
ingressa no Templo apoiado no braço de Benjamin Franklin, embaixador dos
EUA naFrança nessa data. A sessão foi dirigida pelo Venerável Mestre
Lalande na presença de 250 irmãos. O venerável ancião, orgulho da
Europa, foi revestido com o avental que pertenceu a Helvetius e que fora
cedido, para a ocasião, pela sua viúva. Chamado a Paris em 1778, foi
recebido em triunfo pela Academia e pela Comédie-Française, onde lhe
ofereceram um busto. Esgotado, morreu a 30 de maio de 1778.
Voltaire
foi um teórico sistemático, mas um propagandista e polemista, que
atacou com veemência alguns abusos praticados pelo Antigo Regime. Tinha a
visão de que não importava o tamanho de um monarca, deveria, antes de
punir um servo, passar por todos os processos legais, e só então
executar a pena, se assim consentido por lei. Se um príncipesimplesmente
punisse e regesse de acordo com o seu bem-estar, seria apenas mais um
"salteador de estrada ao qual se chama de 'Sua Majestade'".
As
ideias presentes nos escritos de Voltaire estruturam uma teoria
coerente, mas por vezes contraditória, que em muitos aspectos expressa a
perspectiva do Iluminismo.
Defendia
a submissão ao domínio da lei, baseava-se em sua convicção de que o
poder devia ser exercido de maneira liberal e racional, sem levar em
conta as tradições.
Por
ter convivido com a liberdade inglesa, não acreditava que um governo e
um Estado liberais, tolerantes fossem utópicos. Não era um democrata, e
acreditava que as pessoas comuns estavam curvadas ao fanatismo e à
superstição. Para ele, a sociedade deveria ser reformada mediante o
progresso da razão e o incentivo à ciência e tecnologia. Assim, Voltaire
transformou-se num perseguidor ácido dos dogmas, sobretudo os da Igreja
Católica, que afirmava contradizer a ciência, no entanto, muitos dos
cientistas de seu tempo eram padres jesuítas.
Sobre
essa postura, o catedrático de filosofia Carlos Valverde escreve um
surpreendente artigo, no qual documenta uma suposta mudança de
comportamento do filósofo francês em relação à fé cristã, registrada no
tomo XII da famosa revista francesa Correpondance Littérairer, Philosophique et Critique (1753-1793). Tal texto traz, no número de abril de 1778, páginas 87-88, o seguinte relato literal de Voltaire:
"Eu,
o que escreve, declaro que havendo sofrido um vômito de sangue faz
quatro dias, na idade de oitenta e quatro anos e não havendo podido ir à
igreja, o pároco de São Suplício quis de bom grado me enviar a M.
Gautier, sacerdote. Eu me confessei com ele, se Deus me perdoava, morro
na Santa Religião Católica em que nasci esperando a misericórdia divina
que se dignará a perdoar todas minhas faltas, e que se tenho
escandalizado a Igreja, peço perdão a Deus e a ela. Assinado: Voltaire, 2
de março de 1778 na casa do marqués de Villete, na presença do senhor
abade Mignot, meu sobrinho e do senhor marqués de Villevielle. Meu
amigo."
Este
relato foi reconhecido como autêntico por alguns, pois seria confirmado
por outros documentos que se encontram no número de junho da mesma
revista, esta de cunho laico, decerto, uma vez que editada por Grimm,
Diderot e outros enciclopedistas. Já outros questionam a necessidade de
alguém que já acredita em Deus ter que se converter a uma religião
específica, como o catolicismo. No caso de Voltaire não teria ocorrido
reconversão.
Voltaire morreu em 30 de maio de 1778. A revista lhe exalta como "o
maior, o mais ilustre e talvez o único monumento desta época gloriosa
em que todos os talentos, todas as artes do espírito humano pareciam
haver se elevado ao mais alto grau de sua perfeição".
A
família quis que seus restos repousassem na abadia de Scellieres. Em 2
de junho, o bispo de Troyes, em uma breve nota, proíbe severamente ao
prior da abadia que enterre no Sagrado o corpo de Voltaire. Mas no dia
seguinte, o prior responde ao bispo que seu aviso chegara tarde, porque -
efetivamente - o corpo do filósofo já tinha sido enterrado na abadia.
Livros históricos afirmam que ele tentou destruir a Igreja a favor da
maçonaria.
A
Revolução trouxe em triunfo os restos de Voltaire ao Panteão de Paris -
antiga igreja de Santa Genoveva - , dedicada aos grandes homens. Na
escura cripta, frente a de seu inimigoRousseau, permanece até hoje a
tumba de Voltaire com este epitáfio:
"Aos
louros de Voltaire. A Assembléia Nacional decretou em 30 de maio de
1791 que havia merecido as honras dadas aos grandes homens".
Voltaire
introduziu várias reformas na França, como a liberdade de imprensa,
tolerância religiosa, tributação proporcional e redução dos privilégios
da nobreza e do clero. Mas também foi precursor da Revolução Francesa,
ela que instaurou a intolerância, a censura e o aumento dos impostos
para financiar as guerras, tanto coloniais, quanto napoleônicas
(Europa). Se, em uma obra tão diversificada, Voltaire dava preferência a
sua produção épica e trágica, foi, entretanto nos contos e nas cartas
que se impôs. Como filósofo, foi o porta voz dos iluministas. Não seria
exagero dizer que Voltaire foi o homem mais influente do século XVIII.
Seus livros foram lidos por toda a Europa e vários monarcas pediam seus
conselhos.
Obras
Cândido
É uma das obras mais conhecidas de Voltaire.O texto contrapõe ingenuidade e esperteza, desprendimento e ganância, caridade e egoísmo, delicadeza e violência, amor e ódio. Tudo isso mesclado com discussões filosóficas sobre causas e efeitos, razão suficiente, ética.
Como sempre Voltaire expõe suas concepções com fina ironia, sem abandonar o sarcasmo de quando em vez. O romance, em todos e cada um dos seus parágrafos, caracteriza-se como uma sátira às idéias de Leibnitz.
Leibnitz afirmara, pelo menos assim entendeu Voltaire, que o mundo é o melhor possível, que Deus não poderia ter construído outro e que tudo corria às mil maravilhas.
Voltaire não podia partilhar dessa mesma visão otimista, suas idéias tinham resultado em prisões e perseguições a tal ponto que, por volta de 1753, já não podia fixar-se, sem risco, em lugar algum da Europa.
Cândido foi expulso de onde morava, foi preso e torturado, perdeu sua amada, seus melhores amigos; em todos os casos com requintes de crueldade. Mas a cada um desses fatos, meditava sobre como explicar o melhor dos mundos possíveis, sempre com deboche mais ou menos sutil.
Como é peculiar a todos os seus trabalhos,o filósofo também criticou acidamente os costumes, a cultura, as artes.
Sobre as relações entre sexos, uma passagem merece ser mencionada:
“Um dia, em que passeava nas proximidades do
castelo, pelo pequeno bosque a que chamavam parque, Cunegundes viu entre
as moitas o doutor Pangloss que estava dando uma lição de física
experimental à camareira de sua mãe, moreninha muito bonita e dócil.
Como a senhorita Cunegundes tivesse grande inclinação para as ciências,
observou, sem respirar, as repetidas experiências de que foi testemunha;
viu com toda a clareza a razão suficiente do doutor, os efeitos e as
causas, e regressou toda agitada e pensativa, cheia do desejo de se
tornar sábia, e pensando que bem poderia ela ser a razão suficiente do
jovem Cândido, o qual também podia ser a sua.”
Nem mesmo as falcatruas das manufaturas européias ficaram esquecidas:
“...levou-o para casa, limpou-o, deu-lhe pão e
cerveja, presenteou-o com dois florins, e até quis ensinar-lhe a
trabalhar na sua manufatura de tecidos da Pérsia fabricados na Holanda.”
Sugestiva é a menção sobre a recompensa divina para o mal menor:
“Tínhamos um imame muito devoto e compassivo, que lhes pregou um belo sermão, persuadindo-os a que não nos matassem.
— Cortai – disse ele – apenas uma nádega a cada uma
dessas damas, e com isso vos regalareis. Se for necessário mais, tereis
outro tanto daqui a alguns dias. Deus recompensará tão caridosa ação, e
sereis socorridos.”
Não faltou a referência à relação entre exploradores e explorados, e à hipocrisia dos poderosos.
“Já estiveste então no Paraguai? – indagou Cândido.
— É verdade. Servi de fâmulo no colégio de
Assunção, e conheço o governo dos Padres como conheço as ruas de Cádiz. É
uma coisa admirável esse governo. O reino já tem mais de trezentas
léguas de diâmetro; é dividido em trinta províncias. Os padres ali têm
tudo, e o povo nada; é a obra prima da razão e da justiça. Quanto a mim,
não conheço nada mais divino do que os Padres, que aqui fazem guerra ao
rei de Espanha e ao rei de Portugal, e que na Europa confessam esses
reis; que aqui matam espanhóis e em Madrid os mandam para o céu: isto me
encanta.”
E com que graça se refere à simplicidade da riqueza e do luxo:
“Entraram numa casa muito simples, pois a porta era
apenas de prata e as salas modestamente revestidas de ouro, mas tudo
trabalhado com tanto gosto que nada ficavam a dever aos mais ricos
lambris. A antecâmara, na verdade, era incrustada somente de esmeraldas e
rubis; mas a harmonia do conjunto compensava de sobra essa extrema
simplicidade.”
O respeitabilíssimo Homero não escapou das farpas:
“Cândido, ao ver um Homero magnificamente encadernado, elogiou o ilustríssimo quanto ao seu bom gosto.
— Eis – disse ele – um livro que fazia as delícias do grande Pangloss, o maior filósofo da Alemanha.
— Pois não faz as minhas – disse friamente
Pococurante. – Fizeram-me acreditar outrora que eu sentia prazer em
lê-lo; mas essa repetição contínua de combates que todos se assemelham,
esses deuses que agem sempre para nada fazer de decisivo, essa Helena
que é o motivo da guerra e que mal entra na peça; essa Tróia que cercam e
não tomam, tudo isso me causava um mortal aborrecimento. Perguntei a
eruditos se eles se aborreciam tanto quanto eu nessa leitura. Os que
eram sinceros confessaram-me que o livro lhes tombava das mãos, mas que
sempre era preciso tê-lo na biblioteca, como um monumento da
Antigüidade, é como essas moedas enferrujadas que não podem circular.”
Foi nesse romance que Voltaire escreveu uma de suas mais célebres
frases. Após ouvir uma breve dissertação sobre o perigo das grandezas,
que todos os acontecimentos estavam devidamente encadeados no melhor dos
mundos possíveis, que todo o sofrimento de Cândido acabara por reverter
em benefícios, Cândido, candidamente, respondeu:
“— Tudo isso está bem dito... mas devemos cultivar nosso jardim.”
3º Ano
Filósofos Contemporâneos
Rousseau, Jean-Jacques (1712-1778)
Jean-Jacques Rousseau
(Genebra, 28 de Junho de 1712 — Ermenonville, 2 de Julho de 1778) foi
um importante filósofo, teórico político, escritor e compositor
autodidata suíço. É considerado um dos principais filósofos do
iluminismo e um precursor do romantismo.
Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra no ano de 1712 e morreu no de 1778.
Dotado de excepcionais qualidades de inteligência e imaginação, foi ele um dos maiores escritores e filósofos do seu tempo. Em suas obras, defende a idéia da volta à natureza, a excelência natural do homem, a necessidade do contrato social para garantir os direitos da coletividade. Seu estilo, apaixonado e eloqüente, tornou-se um dos mais poderosos instrumentos de agitação e propaganda das idéias que haviam de constituir, mais tarde, o imenso cabedal teórico da Grande Revolução de 1789-93. Ao lado de Diderot, D’Alembert e tantos outros nomes insignes que elevaram, naquela época, o pensamento científico e literário da França, foi Rousseau um dos mais preciosos colaboradores do movimento enciclopedista. Das suas numerosas obras, podem citar-se, dentre as mais notáveis: Júlia ou A Nova Heloísa (1761), romance epistolar, cheio de grande sentimentalidade e amor à natureza; O Contrato Social (1762), onde a vida social é considerada sobre a base de um contrato em que cada contratante condiciona sua liberdade ao bem da comunidade, procurando proceder sempre de acordo com as aspirações da maioria; Emílio ou Da Educação (1762), romance filosófico, no qual, partindo do princípio de que “o homem é naturalmente bom” e má a educação dada pela sociedade, preconiza “uma educação negativa como a melhor, ou antes, como a única boa”; As Confissões, obra publicada após a morte do autor (1781-1788), e que é uma autobiografia sob todos os pontos-de-vista notável.
Quanto ao Discurso, aqui editado, composto em 1753 para responder à questão proposta pela Academia de Dijon, isto é: A Origem da Desigualdade entre os Homens, era a obra de Rousseau, como ele próprio informa nas suas Confissões, que o seu genial contemporâneo Diderot mais apreciava. Eis aí o melhor elogio que se poderia fazer da presente edição.
Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra no ano de 1712 e morreu no de 1778.
Dotado de excepcionais qualidades de inteligência e imaginação, foi ele um dos maiores escritores e filósofos do seu tempo. Em suas obras, defende a idéia da volta à natureza, a excelência natural do homem, a necessidade do contrato social para garantir os direitos da coletividade. Seu estilo, apaixonado e eloqüente, tornou-se um dos mais poderosos instrumentos de agitação e propaganda das idéias que haviam de constituir, mais tarde, o imenso cabedal teórico da Grande Revolução de 1789-93. Ao lado de Diderot, D’Alembert e tantos outros nomes insignes que elevaram, naquela época, o pensamento científico e literário da França, foi Rousseau um dos mais preciosos colaboradores do movimento enciclopedista. Das suas numerosas obras, podem citar-se, dentre as mais notáveis: Júlia ou A Nova Heloísa (1761), romance epistolar, cheio de grande sentimentalidade e amor à natureza; O Contrato Social (1762), onde a vida social é considerada sobre a base de um contrato em que cada contratante condiciona sua liberdade ao bem da comunidade, procurando proceder sempre de acordo com as aspirações da maioria; Emílio ou Da Educação (1762), romance filosófico, no qual, partindo do princípio de que “o homem é naturalmente bom” e má a educação dada pela sociedade, preconiza “uma educação negativa como a melhor, ou antes, como a única boa”; As Confissões, obra publicada após a morte do autor (1781-1788), e que é uma autobiografia sob todos os pontos-de-vista notável.
Quanto ao Discurso, aqui editado, composto em 1753 para responder à questão proposta pela Academia de Dijon, isto é: A Origem da Desigualdade entre os Homens, era a obra de Rousseau, como ele próprio informa nas suas Confissões, que o seu genial contemporâneo Diderot mais apreciava. Eis aí o melhor elogio que se poderia fazer da presente edição.
Biografia
Rousseau não conheceu a mãe , pois ela morreu no momento do parto. Foi criado pelo pai, Isaac Rousseau, um relojoeiro calvinista, cujo avô fora um huguenote fugido da França. Aos 10 anos teve de afastar-se do pai, mas continuaram mantendo contato.
Na
adolescência foi estudar numa rígida escola religiosa, sendo aluno do
pastor Lambercier. Gostava de passear pelos campos. Em certa ocasião,
encontrando os portões da cidade fechados, quando voltava de uma de suas
saídas, opta por vagar pelo mundo.
Acaba
tendo como amante uma rica senhora e, sob seus cuidados, desenvolvendo o
interesse pela música e filosofia. Longe de sua protetora, que agora
estava em uma situação financeira ruim e com outro amante, ele parte
para Paris.
Havia
inovado muitas coisas no campo da música, o que lhe rendeu um convite
de Diderot para que escrevesse sobre isso na famosa Enciclopédia. Além
disso, obteve sucesso com uma de suas óperas, intitulada O Adivinho da
Vila. Aos 37 anos, participando de um concurso da academia de Dijon cujo
o tema era: "O restabelecimento das ciências e das artes terá
favorecido o aprimoramento dos costumes?", torna-se famoso ao escrever
respondendo de forma negativa o Discurso Sobre as Ciências e as Artes,
ganhando o prêmio em 1750.
Após
isso, Rousseau, então famoso na elite parisiense, é convidado para
participar de discussões e jantares para expôr suas ideias. Ao contrário
de seu grande rival Voltaire, que também não tinha o sangue azul,
aquele ambiente não o agradava.
Rousseau
tem cinco filhos com sua amante de Paris, porém, acaba por colocá-los
todos em um orfanato. Uma ironia, já que anos depois escreve o livro
Emílio, ou Da Educação que ensina sobre como deve-se educar as crianças.
O
que escreve como peça mestra do Emílio, a "Profissão de Fé do Vigário
Saboiano", acarretar-lhe-á perseguições e retaliações tanto em Paris
como em Genebra. Chega a ter obras queimadas. Rousseau rejeita a
religião revelada e é fortemente censurado. Era adepto de uma religião
natural, em que o ser humano poderia encontrar Deus em seu próprio
coração.
Entretanto,
seu romance A Nova Heloísa mostra-o como defensor da moral e da justiça
divina. Apesar de tudo, o filósofo era um espiritualista e terá, por
isso e entre outras coisas, como principal inimigo Voltaire, outro
grande iluminista.
Em
sua obra Confissões, responde a muitas acusações de François-Marie
Arouet (Voltaire). No fundo, Jean-Jacques Rousseau revela-se um cristão
rebelado, desconfiado das interpretações eclesiásticas sobre os
Evangelhos. Sempre preferia uma frase:"Quantos homens entre mim e
Deus!", o que atraía a ira tanto de católicos como de protestantes.
Politicamente,
expõe suas ideias no Do contrato social/Contrato Social. Procura um
Estado social legítimo, próximo da vontade geral e distante da
corrupção. A soberania do poder, para ele, deve estar nas mãos do povo,
através do corpo político dos cidadãos. Segundo suas ideias, a população
tem que tomar cuidado ao transformar seus direitos naturais em direitos
civis, afinal "o homem nasce bom e a sociedade o corrompe".
No
ano de 1762, Rousseau começou a ser perseguido na França, pois suas
obras foram consideradas uma afronta aos costumes morais e religiosos.
Refugiou-se na cidade suíça de Neuchâtel. Em 1765, foi morar na
Inglaterra a convite do filósofo David Hume. De volta à França, casou-se
com Thérèse Levasseur, no ano de 1767.
Depois
de toda uma produção intelectual, suas fugas às perseguições e uma vida
de aventuras e de errância, Rousseau passa a levar uma vida retirada e
solitária. Por opção, ele foge dos outros homens e vive em certa
misantropia.
Nesta
época, dedica-se à natureza, que sempre foi uma de suas paixões. Seu
grande interesse por botânica o leva a recolher espécie e montar um
herbário. Seus relatos desta época estão no livro "Devaneios de
Caminhante Solitário". Falece aos 66 anos, em 2 de julho de 1778, no
castelo de Ermenonville, onde estava hospedado.
Citações
§
"O homem nasce livre, e em toda parte é posto a ferros . Quem se julga o
senhor dos outros não deixa de ser tão escravo quanto eles."
§
"A maioria de nossos males é obra nossa e os evitaríamos, quase todos,
conservando uma forma de viver simples, uniforme e solitária que nos era
prescrita pela natureza"
§
"O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo
cercado um terreno, lembrou-se de dizer 'isto é meu' e encontrou pessoas
suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras,
assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele
que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus
semelhantes: 'Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se
esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a
ninguém'"
§
"E quais poderiam ser as correntes da dependência entre homens que nada
possuem? Se me expulsam de uma árvore, sou livre para ir a uma outra"
§
"A meditação em locais retirados, o estudo da natureza e a contemplação
do universo forçam um solitário a procurar a finalidade de tudo o que
vê e a causa de tudo o que sente"
§ "A única instituição que ainda se constitui natural é a Família "
§ "O escravo não é propriedade do outro, mas não deixa de ser homem ".
§ "O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe."
§
"Mesmo quando cada um de nós pudesse alienar-se não poderia alienar a
seus filhos: eles nascem homens e livres, sua liberdade lhes pertence e
ninguém, senão eles, pode dispor dela. Antes de chegar à idade da razão,
o pai pode, em seu nome, estipular as condições de sua conservação, do
seu bem-estar, porém, não dá-los irrevogável e incondicionalmente porque
um dom semelhante contraria os fins da natureza e sobrepuja os limites
da finalidade paternal. Seria, pois, preciso para que um governo
arbitrário fosse legítimo, que, em cada geração o povo fosse dono de
aceitá-lo ou de rejeitá-lo; porém, então o governo não seria
arbitrário."
§
Sobre o governo, que para Rousseau é "Um corpo intermediário entre os
súditos e o soberano, para sua mútua correspondência, encarregado da
execução das leis e da conservação da liberdade, tanto civil como
política.", e a submissão do povo aos chefes [governantes] diz: "É
somente um incumbência, um cargo, pelo qual simples empregados
[governantes] do soberano [povo] exercem em seu nome o poder de que os
faz depositários, e que ele pode limitar, modificar e reivindicar quando
lhe aprouver."
§ "Se houvesse um povo de deuses, ele seria governado democraticamente. Um governo tão perfeito não convém aos homens."
§ "Maquiavel fingindo dar lições aos Príncipes, deu grandes lições ao povo".
Os grandes princípios da filosofia rousseauniana
O estado de natureza humano que não some do mapa tão cedo
O
estado de natureza, tal como concebido por Rousseau, está descrito
principalmente em seu livro Discurso sobre a Origem e Fundamentos da
Desigualdade Entre Homens.
A
definição da natureza humana é um equilíbrio perfeito entre o que se
quer e o que se tem. O homem natural é um ser de sensações, somente. O
homem no estado de natureza deseja somente aquilo que o rodeia, porque
ele não pensa e, portanto, é desprovido da imaginação necessária para
desenvolver um desejo que ele não percebe. Estas são as únicas coisas
que ele poderia "representar". Então, os desejos do homem no estado de
natureza são os desejos de seu corpo. "Seus desejos não passam de suas
necessidades físicas, os únicos bens que ele conhece no universo são a
alimentação, uma fêmea e o repouso".
Além
disso, o homem natural não pode prever o futuro ou imaginar coisas além
do presente. Em outras palavras, a natureza de si corresponde
perfeitamente ao exterior. No Ensaio, Rousseau sugere que o homem
natural não é sequer capaz de se distinguir de outro ser humano. Essa
distinção requer a habilidade de abstração que lhe falta. O homem
natural também ignora o que é comum entre ele e um outro ser humano.
Para o homem natural, a humanidade para no pequeno círculo de pessoas
com quem ele está no momento. "Eles tiveram a ideia de um pai, filho,
irmão, e não de um homem. A cabine continha todos os seus companheiros …
Fora eles e suas famílias, não havia mais nada no universo. " (Ensaio,
IX) A compaixão não poderia ser relevante fora do pequeno círculo, mas
também essa ignorância não permitia a guerra, como os homens não se
encontravam com praticamente ninguém. Homens, se quisessem, atacavam em
seus encontros, mas estes raramente aconteciam.
Até
então, Rousseau toma posição contra a teoria do estado de natureza
hobbesiano. O homem natural de Rousseau não é um "lobo" para seus
companheiros. Mas ele não está inclinado a se juntar a eles em uma
relação duradoura e a formar uma sociedade com eles. Ele não sente o
desejo. Seus desejos são satisfeitos pela natureza, e a sua
inteligência, reduzida apenas às sensações, não pode sequer ter uma
ideia do que seria tal associação. O homem tem o instinto natural, e seu
instinto é suficiente. Esse instinto é individualista, ele não induz a
qualquer vida social. Para viver em sociedade, é preciso a razão ao
homem natural. A razão, para Rousseau, é o instrumento que enquadra o
homem, nu, ao ambiente social, vestido. Assim como o instinto é o
instrumento de adaptação humana à natureza, a razão é o instrumento de
adaptação humana a um meio social e jurídico.
É
justamente a falta de razão que possibilita o homem a viver
naturalmente: a razão, ou a imaginação que o permite considerar outro
homem como seu alter-ego (ou seja, como um ser humano também), a
linguagem e a sociedade, tudo isso constitui a cultura, e não são
faculdades do estado de natureza. Mesmo assim, o homem natural já possui
todas essas características; ele é anti-social, mas é associável: "não é
hostil à sociedade, mas não é inclinável a ela. Foram os germes que se
desenvolveram, e podem se tornar as virtudes sociais, tendências
sociais, mas eles são apenas potenciais."(Segundo Discurso, Parte I). O
homem é sociável, antes mesmo de socializar. Possui um potencial de
sociabilidade que somente o contato com algumas forças hostis podem
expor.
Amor e ódio
Não
há dúvida de que Rousseau fez soprar um vento revolucionário sobre as
ideias de amor e ódio: ele debate a sexualidade como uma experiência
fundamental na vida do ser humano, a tomada de consciência da
importância dos sentimentos de amor e ódio na construção da sociedade
humana e no seu desenvolvimento pessoal, e enfim, essa abertura para o
debate moderno sobre a divisão do amor entre amor conjugal e amor
passional. Pode-se atribuir a Rousseau a tentativa de estabelecer, na
sociedade do século XVIII, uma nova noção: a de que a personalidade do
indivíduo, que concerne o tratamento que ele dá aos outros e a sua
própria sexualidade, é formada na infância.
O Contrato Social
A
obra Do Contrato Social, publicada em 1762, propõe que todos os homens
façam um novo contrato social onde se defenda a liberdade do homem
baseado na experiência política das antigas civilizações onde predomina o
consenso e dessa forma se garantam os direitos de todos os cidadãos, e
se desdobra em quatro livros.
No
primeiro livro “Onde se indaga como passa o homem do estado natural ao
civil e quais são as condições essenciais desse pacto”, composto de nove
capítulos. Primeiramente se aborda a liberdade natural, nata, do ser
humano, como ele a havia perdido, e como ele haveria de a recuperar.
Dessa forma, já no quarto capítulo, Rousseau condena a escravidão, como
algo paradoxal ao direito. A conclusão é que, se recuperando a
liberdade, o povo é quem escolhe seus representantes e a melhor forma de
governo se faz por meio de uma convenção.
Essa
convenção é formada pelos homens como uma forma de defesa contra
aqueles que fazem o mau. É a ocorrência do pacto social. Feito o pacto,
pode-se discutir o papel do “soberano”, e como este deveria agir para
que a soberania verdadeira, que pertence ao povo, não seja prejudicada.
Além de uma forma de defesa, na verdade o principal motivo que leva à
passagem do estado natural para o civil é a necessidade de uma liberdade
moral, que garante o sentimento de autonomia do homem.
No
segundo livro “Onde se trata da legislação”, o autor aborda os aspectos
jurídicos do Estado Civil, em doze capítulos. As principais ideias são
desenvolvidas a partir de um princípio central, a soberania do povo, que
é indivisível. O povo, então, tem interesses, que são nomeados como
“vontade geral”, que é o que mais beneficia a sociedade. Evidentemente, o
“soberano” tem que agir de acordo com essa vontade, o que representa o
limite do poder de tal governante: ele não pode ultrapassar a soberania
do povo ou a vontade geral. Mais a frente no livro, a corrupção dos
governantes quanto à vontade geral é criticada, garantindo-se o direito
de tirar do poder tal governante corrupto. Assim, se esse é o limite, o
povo é submisso à lei, porque em última análise, foi ele quem a criou;
sendo a lei a condição essencial para a associação civil.
A
terceira análise rousseauniana, corresponde ao livro terceiro, se
refere às possíveis formas de governo, que são a democracia, a
aristocracia e a monarquia, e suas características e princípios. A
principal conclusão desse livro é a partir do oitavo capítulo, em que
tipo de Estado, que forma de governo funciona melhor – para Rousseau, a
democracia é boa em cidades pequenas, a aristocracia em Estados médios e
a monarquia em Estados grandes. Em contrapartida a essas adequações, no
capítulo décimo, o autor mostra como o abuso dos governos pode
degenerar o Estado. Ainda, é destacado no capítulo nono que o principal
objetivo de uma sociedade política é a conservação da propriedade de
seus membros.
Observando
as ideias contidas no livro O Contrato Social, não é difícil entender
porque certas pessoas chamam a obra de “a Bíblia da Revolução Francesa”.
Foi grande a influência política de suas ideias na França. A inspiração
causadora das revoluções se baseiam principalmente no conceito da
soberania do povo, mudando o direito da vontade singular do príncipe
para a vontade geral do povo.
Liberdade em Rousseau
Liberdade natural
Para
Rousseau, a liberdade natural caracteriza-se por ações tomadas pelo
indivíduo com o objetivo de satisfazer seus instintos, isto é, com o
objetivo de satisfazer suas necessidades. O homem neste estado de
natureza desconsidera as consequências de suas ações para com os demais,
ou seja, não tem a vontade e nem a obrigação de manter o vínculo das
relações sociais. Outra característica é a sua total liberdade, desde
que tenha forças para colocá-la em prática, obtendo as satisfações de
suas necessidades, moldando a natureza. “O homem realmente livre faz
tudo que lhe agrada e convém, basta apenas deter os meios e adquirir
força suficiente para realizar os seus desejos.”(SAHD,2005, p. 101)
Ao
perder uma disputa com outros indivíduos o sujeito não consegue exercer
a sua liberdade, uma vez que a liberdade nesse estágio se estabelece a
partir da correlação de forças entre os indivíduos. Não há regras,
instituições ou costumes que se sobrepõem às vontades individuais para a
manutenção do “bem coletivo”. Contudo, na concepção de Rousseau, o
homem selvagem viveria isolado e por isso, não faz sentido pensar em um
bem coletivo. Também não haveria tendência ao conflito entre os
indivíduos isolados quando se encontrassem, pois seus simples desejos
(necessidades) seriam satisfeitas com pouco esforço, devido à relação de
comunhão com a natureza. O isolamento entre os indivíduos só era
quebrado para fins de reprodução, pois sendo auto-suficientes não tinham
outra necessidade para viverem em agrupamentos humanos. Foi a partir do
isolamento que o homem adquiriu qualidades como amor de si mesmo e a
piedade.
Vale
ressaltar que, para Rousseau, o homem se completa com a natureza ,
portanto não é um estado a ser superado, como Locke e Hobbes
acreditavam. Rousseau em o Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da
Desigualdade Entre os Homens, afirma que “a maioria de nossos males é
obra nossa e (…) os teríamos evitado quase todos conservando a maneira
de viver simples, uniforme e solitária que nos era prescrita pela
natureza” (ROUSSEAU apud LEOPOLDI , 2002, p. 160 )
A
consciência no estado selvagem não estabelece distinção entre bem ou
mal, uma vez que tal distinção é característica do indivíduo da
sociedade civil. Para Rousseau, o que faz o indivíduo em estado de
natureza parecer bom é, justamente, o fato de conseguir satisfazer suas
necessidades sem estabelecer conflitos com outros indivíduos, sem
escravizar e não sentindo vontade de impor a sua força a outros para
sobreviver e ser feliz.
Transição do estado de natureza para o estado civil
A
transição do estado de natureza para a ordem civil transforma a
liberdade do sujeito, ocorrendo durante um período de “guerra de todos
contra todos” que se iniciou com o estabelecimento da propriedade
privada e da ausência de instituições políticas e de regras que
impedissem a exploração entre as pessoas. Não havia cidadania neste
período pré-social (esse período, existente antes do contrato social, se
caracterizava por uma vida comum de disputas pela propriedade e pela
riqueza). Para evitar as desigualdades, advindas da propriedade privada e
do poder que devido a ela as pessoas (ricos proprietários) passam a
exercer sobre outras pessoas (pequenos proprietários e despossuídos), é
firmado o contrato social.
Na transição para a vida em sociedade Rousseau é claro em escrever que: “O
que o homem perde pelo contrato social é a liberdade natural e um
direito ilimitado a tudo quanto aventura e pode alcançar. O que com ele
ganha é a liberdade civil e a propriedade de tudo o que possui.” (ROUSSEAU, 1978, p. 36)
Esta
perda representa não apenas o desenvolvimento de faculdades racionais e
emocionais do indivíduo como também abre os precedentes para toda a
violação da liberdade, da segurança e da igualdade entre os sujeitos em
coletividade.
As
principais decorrências do estabelecimento da vida comunitária, segundo
Rousseau, se dão tanto no desenvolvimento (da consciência, da
afetividade e dos desejos) de cada indivíduo quanto nas novas
organizações e ações que se impõem aos sujeitos com advento da vida em
sociedade. No que tange ao indivíduo a sua forma de viver é alterada
quando a vida coletiva potencializa as suas capacidades intelectuais.
Para Rousseau, isso ocorre tanto como causa quanto como efeito do
contrato social; os indivíduos têm de ter uma consciência e um amor não
apenas de si, como outrora, como também devem pensar nas consequências
de seus atos em relação a outros indivíduos e reconhecer a necessidade
da convivência com estes outros indivíduos.
Em
suma o que aparece no Contrato Social como pensamento racional-moral
diz respeito às capacidades de compreensão (sensorial e lógica), de
formulação racional, de ação (individual e coletiva) e de comunicação
dos sujeitos que exercem tais faculdades nas suas relações dentro da
ordem civil. A própria ordem civil seria inviável se os sujeitos não
possuíssem tais capacidades cognitivas e afetivas e, assim não haveria
como estabelecer o contrato social se os indivíduos permanecessem apenas
centrados no amor próprio e agindo de forma irrestrita na satisfação de
suas necessidades . Se bem que neste ponto o argumento rousseauniano
não é totalmente claro quanto às causas e aos efeitos, pois ao mesmo
tempo em que é preciso que o homem abandone alguns de seus instintos
naturais e aprenda a limitar a sua liberdade em função da sua
necessidade do outro, somente a vida em sociedade permite o
desenvolvimento de tais capacidades.Ele buscava a liberdade e a
igualdade.
Liberdade civil
Na
resolução do estágio de conflito generalizado é estabelecido o contrato
social. Tal contrato é para Rousseau o que forma um povo enquanto tal,
sendo precedente a formação do Estado e do governo. Esses são
decorrentes da organização e do acordo vigentes na constituição do povo.
Aqui Rousseau estabelece um princípio de organização das instituições
políticas, no qual a organização de um povo em relação à propriedade,
aos direitos e aos deveres de cada indivíduo são estipulados na lei, a
partir do contrato social que orienta a constituição do Estado e da
legislação.
Um
dos aspectos normativos do projeto rousseauniano é o de querer
demonstrar a lógica dos princípios políticos do Estado e,
simultaneamente, medidas utilitárias para a ação política dos indivíduos
e do Estado, por exemplo, estipular que a igualdade se dê juridicamente
mesmo reconhecendo que o princípio da desigualdade decorrente da
propriedade privada ainda se mantém na ordem civil. Assim estipula uma
reformulação nas instituições políticas que não dá conta do problema
econômico-político, delineado pelo próprio Rousseau, da desigualdade de
recursos e de propriedades.
Referindo-se
a lei, Rousseau não considera as leis vigentes satisfatórias (leis
instituídas na monarquia, na aristocracia). Sua intenção é estabelecer
um padrão das leis (que seria uma forma de superar as oposições entre
indivíduo e Estado), baseado na igualdade, sendo esse critério
indispensável para o contrato social. Portanto, a justiça estabelecida
na lei deve ter reciprocidade entre os indivíduos, cada um tendo seus
direitos e deveres, tanto o soberano quanto os súditos. Por isso, as
leis devem representar toda a sociedade, sendo consideradas como vontade
geral (não no sentido de uma união das vontades individuais e sim da
vontade do corpo político ).
Porém,
Rousseau não descarta a possibilidade de “guias” para a tomada de
decisões, isto é, um Legislador que possua uma “inteligência superior ”.
Tal legislador teria uma das tarefas mais exigentes na sociedade:
estipular regras e normas que limitam a liberdade de cada indivíduo em
nome do bem desses. Para tanto deve ser capaz de exercer tal poder sem
beneficiar-se, o legislador não deve tornar-se um governante autoritário
afastado do corpo político. “The laws, it seems, have to be made, as
well as be executed, by representatives.”(HARRISON, 1995, p. 61).
Portanto,
as leis estabelecidas no contrato social asseguram a liberdade civil
através dos direitos e deveres de cada cidadão no corpo político da
sociedade. Mas para isso, cada cidadão deve “doar-se” completamente,
submetendo-se ao padrão coletivo.
Vale
ressaltar que o fator limitante da liberdade civil é a vontade geral,
uma vez que ela visa à igualdade (o que torna os indivíduos realmente
livres), pois a liberdade no estado civil não se dá apenas pelos
interesses particulares, mas também pelos interesses do corpo político.
Assim, o contrato social não apenas iguala todos os cidadãos, como
também fortalece a liberdade de cada indivíduo, a partir de seus
interesses particulares. Uma vez que um dos principais objetivos do
contrato social é garantir a segurança e a liberdade de cada indivíduo,
ainda que a última seja limitada por normas.
“Encontrar
uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de
cada associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a
todos, só obedece contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre
quanto antes. Esse, o problema fundamental cuja solução o contrato
social oferece”. (ROUSSEAU, 1978, p. 32)
Contudo
o contrato de Rousseau oferece outra solução: a separação nominal
jurídica do público e do privado . Tal separação é o que garante a
igualdade política a cada pessoa que passa a ser um cidadão de direitos e
deveres na esfera pública e com liberdade comercial e livre expressão
de ideias, uma vez que é um indivíduo único. Tal princípio de separação,
além de ser uma tentativa lógica de equacionar o problema – liberdade e
igualdade – é um pesado ataque a ordem política feudal, na qual os
laços de sangue e de parentesco determinavam o tratamento político
diferenciado e limitavam a participação política de cada cidadão.
O
Estado, tal como é proposto por Rousseau no Contrato Social, assegura a
liberdade de cada cidadão através da independência individual privada e
da livre participação política. Sendo que para Robert Nisbet: “Esta
predominância do Estado na vida do indivíduo não constitui, entretanto,
despotismo; constitui a base necessária da verdadeira liberdade
individual.” (NISBET, 1982, p. 158).
Obras principais
§ Discurso Sobre as Ciências e as Artes
§ Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens
§ Do Contrato Social
§ Emílio, ou da Educação
§ Os Devaneios de um Caminhante Solitário
Cronologia
§ 1712: Nasce em Genebra a 28 de junho Jean-Jacques Rousseau. Suzanne Bernard, mãe de Rousseau, morre em 7 de julho.
§ 1719: Daniel Defoe publica Robinson Crusoé, uma das principais influências literárias de Rousseau.
§ 1745: Une-se a Thérèse Levasseur, com quem tem cinco filhos, que são abandonados.
§ 1749: Escreve o "Discurso sobre as Ciências e as Artes"
§ 1755: Publica o "Discurso sobre a origem da desigualdade" e o "Discurso sobre a economia política".
§ 1762: Publica Do Contrato Social em abril e o Emílio, ou Da Educação em maio.
§ 1776: Escreve os Devaneios de um Caminhante Solitário. Declaração da Independência das colônias inglesas na América.
§ 1778: Rousseau termina de escrever os Devaneios.
Morre em 2 de julho e é sepultado em Ermenonville. Seus restos mortais
foram traslados para o Panteão de Paris em 1794. Morte de Voltaire.
Kant, Immanuel (1724-1804)
Depois
de um longo período como professor secundário de geografia, começou em
1755 a carreira universitária ensinandoCiências Naturais. Em 1770 foi
nomeado professor catedrático da Universidade de Königsberg, cidade da
qual nunca saiu, levando uma vida monotonamente pontual e só dedicada
aos estudos filosóficos. Realizou numerosos trabalhos sobre ciência,
física, matemática, etc.
Kant
operou, na epistemologia, uma síntese entre o Racionalismo continental
(de René Descartes e Gottfried Leibniz, onde impera a forma de
raciocínio dedutivo), e a tradição empírica inglesa (de David Hume,
John Locke, ou George Berkeley, que valoriza a indução).
Kant é famoso sobretudo pela elaboração do denominado idealismo transcendental: todos nós trazemos formas e conceitos a priori
(aqueles que não vêm da experiência) para a experiência concreta do
mundo, os quais seriam de outra forma impossíveis de determinar. A
filosofia da natureza e da natureza humana de Kant é historicamente uma
das mais determinantes fontes dorelativismo conceptual que dominou a
vida intelectual do século XX. No entanto, é muito provável que Kant
rejeitasse o relativismo nas formas contemporâneas, como por exemplo o
Pós-modernismo.
Kant
é também conhecido pela filosofia moral e pela proposta, a primeira
moderna, de uma teoria da formação do sistema solar, conhecida como a
hipótese Kant-Laplace.
A menoridade humana
Kant
define a palavra esclarecimento como a saída do homem de sua
menoridade. Segundo esse pensador, o homem é responsável por sua saída
da menoridade. Kant define essa menoridade como a incapacidade do homem
de fazer uso do seu próprio entendimento.
A
permanência do homem na menoridade se deve ao fato de ele não ousar
pensar. A covardia e a preguiça são as causas que levam os homens a
permanecerem na menoridade. Um outro motivo é o comodismo. É bastante
cômodo permanecer na área de conforto. É cômodo que existam pessoas e
objetos que pensem e façam tudo e tomem decisões em nosso lugar. É mais
fácil que alguém o faça, do que fazer determinado esforço, pois já
existem outros que podem fazer por mim. Os homens quando permanecem na
menoridade, são incapazes de fazer uso das próprias pernas,são
incapazes de tomar suas próprias decisões e fazer suas próprias
escolhas.
Em seu texto O que é o Iluminismo?, Kant sintetiza seu otimismo iluminista [1]
em relação à possibilidade de o homem seguir por sua própria razão, sem
deixar enganar pelas crenças, tradições e opiniões alheias. Nele,
descreve o processo de ilustração como sendo "a saída do homem de sua
menoridade", ou seja, um momento em que o ser humano, como uma criança
que cresce e amadurece, se torna consciente da força e inteligência
para fundamentar a sua própria maneira de agir, sem a doutrina ou
tutela de outrem.
Kant
afirma que é difícil para o homem sozinho livrar-se dessa menoridade,
pois ela se apossou dele como uma segunda natureza. Aquele que tentar
sozinho terá inúmeros impedimentos, pois seus tutores sempre tentarão
impedir que ele experimente tal liberdade. Para Kant, são poucos
aqueles que conseguem pelo exercício do próprio espírito libertar-se da
menoridade.
Vida
Kant
nasceu, viveu e morreu em Königsberg (atual Kaliningrado), na altura
pertencente à Prússia. Foi o quarto dos nove filhos de Johann Georg
Kant, um artesão fabricante de correias (componente das carroças de
então) e da mulher Regina. Nascido numa família protestante (Luterana),
teve uma educação austera numa escola pietista, que frequentou graças à
intervenção de um pastor. Ele próprio foi um cristão devoto por toda a
sua vida.
Passou
grande parte da juventude como estudante, sólido mas não espetacular,
preferindo o bilhar ao estudo. Tinha a convicção curiosa de que uma
pessoa não podia ter uma direcção firme na vida enquanto não atingisse
os 39 anos. Com essa idade, era apenas um metafísico menor numa
universidade prussiana, mas foi então que uma breve crise existencial o
assomou. Pode argumentar-se que teve influência na posterior direcção.
Kant
foi um respeitado e competente professor universitário durante quase
toda a vida, mas nada do que fez antes dos 50 anos lhe garantiria
qualquer reputação histórica. Viveu uma vida extremamente regulada: o
passeio que fazia às 15:30 todas as tardes era tão pontual que as
mulheres domésticas das redondezas podiam acertar os relógios por ele.
Kant
nunca deixou a Prússia e raramente saiu da cidade natal. Apesar da
reputação que ganhou, era considerado uma pessoa muito sociável:
recebia convidados para jantar com regularidade, insistindo que a
companhia era boa para a constituição física.
Por
volta de 1770, com 46 anos, Kant leu a obra do filósofo escocês David
Hume. Hume é por muitos considerados um empirista ou um cético, muitos
autores o consideram um naturalista.
Kant
sentiu-se profundamente inquietado. Achava o argumento de Hume
irrefutável, mas as conclusões inaceitáveis. Durante 10 anos não
publicou nada e, então, em 1781 publicou o massivo "Crítica da Razão
Pura", um dos livros mais importantes e influentes da moderna filosofia.
Neste
livro, ele desenvolveu a noção de um argumento transcendental para
mostrar que, em suma, apesar de não podermos saber necessariamente
verdades sobre o mundo "como ele é em si", estamos forçados a
percepcionar e a pensar acerca do mundo de certas formas: podemos saber
com certeza um grande número de coisas sobre "o mundo como ele nos
aparece". Por exemplo, que cada evento estará causalmente conectado com
outros, que aparições no espaço e no tempo obedecem a leis da
geometria, da aritmética, da física, etc.
Inscrições ao longo da tumba de Kant, dentre elas (...)"O céu estrelado por sobre mim e a lei moral dentro de mim" (…)
Nos
cerca de vinte anos seguintes, até a morte em 1804, a produção de Kant
foi incessante. O seu edifício da filosofia crítica foi completado com
aCrítica da Razão Prática, que lidava com a moralidade de forma similar
ao modo como a primeira crítica lidava com o conhecimento; e a Crítica do Julgamento,
que lidava com os vários usos dos nossos poderes mentais, que não
conferem conhecimento factual e nem nos obrigam a agir: o julgamento
estético (do Belo e Sublime) e julgamento teleológico (Construção de
Coisas Como Tendo "Fins"). Como Kant os entendeu, o julgamento estético
e teleológico conectam os nossos julgamentos morais e empíricos um ao
outro, unificando o seu sistema.
Uma das obras, em particular, atinge hoje em dia grande destaque entre os estudiosos da filosofia moral. A Fundamentação da Metafísica dos Costumes
é considerada por muitos filósofos a mais importante obra já escrita
sobre a moral. É nesta obra que o filósofo delimita as funções da ação
moralmente fundamentada e apresenta conceitos como o "Imperativo
categórico" e a "Boa vontade".
Os
trabalhos de Kant são a sustentação e ponto de início da moderna
filosofia alemã; como diz Hegel, frutificou com força e riqueza só
comparáveis à do socratismo na história da filosofia grega. Fichte,
Hegel, Schelling, Schopenhauer, para indicar apenas os maiores,
inscrevem-se na linhagem desse pensamento que representa um etapa
decisiva na história da filosofia e está longe de ter esgotado a sua
fecundidade.[2]
Kant
escreveu alguns ensaios medianamente populares sobre história, política
e a aplicação da filosofia à vida. Quando morreu, estava a trabalhar
numa projetada "quarta crítica", por ter chegado à conclusão de que seu
sistema estava incompleto; este manuscrito foi então publicado como Opus Postumum. Morrera em 12 de fevereiro de 1804 na mesma cidade que nascera e permanecera durante toda sua vida. Encontra-se sepultado noCemitério do Caliningrado, Caliningrado, Kaliningradskaya Oblast' na Rússia.[3]
Filosofia, o "Criticismo"
O "criticismo" kantiano [4]
parte na confluência do racionalismo, do empirismo inglês (David Hume)
e a ciênciafísica-matemática de Isaac Newton. Seu caminho histórico
está assinalado pelo governo de Frederico II, a independência americana
e a Revolução Francesa.
As
questões de partida do Kantismo são o problema do conhecimento, e a
ciência, tal como existe. A ciência se arranja de juízos que podem ser
analíticos e sintéticos. Nos primeiros (o quadrado tem quatro lados e
quatro ângulos internos), fundados no princípio de identidade, o
predicado aponta um atributo contido no sujeito. Tais juízos independem
da experiência, são universais e necessários. Os sintéticos, a
posteriori resultam da experiência e sobrepõem ao sujeito no predicado
um atributo que nele não se acha previamente contido (o calor dilata os
corpos ), sendo, por isso, privados e incertos.
Uma
indagação eminente que o levara à sintetização do pensar: Que juízos
constituem a ciência físico matemática? Caso fossem analíticos, a
ciência sempre diria o mesmo (e não é assim), e, se fossem sintéticos
um hábito sem fundamento (o calor dilata os corpos porque costuma
dilatá-los). Os juízos da ciência devem ser, ao mesmo tempo, a priori,
quer dizer, universais e necessários, e sintéticos objetivos, fundados
na experiência. Trata-se pois, de saber como são possíveis os juízos
sintéticos a priori na matemática e na física, ("Estética
transcendental" e "Analítica transcendental"), e se são possíveis na
metafísica ("Dialética transcendental", partes da Crítica da razão
pura).
Para
os juízos sintéticos a priori são admissíveis na matemática porque essa
ciência se fundamenta no espaço e no tempo, formas a priori da
sensibilidade, intuições puras e não conceitos de coisas como objetos.
O espaço é a priori, não deriva da experiência, mas é sua condição de
possibilidade. Podemos pensar o espaço sem coisas, mas não coisa sem
espaço. O espaço é o objeto de intuição e não conceito, pois não
podemos ter intuição do objeto de um conceito (pedra, carro, cavalo,
etc.), gênero ou espécie. Ora, o espaço não é nem uma coisa nem outra,
e só há um espaço (o nada, referindo ao espaço).
Na
apresentação "transcendental" do espaço, Kant determina as condições
subjetivas ou transcendentais da objetividade. Se o conhecimento é
relação, ou relacionamento (do sujeito com o objeto), não, pode
conhecer as coisas "em si", mas "para nós".
A
geometria pura, quando aplicada, coincide totalmente com a experiência,
porque o espaço é a forma a priori da sensibilidade externa. O tempo é,
também, a priori. Podemos concebê-lo sem acontecimentos, internos ou
externos, mas não podemos conceber os acontecimentos fora do tempo.
Objeto de intuição, não pode ser conceito. Forma vazia, intuição pura,
torna possíveis por exemplo os juízos sintéticos a priori na
aritmética, cujas operações (soma, subtração, etc.), ocorrendo
sucessivamente, o pressupõem. O tempo é, pois, a forma a priori da
sensibilidade interna e externa.
Esse
privilégio explica a compenetração da geometria e da aritmética. A
geometria analítica (Descartes) permite reduzir as figuras a equações e
vice-versa. O cálculo infinitesimal (Leibniz) arremata essa
compenetração definindo a lei de desenvolvimento de um ponto em
qualquer direção do espaço. A matemática é pois, um conjunto de leis a
priori, que coincidem com a experiência e a tornam cognoscível.
As
condições de possibilidade do conhecimento sensível são, portanto, as
formas a priori da sensibilidade. Não existe a "coisa em si". Se
existisse não se poderia a conhecer enquanto tal, e nada se poderia
dizer a seu respeito. Só é possível conhecer coisas extensas no espaço
e sucessivas no tempo, enquanto se manifestam, ou aparecem, ou seja,
"fenômenos,
Na
"analítica transcendental", Kant analisa a possibilidade dos juízos
sintéticos a priori na física. Compreendemos que a natureza é regida
por leis matemáticas que ordenam com rigor o comportamento das coisas
(o que permite ciências como engenharia, etc., serem possíveis o
determinismo com certa regularidade). Não há como saber das coisas com
apenas percepções sensíveis, impressões. Há um conhecimento a priori da
natureza. A função principal dos juízos da natureza. Ora, a função
principal dos juízos é pôr, colocar a realidade e, em seguida,
determiná-la. As diversas formas do juízo deverão, portanto, conter as
diversas formas da realidade.
Essa
formas estão estudadas desde Aristóteles, que as classifica de acordo
com a quantidade, a qualidade, a relação e a modalidade. Na "Dedução
transcendental" das categorias, Kant volta a classificação
aristotélica, dando-lhe novo sentido. Assim, à quantidade, correspondem
a unidade, a pluralidade e a totalidade; à qualidade a essência, a
negação e a limitação; a relação a substância, a causalidade e a ação
recíproca; à modalidade, a possibilidade, a existência e a necessidade.
Tais
categorias são as condições de possibilidade dos juízos sintéticos a
priori em física. As condições do conhecimento são, enfim, como se
acabe de ver, as condições prévias da objetividade. A ciência da
natureza postula a existência de objetos, sua consistência e as
relações de causa e efeito. Se as categorias universais, particulares e
contingentes, devem proceder de nós mesmos, de nosso entendimento.
Em
tal descoberta consiste a "inversão copernicana", realizada por Kant.
Não é o objeto que determina o sujeito, mas o sujeito que determina o
objeto. As categorias são conceitos, todavia, puros, a priori,
anteriores à experiência e que, por isso, a tornam possível. Em suma, o
objeto só se torna cognoscível na medida em que o sujeito que determina
o objeto. Em suma, o objeto só se torna cognoscível na medida em que o
sujeito cognoscente o reveste das condições de cognoscibilidade.[5]
Na
"dialética transcendental", finalmente Kant examina a possibilidade dos
juízos sintéticos a priori na metafísica. A "coisa em si" (alma, Deus,
essência do cosmos, etc.), não nos é dada em experiência alguma. Ora,
como chega a razão a formar esses objetos? Sintetizando além da
experiência, fazendo a síntese das sínteses, porque aspira ao infinito,
ao incondicionado, ao absoluto. Nas célebres, "antinomias", Kant mostra
que a razão pura demonstra, "indiferentemente", a finitude e a
infinitude do universo, a liberdade e o determinismo, a existência e a
inexistência de Deus. Ultrapassando os limites da experiência, aplica
arbitrariamente as categorias e pretende conhecer o incognoscível. A
metafísica é impossível como ciência, pois não se pode chegar mais,
além disso.
Juízo Estético de Kant
O juízo estético é abordado no livro Crítica da Faculdade do Juízo.
De acordo com Kant para se ter uma investigação crítica a respeito do
belo, devemos estar orientados pelo poder de julgar. E a indagação
básica que move essa investigação crítica a respeito do belo é: existe
algum valor universal que conceitue o belo e que reivindique que outras
pessoas, a partir da minha apreciação de uma forma bela da natureza ou
da arte, confirmem essa posição? Ou então somos obrigados a admitir que
todo objeto que julgamos como sendo belo é uma valoração subjetiva?
O
poder de julgar, pertencendo a todo sujeito, é universal e congraça o
julgamento estético, especulativo e prático. Portanto a investigação
crítica que Kant se refere diz respeito às possibilidades e limitações
das faculdades subjetivas que agem sob princípios formulados e que
pertencem à essência do pensamento.
Como
podemos desnudar o fenômeno que explica o nosso gosto? Se fizermos uma
experiência com vários indivíduos e o defrontarmos com um objeto de
arte, observaremos que as impressões causadas serão as mais diversas.
Então chegaremos à conclusão de que a observação atenta e valorativa
daquele objeto, somada as diferentes opiniões que foram apresentadas
pelos indivíduos, nos dá respaldo para afirmar que o gosto tem que ser
discutido. Para Kant apenas sobre gosto se discute, ao passo que,
representa uma reivindicação para tornar universal um juízo subjetivo.
A
universalidade do juízo estético é detectada por envolver um exercício
persuasivo de convencimento de outro sujeito que aquela determinada
forma da natureza ou da arte é bela. E, dessa forma, torna aquele valor
universal. Os sujeitos têm em comum um princípio de avaliação moral
livre que determina a avaliação estética e, portanto, julga o belo como
universal.
O
juízo estético está relacionado ao prazer ou desprazer que o objeto
analisado nos imprime e, como se refere Kant, o belo "é o que agrada
universalmente, sem relação com qualquer conceito". Essa situação fica
bem evidente quando visitamos um museu. Digamos que essa experiência
fosse realizada no Museu do Louvre, em Paris, com o quadro Monalisa. Se
nos colocarmos como observador, perceberemos que os mais diversos
comentários serão tecidos a cerca dessa obra tão famosa.
Detendo-nos
na análise dos comentários favoráveis notaremos que, ratificando Kant,
o belo não está arraigado em nenhum conceito. Pois, dos vários
indivíduos que vão apreciar a obra de Leonardo da Vinci, encontraremos
desde pessoas especializadas em arte até leigos, como eu ou você, que
vão empregar cada qual um conceito, de acordo com a percepção, após a
contemplação da Monalisa. Então isso comprova que não existe uma
definição exata a cerca do belo, mas sim um sentimento que é universal
e necessário.
A paz perpétua
A
paz perpétua trata que o direito cosmopolítico deve circunscrever-se às
condições de uma hospitalidade universal. Dessa forma, Kant traz no
terceiro artigo definitivo de um tratado de paz perpetua, o fato de que
existe um direito cosmopolitano relacionado com os diferentes modos do
conflito dos indivíduos intervirem nas relações com outros indivíduos.
A pessoa que está em seu território, no seu domínio, pode repelir o
visitante se este interfere em seu domínio.
No
entanto, cas0 o visitante mantenha-se pacifico, não seria possível
hostiliza-lo. Também, não se trata de um direito que obrigatoriamente o
visitante poderia exigir daquele que o tem assim, mas sim, de um
direito que persiste em todos os homens, o do direito de apresentar-se
na sociedade.
O
direito de cada um na superfície terrestre pode ser limitada no sentido
da superfície. Já o indivíduo deve tolerar a presença do outro, sem
interferir nele, visto que tal direito persiste a toda espécie humana.
Então, o direito da posse comunitária da superfície terrestre pertence
a todos aqueles que gozam da condição humana, existindo uma tolerância
de todos a fim de que se alcance uma convivência plena.
Veja
que o ato de hostilidade está presente no ato do direito de
hospitalidade. Mesmo que o espaço seja limitado, os indivíduos devem se
comportar pacificamente com o intuito de se alcançar a paz de convívio
mútuo. O relacionamento entre as pessoas está na construção dos
direitos de cada um, sendo indispensável para a compreensão do direito
cosmopolítico de modo a garantir as condições necessárias para termos
uma hospitalidade universal.
Por
fim, a não violação do direito cosmopolitano e o direito público da
humanidade criará condições para o favorecimento da paz perpetua,
proporcionando a esperança de uma possível aproximação do estado
pacífico.
Crítica e sistema
"Só a crítica pode cortar pela raiz o materialismo, ofatalismo, o ateísmo, a incredulidade dos espíritos fortes, o fanatismo e a superstição, que se podem tornar nocivos a todos e, por último, também oidealismo e o cepticismo, que são sobretudo perigosos para as escolas e dificilmente se propagam no público." | Kant,Crítica da razão pura, B XXXIV.[6] |
Apesar
de ter adaptado a ideia de uma filosofia crítica, cujo objectivo
primário era "criticar" as limitações das nossas capacidades
intelectuais, Kant foi um dos grandes construtores de sistemas, levando
a cabo a ideia de crítica nos seus estudos da metafísica, ética e
estética.
Uma
citação famosa - "o céu estrelado por sobre mim e a lei moral dentro de
mim" - é um resumo dos seus esforços: ele pretendia explicar, numa
teoria sistemática, aquelas duas áreas. Isaac Newton tinha desenvolvido
a teoria da física sob a qual Kant queria edificar a filosofia. Esta
teoria envolvia a assunção de forças naturais de que os homens não se
apercebem, mas que são usadas para explicar o movimento de corpos
físicos.
O
seu interesse na ciência também o levou a propor em 1755 que o sistema
solar fora criado a partir de uma nuvem de gás na qual os objectos se
condensaram devido à gravidade. Esta Hipótese Nebular é amplamente
reconhecida como a primeira teoria moderna da formação do sistema solar
e é precursora das actuais teorias da formação estelar.
Metafísica e epistemologia de Kant
O livro mais lido e mais influente de Kant é a Crítica da Razão Pura
(1781). De acordo com o próprio autor, a obra, também conhecida como
"primeira crítica", é resultado da leitura de Hume e do seu despertar
do sono dogmático, a saber: Kant se perguntou como são possíveis juízos sintéticos a priori? Para responder a essa pergunta, Kant escreveu esse livro portentoso, de mais de 800 páginas.
Na
primeira crítica, Kant vai mostrar que tempo e espaço são formas
fundamentais de percepção (formas da sensibilidade) que existem como
ferramentas da mente, mas que só podem ser usadas na experiência.
Tente imaginar alguma coisa que existe fora do tempo e que não tem extensão no espaço.[5]
A mente humana não pode produzir tal ideia. Nada pode ser percebido
excepto através destas formas, e os limites da física são os limites da
estrutura fundamental da mente. Assim, já vemos que não podemos
conhecer fora do espaço e do tempo.
Mas
além das formas da sensibilidade, Kant vai nos dizer que há também o
entendimento, que seria uma faculdade da razão. O entendimento nos
fornece as categorias com as quais podemos operar as sínteses do
diverso da experiência.
Assim, como são possíveis juízos sintéticos a priori? São possíveis porque há uma faculdade da razão - o entendimento - que nos fornece categorias a priori - como causa e efeito - que nos permitem emitir juízos sobre o mundo.
Contudo,
diz Kant, as categorias são próprias do conhecimento da experiência.
Elas não podem ser empregadas fora do campo da experiência. Daí porque,
na filosofia crítica de Kant, não nos é possível conhecer a coisa em si, ou aquilo que não está no campofenomenológico da experiência.
Na perspectiva de Kant, há, por isso, o conhecimento a priori
de algumas coisas, uma vez que a mente tem que ter estas categorias, de
forma a poder compreender a massa sussurrante de experiência crua,
não-interpretada que se apresenta às nossas consciências. Em segundo
lugar, ela remove o mundo real (a que Kant chamou o mundo numenal ou
númeno) da arena da percepção humana.
Kant
denominou a filosofia crítica de "idealismo transcendental". Apesar da
interpretação exacta desta frase ser contenciosa, uma maneira de a
compreender é através da comparação de Kant, no segundo prefácio à
"Crítica da Razão Pura", da filosofia crítica com a revolução copernicana na astronomia.
Tal como Copérnico revolucionou a astronomia ao mudar o ponto de vista, a filosofia crítica de Kant pergunta quais as condições a priori para que o nosso conhecimento do mundo se possa concretizar.
O
idealismo transcendental descreve este método de procurar as condições
da possibilidade do nosso conhecimento do mundo. Mas esse idealismo
transcendental de Kant deverá ser distinguido de sistemas idealistas,
como os de Berkeley. Enquanto Kant acha que os fenómenos dependem das
condições da sensibilidade, espaço e tempo, esta tese não é equivalente
à dependência-mental no sentido do idealismo de Berkeley.
Para
Berkeley, uma coisa é um objecto apenas se puder ser percepcionada.
Para Kant, a percepção não é o critério da existência dos objectos.
Antes, as condições de sensibilidade - espaço e tempo - oferecem as
"condições epistémicas", para usar a frase de Henry Allison, requeridas
para que conheçamos objectos no mundo dos fenómenos. Kant tinha querido
discutir os sistemas metafísicos mas descobriu "o escândalo da
filosofia": não se pode definir os termos correctos para um sistema
metafísico até que se defina o campo, e não se pode definir o campo até
que se tenha definido o limite do campo da física - física, no sentido
de discussão do mundo perceptível.
Kant
afirma, em síntese, que não somos capazes de conhecer inteiramente os
objetivos reais e que o nosso conhecimento sobre os objetos reais é
apenas fruto do que somos capazes de pensar sobre eles.
Filosofia Moral
Immanuel
Kant desenvolve a filosofia moral em três obras: Fundamentação da
Metafísica dos Costumes (1785), Crítica da Razão Prática (1788) e
Crítica do Julgamento (1790).
Nesta
área, Kant é provavelmente mais bem conhecido pela teoria sobre uma
obrigação moral única e geral, que explica todas as outras obrigações
morais que temos: o imperativo categórico.
Age de tal modo que a máxima da tua ação se possa tornar princípio de uma legislação universal. |
O
imperativo categórico, em termos gerais, é uma obrigação incondicional,
ou uma obrigação que temos independentemente da nossa vontade ou
desejos (em contraste com o imperativo hipotético).
As
nossas obrigações morais podem ser resultantes do imperativo
categórico. O imperativo categórico pode ser formulado em três formas,
que ele acreditava serem mais ou menos equivalentes (apesar de opinião
contrária de muitos comentadores):
§
A primeira formulação (a fórmula da lei universal) diz: "Age somente em
concordância com aquela máxima através da qual tu possas ao mesmo tempo
querer que ela venha a se tornar uma lei universal".
§
A segunda fórmula (a fórmula da humanidade) diz: "Age por forma a que
uses a humanidade, quer na tua pessoa como de qualquer outra, sempre ao
mesmo tempo como fim, nunca meramente como meio".
§
A terceira fórmula (a fórmula da autonomia) é uma síntese das duas
prévias. Diz que deveremos agir por forma a que possamos pensar de nós
próprios como leis universais legislativas através das nossas máximas.
Podemos pensar em nós como tais legisladores autônomos apenas se
seguirmos as nossas próprias leis..
Kant e a Revolução Francesa
Em
1784, no seu ensaio "Uma resposta à questão: o que é o Iluminismo?",
Kant visava vários grupos que tinham levado o racionalismo longe de
mais: os metafísicos que pretendiam tudo compreender acerca de Deus e
da imortalidade; os cientistas que presumiam nos seus resultados a mais
profunda e exacta descrição da natureza; os cépticos que diziam que a
crença em Deus, na liberdade, e na imortalidade, eram irracionais.
Kant mantinha-se no entanto optimista [7],
começando por ver na Revolução Francesa uma tentativa de instaurar o
domínio da razão e da liberdade. Toda a Europa do Iluminismo
contemplava então fascinada os acontecimentos revolucionários em França.
A
Revolução francesa vai no entanto ser um marco de viragem, também na
filosofia de Kant. Observando a evolução e as realizações práticas,
Kant volta a reflectir sobre a prometida razão e liberdade.
No plano religioso, em 1792, Kant, ao escrever a obra Der Sieg des guten Prinzips über das böse und die Gründung eines Reichs Gottes auf Erden
(A vitória do princípio bom sobre o princípio mau e a constituição de
um reino de Deus sobre a terra), afirma ainda cheio de optimismo: "A
passagem gradual da fé eclesiástica ao domínio exclusivo da pura fé
religiosa constitui a aproximação do reino de Deus".[8]
Nessa
obra, o "reino de Deus" anunciado nos Evangelhos recebia como que uma
nova definição e uma nova presença: a Revolução podia apressar a
passagem da fé eclesiástica à fé racional; onde chegasse a Revolução a
"fé eclesiástica" seria superada e substituída pela "fé religiosa", ou
seja, pela "mera fé racional."
Em 1795, no livro Das Ende aller Dinge
("O fim de todas as coisas"), a perspectiva é já completamente
diferente. Kant toma agora em consideração a possibilidade de que, a
par do fim natural de todas as coisas, se verifique também um fim
contrário à natureza, perverso:
Se
acontecesse um dia chegar o cristianismo a não ser mais digno de amor,
então o pensamento dominante dos homens deveria tomar a forma de
rejeição e de oposição contra ele; e o anticristo [...] inauguraria o
seu regime, mesmo que breve, (baseado presumivelmente sobre o medo e o
egoísmo). Em seguida, porém, visto que o cristianismo, embora destinado
a ser a religião universal, de facto não teria sido ajudado pelo
destino a sê-lo, poderia verificar-se, sob o aspecto moral, o fim
(perverso) de todas as coisas.[9]
Face
à violência inaudita da Revolução Francesa, e ao novo tipo de
autoritarismo que se firmava nas "Luzes" da razão, Kant vai também
reflectir acerca dos seus conceitos políticos.[10]
Marcos na vida de Kant
1724 - Kant nasce a 22 de abril.
1740
- Neste ano, Frederico II torna-se Rei da Prússia. Foi um rei que
trouxe sinais de tolerância à Prússia, que era uma nação célebre pela
disciplina militar. Trouxe iluministas (Voltaire, o mais famoso) para a
corte e continuou a política de encorajamento à imigração que o pai
tinha seguido.
1746 - Falecimento do pai de Kant. Kant deixou de ter sustento. Teria de encontrar trabalho como professor particular.
1748 - 1754 - Kant dá aulas a crianças em pequenas vilas das redondezas.
1755
- Publicação do Livro "História natural genérica e teoria dos céus".
Kant consegue o título de Mestre e o direito a dar aulas na
Universidade Alberto. Daria aulas como docente privado. Não pago pela
Universidade mas pelos próprios alunos. Nesse ano, Kant foi
influenciado pelo desastre que foi o Terramoto de 1755, em
Lisboa/Portugal, em parte pelo resultado de tentar entender a
enormidade do sismo e as consequências, publicou três textos distintos
sobre o assunto.
1762
- Kant lê as recentes publicações de Rousseau, "Emile" (uma obra
filosófica sobre a educação do indivíduo) e o ensaio "Contrato social".
1770
- Kant torna-se professor de Lógica e Metafísica na Universidade, após
14 anos como docente (pago pelos alunos). Kant lê por volta desta
altura a obra de David Hume, que o terá despertado do seu "sono
dogmático", como ele próprio disse.
1773 - Ironicamente, Frederico II, um protestante, concede refúgio à Ordem dos Jesuítas, banidos pelo Papa.
1774
- Auge do movimento romântico chamado "Sturm-und-Drang". Herder publica
"Também uma filosofia da História para educação da Humanidade".
1781
- Kant publica em Maio "Crítica da Razão Pura". A reacção é pouco
encorajadora. Moses Mendelssohn e Johann Georg Hamann pronunciam-se com
indecisão.
1783
- Kant escreve um artigo intitulado "O que é o Iluminismo?" para a
revista "Berlinischen Monatsschrift", como resposta a uma discussão na
mesma. Um anónimo tinha escrito que a cerimónia do casamento já não se
conformava ao espírito dos tempos do iluminismo. Um pastor perguntou na
resposta, que era então o iluminismo. Kant respondeu com o seu artigo.
1788 - Publicação de "Crítica da Razão Prática". Morte do amigo Johann Georg Hamann.
1789
- Início da Revolução Francesa. Kant pronuncia-se inicialmente de forma
favorável à Revolução, e sobretudo à secularização resultante, após o
qual o Rei da Prússia Friedrich Wilhelm II proíbe Kant de se pronunciar
sobre quaisquer temas religiosos.
1795 - Publicação do tratado "Para a paz eterna", na qual surge a perspectiva de um cidadão do mundo esclarecido.
1804
- Com 80 anos de idade, Kant faleceu em Königsberg, após prolongada
doença que apresentava sintomas semelhantes à Doença de Alzheimer. Já
não reconhecia sequer os seus amigos íntimos.
Obras
§ Dissertação sobre a forma e os princípios do mundo sensível e inteligível (1770);
§ Crítica da Razão Pura (1781);
§ Prolegômenos para toda metafísica futura que se apresente como ciência (1783);
§ Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785);
§ Fundamentos da metafísica da moral (1785);
§ Primeiros princípios metafísicos da ciência natural (1786);
§ Crítica da Razão Prática (1788);
§ Crítica do Julgamento (1790);
§ A Religião dentro dos limites da mera razão (1793);
§ A Paz Perpétua (1795);
§ Doutrina do Direito (1796);
§ A Metafísica da Moral (1797);
§ Antropologia do ponto de vista pragmático (1798).
§ Prolegómenos a Toda a Metafísica Futura;
Henri Bergson (Paris, 18 de outubro de 1859 — Paris, 4 de janeiro de 1941) foi um filósofo e diplomata francês.
Conhecido principalmente por Ensaios sobre os dados imediatos da consciência, Matéria e memória, A evolução criadora e As duas fontes da moral e da religião, sua obra é de grande atualidade e tem sido estudada em diferentes disciplinas - cinema, literatura, neuropsicologia, bioética, entre outras.
Recebeu o Nobel de Literatura de 1927.
A filosofia de Bergson é a princípio uma negação, isto é, uma crítica às formas de determinismo e “coisificação” do homem. Em outras palavras, a sua pesquisa filosófica é uma afirmação da liberdade humana frente as vertentes científicas e filosóficas que querem reduzir a dimensão espiritual do homem a leis previsíveis e manipuláveis, análogas as leis naturais, biológicas e, como imaginou Comte, sociais. Seu pensamento está k fundamentado na afirmação da possibilidade do real ser compreendido pelo homem por meio da intuição da duração – conceitos que perpassam toda sua bibliografia. O próprio filósofo chegou a dizer que para compreender a sua filosofia é preciso partir da intuição da duração.
Tempo e espaço não pertencem à mesma natureza, tanto que podemos afirmar que a consciência (duração interna) e o “tempo espacilizado” se opõem. Esse último é criticado pelo filósofo como uma das expressões da vertente determinista das ciências e filosofias.
Tudo o que pertence à faculdade espacial, isto é, à variável t das leis físicas da mecânica clássica, é suscetível de ser repetida, decomposta e traduzida pela lógica científica, como, por exemplo, a medição do tempo por um relógio. Esse tempo físico, comumente confundido com o espaço, como fez Kant na Crítica da Razão Pura, não corresponde ao tempo real experimentado pelo espírito.
O tempo vivido (ou duração interna ou simplesmente consciência) é o passado vivo no presente e aberto ao futuro no espírito que compreende o real de modo imediato. É um tempo completamente indivisível por ser qualitativo e não quantitativo como o fator t.
A duração, não sendo compreendida por meio da inteligência técnica, também não pode, por consequência, ser entendida como sucessão linear de intervalos, pois ela é justamente o oposto disso, haja vista que não há como justapor ou analisar o tempo vivido qualitativo.
Ora, se não há como esmiuçar a duração percebida pelo espírito, também não há como prever os momentos temporais da duração interna, apenas a experiência física que se repete facilmente pode ser prevista e repetida, logo, a duração do tempo vivido e experimentado pelo espírito é imprevisível, uma novidade incessante e um fluir contínuo.
Ao tentar argumentar em favor de suas ideias filosóficas a respeito do tempo, cometeu diversos erros no que diz respeito à teoria da relatividade de Einstein.
Intuição significa para Bergson apreensão imediata da realidade por coincidência com o objeto. Em outras palavras, é a realidade sentida e compreendida absolutamente de modo direto, sem utilizar as ferramentas lógicas do entendimento: a análise e a tradução.
Diferencia-se da inteligência que, apropriando-se do mundo através de ferramentas, calcula e prevê intervalos do mesmo plano espaço-temporal; a intuição, ao contrário, penetra no interior da vida coincidindo com o real imediatamente. Dizemos, portanto, que o real passou a ser conhecido pela metafísica como, ao modo de Descartes, numa certeza imanente ao próprio ser do sujeito cognoscente.
A intuição é uma forma de conhecimento que penetra no interior do objeto de modo imediato, isto é, sem o ato de analisar e traduzir. A análise é o recorte da realidade, mediação entre sujeito e objeto. A tradução é a composição de símbolos linguísticos ou numéricos que, analogamente a primeira, também servem de mediadores. Ambas são meios falhos e artificiais de acesso a realidade. Somente a intuição pode garantir uma coincidência imediata com o real sem o uso de símbolos nem da repartições analíticas.
A intuição pode ser entendida, portanto, como uma experiência metafísica.
Deleuze, Gilles ( 1925 - 1995)
O trabalho de Deleuze se divide em dois grupos: por um lado, monografias interpretando filósofos modernos (Spinoza, Leibniz, Hume, Kant, Nietzsche, Bergson, Foucault) e por outro, interpretando obras de artistas (Proust, Kafka, Francis Bacon, este último o pintor moderno, não o filósofo renascentista); por outro lado, temas filosóficos ecléticos centrado na produção de conceitos como diferença, sentido, evento, rizoma, etc.
O filósofo do Corpo-sem-Órgãos (figura estética de Antonin Artaud, retomada como conceito filosófico por Deleuze em parceria com Félix Guattari).
Para ele, O ofício do filósofo é inventar conceitos. Assim como Nietzsche cria a personagem-conceito de Zaratustra, Deleuze afirma em L'abécédaire, entrevista dada a Claire Parnet, ter criado com Félix Guattari o conceito de ritornelo - refrão, forma de reterritorialização (povoamento), e desterritorializaçao.
Uma filosofia da imanência, dos diagramas, dos acontecimentos.
As principais influências filosóficas terão sido Nietzsche, Henri Bergson e Spinoza.
Uma das grandes contribuições de Deleuze foi ter se utilizado do cinema para expor sua forma de pensamento, através dos conceitos de imagem-movimento e imagem-tempo.
Deleuze foi um dos filósofos que teorizou as instâncias do atual e do virtual (já elaboradas por outros pensadores), construindo um olhar sobre o mundo a partir das possibilidades: "Um pouco de possível, senão sufoco" (Foucault)
Foucault, Michel (1926-1984)
Foucault é conhecido pelas suas críticas às instituições sociais, especialmente à psiquiatria, à medicina, às prisões, e por suas ideias e da evolução da história da sexualidade, as suas teorias gerais relativas à energia e à complexa relação entre poder e conhecimento, bem como para estudar a expressão do discurso em relação à história do pensamento ocidental, e tem sido amplamente discutido, a imagem da "morte do homem" anunciada em "As Palavras e Coisas", ou a ideia de subjetivação, reativada no interesse próprio de uma forma ainda problemática para a filosofia clássica do sujeito. Parece então que mais do que em análises da "identidade", por definição, estáticas e objetivadas, Foucault centra-se na "vida" e nos diferentes processos de subjetivação.
História da Loucura
Michel Foucault procurou, na grande maioria das suas obras, abordar problemas concretos como a insanidade (a prisão, a clínica …); num contexto muito específico geográfica e historicamente (a França, na Europa ou no Ocidente); (idade do clássica, do século XVIII, ou na Grécia antiga, etc.). No entanto, as suas observações ajudam a identificar os conceitos superiores a esses limites no tempo e no espaço. Elas conservam, assim, uma grande abrangência, tantos intelectuais - em uma variedade de áreas. Estuda a transferência, por exemplo, das técnicas de punição penal no final do século XVIII, sugerindo o surgimento de uma nova forma de subjetividade constituída pelo governo do Biopoder.
Esta perspectiva histórica não está errada. A Ontologia de Foucault é uma experiência, a prudência, um exercício sobre as paragens do nosso presente, o teste de nossos limites, o paciente como "a nossa impaciência pela liberdade", o que explica o seu interesse é o tema da relação entre o poder institucional e individual -, bem como alguma ideia de subjetivação. Esta Constituição estabelece o poder do conhecimento e é por sua vez fundada por eles: o conceito de "poder do conhecimento".
"Não há relação de poder sem constituição correlativa de um campo de conhecimento, ou que não pressupõe e constitui, ao mesmo tempo relações de poder … Estes relatórios de "poder-saber" não estão a ser analisados a partir de um conhecimento sobre o que seria livre ou não do sistema de poder, mas em vez disso, devemos considerar que o sujeito sabe, os objetos são como os efeitos dessas implicações fundamentais do poder-saber… ".
Vigiar e punir (em francês: Surveiller et Punir: Naissance de la prison) é um livro do filósofo francês Michel Foucault, publicado originalmente em 1975 e tida como uma obra que alterou o modo de pensar e fazer política social no mundo ocidental. É um exame dos mecanismos sociais e teóricos que motivaram das grandes mudanças que se produziram nos sistemas penais ocidentais durante a era moderna. É dedicado à análise da vigilância e da punição, que se encontram em várias entidades estatais (hospitais, prisões e escolas). Foca documentos históricos franceses, mas as questões sobre as quais se debruça são relevantes para as sociedades contemporâneas. É uma obra seminal que teve grande influência em intelectuais, políticos, activistas sociais e artistas.
Foucault muda a ideia habitualmente aceita de que a prisão é uma forma humanista de cumprir pena, assinalando seis princípios sobre os quais assenta o novo poder de castigar:
O livro tem quatro partes, intituladas "Suplício", "Punição", "Disciplina" e "Prisão".
Conhecido principalmente por Ensaios sobre os dados imediatos da consciência, Matéria e memória, A evolução criadora e As duas fontes da moral e da religião, sua obra é de grande atualidade e tem sido estudada em diferentes disciplinas - cinema, literatura, neuropsicologia, bioética, entre outras.
Recebeu o Nobel de Literatura de 1927.
A filosofia de Bergson é a princípio uma negação, isto é, uma crítica às formas de determinismo e “coisificação” do homem. Em outras palavras, a sua pesquisa filosófica é uma afirmação da liberdade humana frente as vertentes científicas e filosóficas que querem reduzir a dimensão espiritual do homem a leis previsíveis e manipuláveis, análogas as leis naturais, biológicas e, como imaginou Comte, sociais. Seu pensamento está k fundamentado na afirmação da possibilidade do real ser compreendido pelo homem por meio da intuição da duração – conceitos que perpassam toda sua bibliografia. O próprio filósofo chegou a dizer que para compreender a sua filosofia é preciso partir da intuição da duração.
Conceitos
Duração, na obra de Bergson, é o correr do tempo uno e interpenetrado, isto é, os momentos temporais somados uns aos outros formando um todo indivisível e coeso. Oposto ao tempo físico ou sucessão divisível que é passível de ser calculado e analisado pela ciência, o tempo vivido é incompreensível para a inteligência lógica por ser qualitativo, enquanto o tempo físico é quantitativo.Tempo e espaço não pertencem à mesma natureza, tanto que podemos afirmar que a consciência (duração interna) e o “tempo espacilizado” se opõem. Esse último é criticado pelo filósofo como uma das expressões da vertente determinista das ciências e filosofias.
Tudo o que pertence à faculdade espacial, isto é, à variável t das leis físicas da mecânica clássica, é suscetível de ser repetida, decomposta e traduzida pela lógica científica, como, por exemplo, a medição do tempo por um relógio. Esse tempo físico, comumente confundido com o espaço, como fez Kant na Crítica da Razão Pura, não corresponde ao tempo real experimentado pelo espírito.
O tempo vivido (ou duração interna ou simplesmente consciência) é o passado vivo no presente e aberto ao futuro no espírito que compreende o real de modo imediato. É um tempo completamente indivisível por ser qualitativo e não quantitativo como o fator t.
A duração, não sendo compreendida por meio da inteligência técnica, também não pode, por consequência, ser entendida como sucessão linear de intervalos, pois ela é justamente o oposto disso, haja vista que não há como justapor ou analisar o tempo vivido qualitativo.
Ora, se não há como esmiuçar a duração percebida pelo espírito, também não há como prever os momentos temporais da duração interna, apenas a experiência física que se repete facilmente pode ser prevista e repetida, logo, a duração do tempo vivido e experimentado pelo espírito é imprevisível, uma novidade incessante e um fluir contínuo.
Ao tentar argumentar em favor de suas ideias filosóficas a respeito do tempo, cometeu diversos erros no que diz respeito à teoria da relatividade de Einstein.
Intuição significa para Bergson apreensão imediata da realidade por coincidência com o objeto. Em outras palavras, é a realidade sentida e compreendida absolutamente de modo direto, sem utilizar as ferramentas lógicas do entendimento: a análise e a tradução.
Diferencia-se da inteligência que, apropriando-se do mundo através de ferramentas, calcula e prevê intervalos do mesmo plano espaço-temporal; a intuição, ao contrário, penetra no interior da vida coincidindo com o real imediatamente. Dizemos, portanto, que o real passou a ser conhecido pela metafísica como, ao modo de Descartes, numa certeza imanente ao próprio ser do sujeito cognoscente.
A intuição é uma forma de conhecimento que penetra no interior do objeto de modo imediato, isto é, sem o ato de analisar e traduzir. A análise é o recorte da realidade, mediação entre sujeito e objeto. A tradução é a composição de símbolos linguísticos ou numéricos que, analogamente a primeira, também servem de mediadores. Ambas são meios falhos e artificiais de acesso a realidade. Somente a intuição pode garantir uma coincidência imediata com o real sem o uso de símbolos nem da repartições analíticas.
A intuição pode ser entendida, portanto, como uma experiência metafísica.
Deleuze, Gilles ( 1925 - 1995)
O trabalho de Deleuze se divide em dois grupos: por um lado, monografias interpretando filósofos modernos (Spinoza, Leibniz, Hume, Kant, Nietzsche, Bergson, Foucault) e por outro, interpretando obras de artistas (Proust, Kafka, Francis Bacon, este último o pintor moderno, não o filósofo renascentista); por outro lado, temas filosóficos ecléticos centrado na produção de conceitos como diferença, sentido, evento, rizoma, etc.
O filósofo do Corpo-sem-Órgãos (figura estética de Antonin Artaud, retomada como conceito filosófico por Deleuze em parceria com Félix Guattari).
Para ele, O ofício do filósofo é inventar conceitos. Assim como Nietzsche cria a personagem-conceito de Zaratustra, Deleuze afirma em L'abécédaire, entrevista dada a Claire Parnet, ter criado com Félix Guattari o conceito de ritornelo - refrão, forma de reterritorialização (povoamento), e desterritorializaçao.
Uma filosofia da imanência, dos diagramas, dos acontecimentos.
As principais influências filosóficas terão sido Nietzsche, Henri Bergson e Spinoza.
Uma das grandes contribuições de Deleuze foi ter se utilizado do cinema para expor sua forma de pensamento, através dos conceitos de imagem-movimento e imagem-tempo.
Deleuze foi um dos filósofos que teorizou as instâncias do atual e do virtual (já elaboradas por outros pensadores), construindo um olhar sobre o mundo a partir das possibilidades: "Um pouco de possível, senão sufoco" (Foucault)
Obras
Deleuze publicou estudos sobre pensadores como Nietzsche, Kant e Spinoza. Entre suas obras principais estão Nietzsche et la philosophie (1962); Proust et les signes (1964); Logique du sens (1969) Spinoza (1970); Foucault (1986); e Critique et clinique (1993).
Foucault, Michel (1926-1984)
Foucault é conhecido pelas suas críticas às instituições sociais, especialmente à psiquiatria, à medicina, às prisões, e por suas ideias e da evolução da história da sexualidade, as suas teorias gerais relativas à energia e à complexa relação entre poder e conhecimento, bem como para estudar a expressão do discurso em relação à história do pensamento ocidental, e tem sido amplamente discutido, a imagem da "morte do homem" anunciada em "As Palavras e Coisas", ou a ideia de subjetivação, reativada no interesse próprio de uma forma ainda problemática para a filosofia clássica do sujeito. Parece então que mais do que em análises da "identidade", por definição, estáticas e objetivadas, Foucault centra-se na "vida" e nos diferentes processos de subjetivação.
História da Loucura
Michel Foucault procurou, na grande maioria das suas obras, abordar problemas concretos como a insanidade (a prisão, a clínica …); num contexto muito específico geográfica e historicamente (a França, na Europa ou no Ocidente); (idade do clássica, do século XVIII, ou na Grécia antiga, etc.). No entanto, as suas observações ajudam a identificar os conceitos superiores a esses limites no tempo e no espaço. Elas conservam, assim, uma grande abrangência, tantos intelectuais - em uma variedade de áreas. Estuda a transferência, por exemplo, das técnicas de punição penal no final do século XVIII, sugerindo o surgimento de uma nova forma de subjetividade constituída pelo governo do Biopoder.
Esta perspectiva histórica não está errada. A Ontologia de Foucault é uma experiência, a prudência, um exercício sobre as paragens do nosso presente, o teste de nossos limites, o paciente como "a nossa impaciência pela liberdade", o que explica o seu interesse é o tema da relação entre o poder institucional e individual -, bem como alguma ideia de subjetivação. Esta Constituição estabelece o poder do conhecimento e é por sua vez fundada por eles: o conceito de "poder do conhecimento".
"Não há relação de poder sem constituição correlativa de um campo de conhecimento, ou que não pressupõe e constitui, ao mesmo tempo relações de poder … Estes relatórios de "poder-saber" não estão a ser analisados a partir de um conhecimento sobre o que seria livre ou não do sistema de poder, mas em vez disso, devemos considerar que o sujeito sabe, os objetos são como os efeitos dessas implicações fundamentais do poder-saber… ".
Vigiar e punir (em francês: Surveiller et Punir: Naissance de la prison) é um livro do filósofo francês Michel Foucault, publicado originalmente em 1975 e tida como uma obra que alterou o modo de pensar e fazer política social no mundo ocidental. É um exame dos mecanismos sociais e teóricos que motivaram das grandes mudanças que se produziram nos sistemas penais ocidentais durante a era moderna. É dedicado à análise da vigilância e da punição, que se encontram em várias entidades estatais (hospitais, prisões e escolas). Foca documentos históricos franceses, mas as questões sobre as quais se debruça são relevantes para as sociedades contemporâneas. É uma obra seminal que teve grande influência em intelectuais, políticos, activistas sociais e artistas.
Foucault muda a ideia habitualmente aceita de que a prisão é uma forma humanista de cumprir pena, assinalando seis princípios sobre os quais assenta o novo poder de castigar:
- Regra da quantidade mínima
- Regra da idealidade suficiente
- Regra dos efeitos (co)laterais
- Regra da certeza perfeita
- Regra da verdade comum
- Regra da especificação ideal
O livro tem quatro partes, intituladas "Suplício", "Punição", "Disciplina" e "Prisão".
- Frege, Gottlob
- Habermas, Jürgen
- Hegel, Friedrich
- Heidegger, Martin
- Kierkegaard, Søren
- Marcuse, Herbert
- Marx, Karl
- Mill, John Stuart
- Nietzsche, Friedrich
- Russell, Bertrand
- Sartre, Jean-Paul
- Schopenhauer, Arthur -
- Wittgenstein, Ludwig
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